7 de setembro de 2022

Lula muda tática e passa a atacar Ciro Gomes

Para especialistas o movimento de candidatos da chamada "terceira via" nas últimas semanas orientou a mudança de rota petista (Foto: Michel Dantas)

Em mais uma recalibragem na estratégia eleitoral, a campanha do PT à Presidência abandonou a tática de poupar Ciro Gomes (PDT) de ataques e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu ontem, de maneira escancarada, a disputa por eleitores que não apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL), abrindo uma frente pelo "voto útil".

Sem citar o nome de Ciro, terceiro colocado nas pesquisas, Lula estimulou o comando da campanha a trabalhar pela vitória ainda no primeiro turno, falou sobre os demais adversários em pronunciamento (e não apenas sobre Bolsonaro) e disse que "tem candidato" que não consegue "juntar gente" em comício.

"Eu quero dizer que, de todas as eleições, nunca tivemos a chance de resolver no primeiro turno como temos nessas eleições. E a gente não tem que ter vergonha de dizer isso, se falta apenas um tiquinho", disse Lula. "O que nós precisamos é aumentar a nossa capacidade de trabalho (...). Nós ainda não demos visibilidade à campanha de rua e é preciso que a gente dê", afirmou.

Até então, Lula orientava seus aliados a "manter o pé no chão" sobre a possível vitória no primeiro turno. Mas, além de ver a campanha estacionada nas pesquisas de intenção de voto - embora em patamar confortável;

Para especialistas, o movimento de candidatos da chamada "terceira via" nas últimas semanas orientou a mudança de rota petista.

O PT contava com o apoio de Ciro Gomes no segundo turno e, ciente de que a maioria dos votos do pedetista poderia migrar para Lula, o ex-presidente evitou até agora o embate com o ex-aliado. No debate entre presidenciáveis que ocorreu no último dia 28, Lula chegou a falar que não levava as críticas de Ciro em consideração porque "ele tem o coração mais mole do que a língua".

Ciro, por sua vez, não cedeu e se manteve no ataque, o chamando de "encantador de serpentes". No dia seguinte, ele publicou nas redes sociais comentário que colocava dúvidas sobre a saúde de Lula.

A gota d’água dentro da campanha petista foi a última entrevista de Ciro. À Jovem Pan, o candidato do PDT chamou o filho de Lula de "ladrão", negou a possibilidade de apoiar o ex-presidente no segundo turno e disse que o petista está "debilitado" e "fragilizado".

Um dia depois, veio a resposta no comando da campanha de Lula. "Infelizmente, Ciro Gomes está rasgando sua biografia. Está, nitidamente, fazendo alianças com o fascismo brasileiro", escreveu no Twitter Edinho Silva, um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula.

Pouco depois da publicação, a imprensa foi chamada para acompanhar uma declaração do ex-presidente durante a reunião de coordenação de campanha - o convite aos jornalistas para testemunhar a fala de Lula nestas ocasiões raramente acontece.

Lula, então, autorizou a busca aos votos da oposição - e não mirou o ataque só em Bolsonaro, como costuma fazer. "Além do candidato a presidente temos os candidatos da oposição. Sei que às vezes vocês (aliados da campanha) ficam chateados porque a oposição nos ataca. É normal. Eles me atacam porque eles têm medo que eu ganhe no primeiro turno."

No pronunciamento desta terça-feira, Lula citou apenas uma de suas propostas de governo já anunciadas, o "Desenrola Brasil". É justamente o programa do PT semelhante ao proposto por Ciro Gomes, para renegociação de dívidas. Ele defendeu a estratégia de "não baixar o nível" da campanha, mas sua propaganda passou a atacar Bolsonaro pelas revelações sobre o patrimônio de sua família e também pela condução da pandemia.

Lula também disse que Bolsonaro usurpa do 7 de Setembro, data em que é comemorado o Dia da Independência do Brasil, e trata a data "como se fosse uma coisa pessoal dele". "Ele, que já disse: 'as minhas Forças Armadas', ele agora está dizendo 'a minha independência'. É triste, mas é isso", criticou Lula na entrevista aos jornalistas.

De acordo com o petista, "o 7 de Setembro é uma festa de interesse de 215 milhões de brasileiros". Bolsonaro aposta na data para reunir apoiadores e demonstrar força em um cenário de desvantagem nas pesquisas de intenção de voto ao Planalto.

Lula voltou a dizer que "tem candidato que não faz comício, porque não junta gente", em referência ao presidente, mas sem mencioná-lo. "É preciso ter história, ter programa, ter compromisso para poder juntar o povo na rua e discutir com eles", afirmou.

Com informações portal O Povo Online

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