O presidente da Associação dos Prefeitos do Ceará, Dr. Júnior,
deixou o PDT para apoiar o PT (Foto: Reprodução/Facebook)
Só tem uma coisa mais rara do que a oposição vencer eleição estadual no Ceará: uma candidatura sair vitoriosa sem uma base sólida de prefeitos. Pode até não ser majoritária, mas precisa ser competitiva. Em 2006, Cid Gomes rachou a base do governo Lúcio Alcântara. Em 2002, José Airton Cirilo conseguiu adesões importantes no segundo turno, articuladas por nomes como Eunício Oliveira e Sergio Machado — não ganhou, mas passou perto. O mesmo se deu quando Eunício enfrentou Camilo Santana em 2014, com forte base de apoios. Prefeitos e deputados são os alicerces da política no Ceará. Eles se retroalimentam mutuamente nas eleições de dois em dois anos. Precisam uns dos outros, e dão sustentação ao poder estadual. Por isso a guerra de bastidores para tentar atrair prefeitos para algum dos lados.
O ex-governador Camilo Santana (PT) tem jogado pesado e tem conseguido abrir defecções dentro do grupo Ferreira Gomes. Para isso conta com dois articuladores fortes no Interior: Eunício Oliveira (MDB) e Zezinho Albuquerque (Progressistas), este último que foi importante na montagem das bases dos próprios Ferreira Gomes. O trio, mais o deputado federal José Guimarães (PT) e ainda o respaldo do Governo do Estado estruturam um respeitável suporte para Elmano Freitas (PT). Até a noite de ontem, seis prefeitos do PDT declararam apoio ao petista, e quatro disseram que iriam se desfiliar, a exemplo de Izolda Cela.
Do lado de Roberto Cláudio (PDT), a articulação nos municípios sofre sem a presença de Cid Gomes (PDT). Há sinais de certa perplexidade na base política do grupo. Um trunfo no Interior, que ontem já entrou em campo, é o candidato a vice-governador, Domingos Filho, com a força do PSD. Quando ainda havia dúvidas sobre se o partido teria a vaga de vice do PDT, integrantes de outros partidos consideravam certa e apontavam o motivo: os pedetistas precisavam do apoio de Domingos. E isso quando o rompimento com o PT ainda não estava evidente. Ontem, ele demonstrou nível considerável de coesão do partido, embora durante a noite, o prefeito de Icapuí, Lacerda Filho, tenha anunciado a saída para apoiar Elmano.
Apesar de tudo, Roberto Cláudio ainda tem a maioria das prefeituras ao seu lado. Sofreu perdas significativas, mas não a ponto de virar o jogo. As articulações seguem em curso e há contra-ataques. O prefeito petista de Quixelô, Adil Júnior, declarou apoio a Roberto Cláudio. Já próximo a RC de algum tempo, o prefeito de Milhã, Alan Macêdo (PL), foi outra adesão. O partido dele está com Capitão Wagner (União Brasil).
A articulação comandada por Camilo não quer criar um cerco apenas político contra Roberto Cláudio. O objetivo é construir também uma asfixia financeira. Coisas de grupo que ficou junto muito tempo, eles conhecem mutuamente as fontes de doações. Essa guerra de estrutura é outra das trincheiras em que o enfrentamento ocorre nos bastidores.
Nessa
disputa por prefeitos, Wagner está em desvantagem. Tem partidos, tem apoios
significativos, terá tempo e tem apoio do Governo Federal. Porém, na disputa
pelos gestores municipais a desvantagem é considerável. Ele já contabiliza um
punhado de apoios, mas longe das grandes máquinas. É, hoje, uma das duas
grandes desvantagens de uma candidatura que tem cenários bastante favoráveis.
Outra dificuldade é a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que o apoia.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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