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19 de junho de 2022

Evangélicos resistem ao pacto de conscientização contra informações falsas

Deputados e deputadas durante culto na Câmara (Foto: Cristiano Mariz)

"Promover ações de conscientização relacionadas com a tolerância política, a legitimação do pensamento divergente e consequente exclusão da violência como aspectos indispensáveis à preservação da paz social." É o que diz um trecho do termo de cooperação que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assinou com entidades e representações religiosas no começo do mês, com a intenção de desmistificar e promover informações concretas e verdadeiras sobre as eleições e as urnas. Ao dar atenção especial às religiões de diversos credos nas eleições é possível combater fake news, bem como promover a "exclusão da violência" nas mais diversas manifestações que possam conter conteúdos eleitorais. Assim, ao menos um representante de cada religião assina o acordo: matriz africana, budista, católica, espírita, evangélica, israelita e muçulmana.

Contudo, ainda há resistência ao pacto no meio evangélico. Sempre que pode, o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz ataques às urnas e às eleições — ainda que em menor frequência agora. Apesar do termo ter a intenção de proteger a integridade das urnas, nenhuma das entidades se compromete a apoiar a defesa dos dispositivos. Inclusive, no dia do encontro, ele comentou que o presidente da Corte eleitoral, ministro Edson Fachin, teria armado anteriormente contra os evangélicos. "O Fachin fala de 'paz e tolerância nas eleições', só que, no ano passado, ele tentou criar jurisprudência no TSE criminalizando a participação de religiosos e evangélicos nas eleições", afirmou em entrevista ao canal Agromais.

Fiel escudeiro de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia havia se manifestado contrariamente ao acordo. Em vídeo publicado nas redes sociais, o religioso chegou a pedir o boicote do acordo. "Líder religioso que sabe das coisas não vai cair nesse jogo", afirmou na gravação, chamando o magistrado de "esquerdopata de carteirinha".

A União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos (Unigrejas) também recebeu o convite para assinar o acordo, mas alegou não sentir-se confortável. "Neste momento, na busca de temperança e na representação de mais de 50 mil pastores e igrejas, resolvemos ficar como observadores do evento, posto que há temas sensíveis em pauta, como o chamado combate à desinformação. É importante lembrarmos que a democracia se fortalece na pluralidade política, e a liberdade religiosa e de expressão são fundamentais para a República", explicou, em nota, o presidente da entidade, bispo Eduardo Bravo.

Para o presidente da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), o TSE ignora parte da história e não conhece o que significa ser religioso. Segundo ele, os evangélicos sabem muito bem o que é o Estado laico. "O que nem o TSE e nem ninguém nunca vai separar são os cidadãos de seus valores e conceitos. Todos nós, sejamos religiosos ou não, temos conceitos, valores que jamais serão divorciados da cidadania", disse ao Correio.

Segundo o parlamentar, os evangélicos são cidadãos como quaisquer outros, que pagam impostos e precisam ser respeitados. Para ele, é natural que, como cidadãos, tenham poder de influenciar e participar do exercício eleitoral. "Nós, evangélicos, sempre fomos ordeiros e amantes de tudo que é legal. Nada vai alterar para os evangélicos e, se algum deles, seja líder ou candidato, desrespeitar algum item da legislação eleitoral, que seja punido pelo que está escrito na lei, não por aquilo que não está escrito."

Uma fiel de uma igreja neopentecostal, ouvida pela reportagem, em condição de anonimato, afirmou que alguns dos líderes religiosos de sua denominação evangélica falam da importância em manter o presidente Bolsonaro no poder. Segundo o relato, o chefe do Executivo é o único que mantém as pautas de costume, caras ao eleitorado evangélico. Por isso, pedem para que votem em Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre o assunto, Sóstenes Cavalcante afirmou que o posicionamento dos líderes religiosos não é considerado uma infração, mas uma "conscientização do que eles acreditam como sendo cidadania". "É importante que a Igreja faça esse tipo de conscientização através de seus líderes, ou seja, pastores, ou outro tipo de liderança eclesiástica, para que amadureça o conceito de cidadania, inclusive do povo evangélico. Por muito tempo, nós, evangélicos, negamos um pouco esse exercício de cidadania", continuou.

Não à toa, Bolsonaro lidera as pesquisas eleitorais no meio evangélico, ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteja encostando nas porcentagens do atual chefe do Executivo. Segundo a última pesquisa de intenção de voto do Ipespe, o presidente tem 47% das intenções de voto neste segmento contra 32% do petista.

"A questão de cada contingente de filiação religiosa tem a ver exatamente com a natureza da relação entre os fiéis e a hierarquia entre as religiões. O espiritismo não tem hierarquia. Portanto, a chance de os eleitores que frequentam esse segmento serem guiados do ponto de vista político eleitoral é muito pequena", explica o cientista político, sociólogo e presidente do conselho do Ipespe Antonio Lavareda.

O especialista ainda aponta que, no caso dos católicos, o fenômeno está relacionado à frequência nos cultos. Segundo ele, apesar dessa denominação ter um grande contingente, vão menos ou são bastante esporádicas as presenças nas igrejas. Logo, a "capacidade de influência é muito pequena do ponto de vista político eleitoral".

Já no segmento evangélico, especialmente nas igrejas neopentecostais, a frequência de fiéis à hierarquia é muito elevada. "As pessoas frequentam mais de duas vezes por semana, é uma relação muito estreita. Isso possibilita uma influência maior sobre o voto desses fiéis. A natureza do relacionamento do fiel com a respectiva igreja e a assiduidade é uma variável", afirma.

Com informações portal Correio Braziliense

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