3 de maio de 2022

A fala de Wagner e a resposta de Camilo por Érico Firmo

A fala de Wagner foi contundente e a de Camilo não deixou por menos (Fotos: Reprodução/Facebook)

Foi repleto de simbolismos o evento do União Brasil em Sobral, no sábado. Os discursos, como regra, trataram o atual ciclo político como período de 36 anos. Ou seja, desde a posse de Tasso Jereissati (PSDB) no primeiro mandato, em 1987. Curioso esse aspecto, porque Tasso foi aliado de Capitão Wagner nas eleições de 2014, 2016 e 2018. Afastaram-se em 2020 e romperam definitivamente após entrevista de Tasso às Páginas Azuis, do O POVO, no início do ano.

Wagner reforçou a tese de perspectiva de definição da eleição em 1º turno. Mencionou isso diante do cenário possível de apenas três candidaturas ao governo — do PDT, do Psol e a dele próprio. Não deu, assim, muito cabimento à movimentação do PL, que cogita ter uma candidatura.

O Capitão também se disse preocupado com o "radicalismo na eleição" e garantiu que da parte dele não haverá baixaria. "Aqui ninguém vai falar da mãe de ninguém. Nós temos nível." Cutucou Ciro Gomes (PDT), afirmando que não irá criticá-lo enquanto faz o mesmo. E apontou: "Estou pedindo a Deus todo dia que a eleição aconteça em paz."

Porém, nenhuma fala foi tão significativa quanto a que tratou da disputa interna do PDT para escolher o nome na disputa. "Hoje a preocupação deles é uma grande briga interna para decidir quem vai ser o poste que eles vão colocar lá", disse, provocativo. "Quem é que eles vão colocar lá que vai obedecer às ordens deles", completou.

A fala teve pronta resposta do ex-governador Camilo Santana (PT), o que também tem sua simbologia.

O papel de Camilo

A fala de Wagner foi contundente, e a de Camilo não deixou por menos. "Ótimo para o Ceará que quem esse senhor chama de 'poste' não faz motim, nem apoia Bolsonaro, suas especialidades. Fascistas e arrogantes terão a resposta do povo nas urnas".

Mais que a resposta em si, destaco o fato de Camilo ter sido o escalado para responder. Haveria algumas alternativas. Algum dos pré-candidatos, por exemplo. Mas, se fosse um deles, poderia precipitar uma polarização. Até porque quem fosse escolhido estaria no rol dos chamados “poste”.

Poderia ser a governadora Izolda Cela (PDT), mas ela está nessa condição de pré-candidata, entra no balaio dos chamados de “poste”. E é a governadora. É compreensível que não tenham optado por colocá-la para ir para o embate.

Wagner é nome já definido para ser candidato. Na base governista, quem já está também apontado é Camilo, para o Senado. Então, há uma lógica em ser ele a opção. E é uma pista do papel que ele — que sai bastante popular — poderá ter na eleição. Ele já fez isso em 2020, ao polarizar com Wagner mesmo quando não declarava apoio a nenhum candidato. Porque queria apoiar José Sarto (PDT), mas o partido dele lançou Luizianne Lins (PT).

O aspecto curioso nesse papel de Camilo é que ele, petista, foi defender uma escolha que, a rigor, é do PDT. Poderia ter sido Cid Gomes, por exemplo, a se manifestar. O evento, vale lembrar, é em Sobral. Porém, fatores acima citados tornaram o petista mais adequado para a tarefa. O embate na tarde de sábado talvez tenha sido, de certa forma, o primeiro confronto direto de futuros candidatos da eleição no Ceará.

Sem moderação

Os estrategistas do bolsonarismo que pretendiam manter o presidente sob relativo controle e mais moderado parecem ter perdido a disputa interna. Voltou o Jair Bolsonaro (PL) incendiário, que confronta instituições e incendeia os radicais da base dele. Ao menos por enquanto. Não dá trabalho o presidente mudar de novo de estilo até a eleição, e seguir alternando nas idas e vindas.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

 

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