1 de abril de 2022

Movimentos de Doria, Ciro e Moro mostram dificuldades da terceira via

 

Dória quase desiste, Moro desistiu, mas Ciro manteve-se firme na disputa (Foto: reprodução/Twitter)

Os movimentos de João Doria (PSDB) e Sergio Moro (União Brasil) ontem (31/03) indicam uma tentativa de reduzir o número de candidatos na chamada terceira via na corrida pela Presidência da República. Enquanto o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro anunciou desistência de se candidatar ao Planalto - Moro vai postular mandato de deputado federal -, o agora ex-governador de São Paulo recuou na decisão de não concorrer à sucessão presidencial.

Simultâneos, os gestos sugerem que Doria e Moro, que mantinham estreito diálogo desde o início do ano, podem ter acertado entendimento a fim de que o caminho para esse campo político se torne menos acidentado na busca de uma candidatura em torno da qual os partidos se aglutinem.

Também ontem, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), outro que briga por espaço nas eleições de 2022, reiterou que é pré-candidato. Pelas redes sociais, o pedetista ironizou: "Muitos vão ceder, mas não serei eu".

Trata-se de uma referência à desistência de Moro, com quem ele vinha se alternando na terceira colocação nas pesquisas de intenção de voto, muito atrás do ex-presidente Lula (PT) e do atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), cuja diferença em relação ao petista vem diminuindo.

Antes da manifestação de Ciro, Moro já havia anunciado a saída do pleito para o Executivo nacional. "O Brasil precisa de uma alternativa que livre o país dos extremos, da instabilidade e da radicalização", disse.

Em seguida, o ex-juiz declarou ter aceitado convite do União Brasil para se filiar e "facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única".

"Para ingressar no novo partido", prosseguiu Moro, "abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor".

No mesmo tom, Doria, em evento ao lado de prefeitos em São Paulo, renunciou ao Governo defendendo que "é hora de virar uma frente ampla e um time poderoso pelo Brasil e pelos brasileiros".

"Construir, sim, a melhor via para o nosso país. E a melhor via é a via da união, da serenidade, do bom senso, da compreensão e da liberdade", acrescentou o paulista.

Dentro do PSDB, Doria enfrenta resistência de setores expressivos, parte dos quais ligada ao deputado federal Aécio Neves (MG), adversário do tucano, mas também ao senador cearense Tasso Jereissati.

Mesmo as prévias, realizadas em novembro do ano passado, não pacificaram a legenda, como evidenciou a renúncia de Eduardo Leite ao governo do Rio Grande do Sul para se colocar à disposição dos partidos que tentam costurar uma aliança para furar a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Em meio a essas tensões, Doria chegou a comunicar na quarta passada a seu vice, Rodrigo Garcia, que não iria mais deixar a administração de São Paulo. O rumor causou desconforto no partido, mas durou menos de 24 horas.

Apenas ontem o presidente da legenda, Bruno Araújo, divulgou nota em que afirmou que "as prévias serão respeitadas pelo partido" e que "o governador tem a legenda para disputar a presidência da República".

Foi nessa condição que Doria discursou nessa quinta. Chancelado pela vitória no processo interno e pelo apoio expresso do comando da sigla social-democrata, despediu-se do governo com críticas fortes aos líderes da disputa presidencial até aqui.

"A pressão dessa força de extremistas tem deixado difícil a construção de um consenso de uma aliança nacional contra os erros do petismo e do bolsonarismo. Vamos, sim, defender a democracia e a liberdade do Brasil", atacou. "Vamos vencer o populismo, a maldade, a adversidade e a corrupção", completou Doria.

Para o cientista político e professor Rodrigo Prando, contudo, "a terceira via é muito mais um desejo dos analistas e dos formadores de opinião do que de fato um projeto que conseguiria conjugar candidaturas e figuras distintas do campo político e com trajetórias também tão distintas, como seriam o caso do Moro, do Ciro e do Doria".

De acordo com o pesquisador, essa quinta foi exemplar das dificuldades que esse grupo enfrenta, a exemplo do movimento de Moro, que optou "por uma saída eleitoralmente mais viável para ele", deixando de lado a pretensão de sair candidato a presidente.

Com informações portal O Povo Online

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