Para a colunista a Educação nunca foi o forte do governo Bolsonaro (Foto: Rafaela Felicciano) |
Desde semana passada o modus operandi do Ministério da Educação vai chegando ao conhecimento público quanto à forma como são utilizados os recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela execução das políticas voltadas para dar qualidade à educação no Brasil. O FNDE contempla o programa do livro didático, concede recursos para transporte, alimentação, equipamentos entre muitas demandas que a gestão escolar requer. Por tudo isso, é nauseante ouvir a voz do ministro Milton Ribeiro falar do compromisso de apoiar o pastor Gilmar Santos, a pedido do chefe, Jair Bolsonaro.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar", afirma o ministro no áudio reproduzido ontem e publicado em todos os lugares. O ministro demorou muitas horas para negar que tivesse favorecido o pastor Gilmar Santos, embora o áudio seja cristalino. Há quatro dias, Ribeiro havia demitido um assessor que era elo entre os pastores Gilmar Lima e Arilton Moura no caso suspeito de negociação de verbas federais da educação.
Educação nunca foi o forte do governo Bolsonaro. Basta lembrar a mania que tem este governo de colocar pessoas que não parecem ter muito gosto pela educação, mas, sim, pela guerra ideológica que domina o entorno bolsonariano. É necessário que essas pessoas não questionem nada, que aceitem ordens passivamente e que abstraiam qualquer noção do bom senso com a gestão pública na área da educação.
Com esse perfil tivemos Ricardo Vélez Rodríguez, um verdadeiro desastre incluindo o tempo gasto na queda de braços com os discípulos do guru Olavo de Carvalho, responsável pela indicação de Vélez. Demitido, Bolsonaro escolheu Abraham Weintraub, uma tragédia ambulante. Deselegante, sem freios, limites ou educação. Saiu às pressas do ministério depois de desacatar o STF e, entra no seu lugar Milton Ribeiro, que atuou como reitor da Universidade Presbiteriana Mackenze, tem carreira acadêmica e religiosa e em tese deveria ser um quadro diferenciado.
No entanto, a forma passiva como o ministro Milton Ribeiro se entrega aos caprichos de Bolsonaro, parecendo aceitar como se fosse coisa ética entregar dinheiro público voltado à Educação para amigos do presidente cumprirem uma agenda eleitoreiro-religiosa fere os dois lugares onde o ministro transita: o de gestor público e o de religioso.
Não
poderia o ministro Milton Ribeiro em nome de uma ética pessoal cidadã ou
profissional de homem público negar tal pedido, alertando o presidente que este
atalho é justamente o contrário do que ele foi eleito prometendo acabar? Em
nota divulgada ontem, o ministro negou o que disse no áudio afirmando que o
presidente havia apenas pedido que "recebesse todos os que nos
procurassem, inclusive as pessoas citadas".
No áudio a conversa é tão outra. O ministro parece dócil e ao mesmo tempo tão seguro da sua missão. É uma pena ver o ministro da Educação envolvido nesse dilema quando o Brasil está retornando da pandemia e a área que a pasta dele cuida é justamente aquela que mais deixou sequelas entre os brasileiros, principalmente os que mais precisam.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
Leia também:
Milton Ribeiro balança no cargo após revelação de gabinete paralelo no MEC
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.