Bolsonaro disse que buscas ampliar a relação comercial, mas especialista enxergam outros objetivos (Foto: Alan Santos) |
O presidente desembarcou na terça-feira (15/02) em Moscou, fez reuniões e um pronunciamento na quarta-feira, e seguiu com a comitiva presidencial para Budapeste, nesta quinta, onde deve permanecer até hoje (18/02).
Negociada em novembro do ano passado pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, a viagem de Bolsonaro à Hungria foi recebida com naturalidade por analistas. Embora tenha ocorrido em meio a um conflito bélico, parece compreensível que o presidente busque os líderes do leste europeu para reconstruir a sua agenda política internacional. Também segundo os analistas, o chefe do Executivo tenta mostrar para a sua base que o Brasil possui abertura internacional — mesmo que esses países tenham sérios problemas com a democracia.
A visita a Orbán, o primeiro-ministro húngaro de extrema direita, mais parece aproximação com esse grupo político global do que interesse econômico. Já o presidente húngaro, János Áder, aliás, vai disputar pela quarta vez consecutiva as eleições do país, marcadas para o início de abril.
O especialista em relações internacionais, Pedro Feliú Ribeiro, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), analisa que os efeitos da visita presidencial são percebidos com bons olhos pelos eleitores conservadores do presidente brasileiro, uma vez que Orbán é um dos principais líderes do conservadorismo internacional.
“A viagem [do presidente] é permeada por uma aliança ideológica com valores muito associados à extrema direita, movimento internacional capitaneado por alguns milionários e que tem a liderança do americano Steve Banon, que já é aliado reconhecido da família Bolsonaro”, analisa.
Não é difícil compreender certos interesses de membros da comitiva em conhecimento e negócios na área de tecnologia da informação. “Sem dúvida, essa pauta conservadora traz a certeza de como essa aliança pode auxiliar nas eleições. Eles estão fortalecendo uma rede que financia, produz, tem contatos para fazer disparos em redes sociais de uma maneira sigilosa para barrar efeitos de regulamentações”, explica Ribeiro.
David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor de Relações Internacionais da PUC-SP, afirma que a Hungria de Orbán é o exemplo melhor sucedido da ascensão da chamada “direita radical populista” no mundo. O primeiro ministro húngaro conseguiu mudar todo o poder Judiciário por meio da aposentadoria compulsória dos que lá estavam, controlou a imprensa local e promoveu o que o próprio chamou de “democracia iliberal húngara”, onde as minorias deveriam se submeter às vontades da maioria.
“O Orbán construiu uma direita radical populista muito bem sucedida no projeto de destruir a democracia liberal húngara. Ele conseguiu fazer uma terraplanagem nas instituições e em direitos de minorias para consolidar o que ele chama de ‘democracia iliberal húngara’. É democrático no sentido de ter a maioria, mas é iliberal no sentido de que as minorias se submetam, percam direitos e não tenham voz.”
Magalhães diz ainda que “Orbán é o que Bolsonaro queria ser” e detalha algumas semelhanças entre os dois líderes.
“Jair Bolsonaro não conseguiu ter força política para fazer o que o Viktor Orbán fez na Hungria, que é passar o trator nas outras instituições e poderes. Ele [Bolsonaro] também fez discurso de que as minorias devem se adequar às maiorias. Ambos são ultraconservadores e o nacionalismo religioso-cristão do Orbán guarda muita semelhança ao tradicionalismo religioso do bolsonarismo, além de ambos serem governos anticomunistas”, comparou.
A Hungria foi o 108º colocado no ranking mundial de exportação e ocupou o 54º lugar na importação brasileira em 2021. No continente europeu, próximo à Rússia, há países como França, Holanda, Itália e Espanha que são grandes parceiros comerciais do Brasil, mas o presidente priorizou um encontro ideológico com Viktor Orbán. Segundo os especialistas, portanto, é uma estratégia para mostrar que o Brasil não está isolado no exterior e uma busca de apoio internacional para as eleições de outubro.
Com
informações portal Correio Braziliense
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