Bolsonaro
realizou uma coletiva de imprensa no fim da tarde no Forte dos Andradas no litoral
paulista (Foto: Reprodução/Facebook)
Duramente criticado desde a eclosão da guerra na Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro — e o governo brasileiro, por consequência — vem tentando demonstrar uma posição coerente na comunidade internacional. O ataque promovido por Vladimir Putin, no entanto, tem provocado desgastes políticos até dentro do governo — basta lembrar a divergência entre Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão, claramente contrário à operação militar na Rússia.
O agravamento do conflito aumenta o risco de graves consequências econômicas e torna o campo político mais minado para o presidente. A guerra na Ucrânia pode afetar diretamente a economia com o aumento dos combustíveis, da farinha de trigo e dos fertilizantes dos quais o Brasil é dependente para desenvolver o agronegócio.
Como a economia é um dos principais fatores a serem considerados pela população nas eleições deste ano, analistas veem no conflito europeu um fator de potencial desgaste para Bolsonaro na corrida à reeleição.
Na internet, a popularidade do presidente sofreu abalo após a invasão russa à Ucrânia. No dia 24, segundo o levantamento da Modalmais/AP Exata, a rejeição do chefe do Executivo no Twitter chegou a 77% por conta do conflito. Na quarta, o índice havia encerrado o dia em 64%.
As
menções positivas ao chefe do Executivo caíram abruptamente, junto à confiança
(de 15% para 9,9%). Jà o medo (de 18,4% para 25,4%) e a raiva (de 15% para
18,5%) dispararam.
Entre os adversários políticos, o bombardeio foi pesado. Lula, Sergio Moro, Ciro Gomes, João Doria e Simone Tebet criticaram de forma veemente a postura do presidente. Em resposta aos ataques, o titular do Planalto se manifestou. Primeiramente nas redes sociais, e em seguida no Guarujá, onde passa o feriado do carnaval. Destacou as posições do Brasil na ONU e ressaltou a neutralidade do país ante o conflito no leste europeu.
Analistas ouvidos pelo Correio avaliam o desgaste do presidente no contexto da guerra da Ucrânia. Bruno Scobino, especialista em relações internacionais, aponta que, apesar de o Brasil ter se posicionado pela retirada das tropas russas da Ucrânia durante votação de resoluções na ONU, a postura neutra do presidente ameaça sua popularidade, e consequentemente, o seu desempenho nas próximas eleições.
"Colocar-se contra a Rússia geraria uma indisposição diplomática. Por outro lado, Bolsonaro sempre defendeu a soberania estatal e o liberalismo. Posicionar-se em prol da Rússia é colocar-se contra a maioria dos países ocidentais e contra o discurso que o elegeu, também comprometendo sua popularidade", observa.
Scobino relata o possível cenário econômico, com possíveis consequências negativas para o governo Bolsonaro. "A Rússia possui a segunda maior reserva de petróleo do planeta. Em caso de uma escalada nas tensões, podemos viver um novo choque do petróleo, com o aumento artificial do preço do barril e com a Petrobras vendendo a preço de mercado, a inflação brasileira tenderia a subir ao nível de nos preocuparmos com desabastecimentos", completa.
André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria, avalia os riscos da resistência do presidente em externar uma postura mais firme. "Como presidente, ele precisa se pronunciar. O bolso do brasileiro, pressionado pela alta dos preços, será o principal tema desse pleito eleitoral. E o impacto econômico já está dado", analisa.
O cientista político Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria, joga luz sobre os possíveis desgastes do Brasil no contexto internacional, particularmente na relação com os Estados Unidos. Na semana que o presidente Bolsonaro visitou Vladimir Putin, quando a invasão à Ucrânia era iminente, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que "o Brasil parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global". Em nota, o Itamaraty afirmou que "não considera construtivas, nem úteis, portanto, extrapolações semelhantes a respeito da fala do presidente".
Na avaliação de André César, a troca de farpas reflete uma situação particular envolvendo os governos de Brasil e Estados Unidos devido a política externa "personalista" adotada pelo governo Bolsonaro. "O governo não prioriza sua política externa a partir de política de Estado, mas sim por preferências pessoais e ideológicas de Bolsonaro", observa o analista. "Qual mensagem o Brasil passa com essa visita no momento em que duas potências (Rússia e Estados Unidos) estão com elevado nível de sensibilidade militar? Essas escolhas de Bolsonaro acabam tendo reflexos como o comunicado da Casa Branca", explica o especialista.
Para confirmar sua análise, André César lembra que a proximidade entre Brasil e Estados Unidos se dava não por uma convergência entre as agendas dos dois países, mas sim, por alinhamento ideológico a Trump.
Com
informações portal Correio Braziliense
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