31 de dezembro de 2021

O que pode mudar até a eleição por Érico Firmo

Todas as pesquisas apontam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seria eleito presidente para o terceiro mandato se a eleição fosse hoje. Talvez até no primeiro turno. Mas, a eleição não é hoje, há toda uma campanha pela frente. E mais de um semestre até começar a oficialização dos candidatos. As pesquisas mostram o presidente Jair Bolsonaro muito atrás, sem sinais de recuperação à vista, mas também sem ser ameaçado por uma terceira força.

Algumas pessoas avaliam que esse cenário dificilmente muda até a eleição. Sobretudo em relação à disputa se centrar em Lula e Bolsonaro. Isso desde simples eleitores, militantes, até o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um bolsonarista, aliás. Esse é um primeiro ponto a considerar. Tanto apoiadores de Lula quanto de Bolsonaro acreditam, torcem e trabalham por uma disputa entre os dois. Sabem que um eventual outro nome no segundo turno tornaria o quadro mais imprevisível. Com chance de virar uma onda. Essas avaliações embutem torcida. O que não significa que estejam erradas. Está difícil aparecer terceira via mesmo.

Uma coisa certa é que falta muito até a eleição. Bastante coisa pode mudar. Coisa demais. Aliás, diria que com certeza haverá mudanças daqui até outubro. Um aspecto importante: a maioria da população ainda não está pensando na eleição. Então, as pesquisas a essa altura podem enganar. Por outro lado, é igualmente fato que essa talvez seja a eleição que mais tem tido clima antecipado.

O que já mudou da virada do ano até a eleição

Em oito eleições pós-redemocratização, só em três quem virou o ano na frente nas pesquisas foi eleito presidente. Isso ocorreu em 1998, 2002 e 2014. Neste século, apenas Lula em 2002 e Dilma Rousseff (PT) em 2014 estavam na liderança na última pesquisa no ano anterior e foram eleitos. Em 2005, na última pesquisa Datafolha do ano e sob efeito do mensalão, sabe quem liderava? José Serra (PSDB). Que nem foi candidato no ano seguinte, porque o PSDB escolheu Geraldo Alckmin, que agora deverá ser vice de Lula. Em 2009, Serra liderava no fim do ano, mas Dilma levou em 2010. Em 2017, Lula liderava, mas teve a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018. Ou seja, das quatro últimas eleições, quem liderava no fim de um ano não foi eleito no outro. O que isso quer dizer para 2022? Nada, afora o fato de que nada está definido. Muita coisa pode mudar. Inclusive, quem aparece agora nas pesquisas pode nem ser candidato, e outros podem surgir.

Terceira via é projeto já fracassado?

Falta muito tempo até a eleição e jamais diria que algo já está consumado. Mas, outra coisa que o histórico mostra é que, neste século, ninguém que não estava na briga na virada do ano despontou para a vitória. Isso ocorreu em 1989 e 1994. Desde então, o vencedor de todas as eleições já era pelo menos o segundo colocado no fim do ano anterior. Isso significa que a disputa definitivamente está entre Lula e Bolsonaro? Não, mas mostra que é difícil alguém despontar e se firmar. Até aconteceu, em 2002, de Anthony Garotinho crescer e ser terceiro colocado. Em 2010, Marina Silva também mostrou força no terceiro lugar. Mas, não a ponto de ir ao segundo turno.

O que pode Bolsonaro?

Bolsonaro vai mal nas pesquisas. Isso significa que está derrotado? De forma alguma. Tem a máquina, e não é pouca coisa. Vale lembrar: todos os presidentes que tentaram a reeleição, até hoje, foram vitoriosos. O Auxílio Brasil ainda é novidade. Não me surpreenderei se o governo derramar dinheiro em 2022. E, veremos que novidades Carlos Bolsonaro e seus “consultores” preparam nas redes sociais. Não imagino apenas mais do mesmo. Deveremos ter “inovações”. Esse pessoal é criativo. Bolsonaro tem base fiel e que consegue atrair votos para o candidato. O problema maior é a economia. Difícil pensar em reeleição com os preços nos supermercados como estão, com a energia como está, os combustíveis. Não adianta Bolsonaro culpar governadores, Supremo Tribunal, a China, o comunismo. Não dá para dizer que não pode fazer nada. Eleitor não quer desculpa ou explicação, quer solução. Se a economia como todo estiver ruim, não penso que soluções complementares, como transferência de renda, salvem o governo.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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