A atriz Tais Araujo fala durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro (Foto: Daniel Ramalho) |
Estreia
do ator Lázaro Ramos na direção, o filme segue sem previsão de lançamento
comercial, em meio a dificuldades com a Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Foi exibido pela primeira vez no Brasil durante o 23º Festival Internacional de
Cinema do Rio, com uma calorosa recepção.
A
liberação para o público geral depende da Ancine, que há mais de um ano não dá
retorno conclusivo aos recursos submetidos pela produção, segundo sua
assessoria. Desde que o imbróglio veio à público, a agência tem sido acusada de
censura velada ao filme, em especial por opositores ao governo do presidente
Jair Bolsonaro (PL).
"Não vou dizer se é burocracia, ou censura, qualquer um dos dois é um entrave para a cultura", declarou Lázaro Ramos em debate posterior a uma exibição no festival.
Em
abril, Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares, de promoção da
cultura afro-brasileira, pediu boicote ao longa, descrevendo-o como "pura
lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente".
A
obra já rodou o mundo em festivais, com uma ótima recepção pela crítica e prêmios
no Indie Memphis Film Festival, no Pan African Film (ambos nos Estados Unidos),
no Festival de Huelva (Espanha) e no Festin Festival (Lisboa).
"O propósito do filme é sensibilizar. Quero que a pessoa assista, chore e pense que ela é capaz de fazer alguma coisa na luta antirracista. Quero que a pessoa sorria e se sinta forte", afirma Lázaro, que apontou que a narrativa brinca com sua linguagem, passeando entre o drama, a comédia e o thriller.
No Festival do Rio, o elenco e a equipe viram pela primeira vez a reação do público brasileiro. "Foi muito emocionante", conta atriz Taís Araújo. Ela interpreta a médica Capitu, casada com o advogado Antônio, papel do anglo-brasileiro Alfred Enoch, conhecido por "Harry Potter" e "How to Get Away with Murder".
Sua
personagem é uma "mulher negra que inicialmente não está a fim de falar
sobre racismo, só quer se dar o direito de viver, mas a vida chama e ela
precisa mergulhar" no tema, explicou.
"Medida" é uma adaptação da peça "Namíbia, não!", de 2011, também dirigida por Lázaro Ramos e escrita por Aldri Anunciação, que também é ator e corroterista do longa.
A Ancine alega que o projeto está em "fase de análise do pedido de investimento para a sua distribuição em salas de cinema" e segue o "trâmite normal". A produção rebateu, detalhando que o que impede o lançamento é "a demora da Ancine em concluir os trâmites necessários para a troca de distribuidora do filme", pedido feito no fim de 2020.
A
área técnica do órgão não encontrou nenhum obstáculo e já deu sinal verde, mas
ainda falta aprovação final de sua Superintendência de Fomento, segundo a
advogada do filme.
Assim,
a data de estreia já precisou ser alterada duas vezes. Por ter recursos do
Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) investidos em sua produção, esclareceu ela,
o primeiro destino comercial do longa precisa ser o cinema.
O caso lembra o ocorrido com "Marighella", sobre o guerrilheiro Carlos Marighella, morto pela ditadura militar. Dirigido por Wagner Moura, o filme teve dois recursos negados pela Ancine em 2019.
Em
julho do mesmo ano, Bolsonaro havia expressado o desejo de filtrar produções do
cinema nacional. "Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine.
Privatizaremos, ou extinguiremos", afirmou o presidente.
Atrasado
ainda pela pandemia, "Marighella" - protagonizado por Seu
Jorge - que também atua em "Medida Provisória", no papel do
jornalista André - acabou estreando em novembro deste ano.
Questionado sobre as dificuldades de se abordar temáticas sociais no Brasil, Lázaro Ramos ressaltou o papel da arte: "A gente não vai parar de debater, porque é um tema importante, é pensar como esse país foi construído [...] A arte é muito poderosa, a gente não pode abrir mão desse lugar".
Com
informações portal O Povo Online
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