6 de dezembro de 2021

Ex-aliados, Bolsonaro e Moro viram "artilharias" um para o outro

 

Para especialistas, reação de Bolsonaro já sinaliza uma "luz amarela" diante do crescimento de Moro (Foto: Dida Sampaio)

Ex-aliados vivendo em rota de colisão desde abril do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) subiram de vez o tom das críticas mútuas nos últimos dias. Entre diversas acusações e ameaças, acirramento já sugere que um elegeu o outro como adversário prioritário para o 1º turno da disputa de 2022.

"O que a gente sabia é que o Planalto, o presidente, comemorou quando o Lula foi solto, em 2019, porque ele entendia que aquilo o beneficiava literalmente", disse Moro na última quinta-feira, em entrevista à Rádio Jovem Pan do Paraná. Na mesma fala, ele ainda diz que Bolsonaro "sabotou" o seu trabalho enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública.

As respostas do presidente vieram poucas horas depois, durante transmissão ao vivo realizada por Bolsonaro nas redes sociais. "Esse cara está mentindo descaradamente. Quer ser candidato, é um direito dele (...) faz um papel de palhaço, sem caráter, está se comportando como um jornalista da Folha ou do Antagonista. Está de brincadeira", disse.

Na transmissão, Bolsonaro chega a sugerir que pessoas ligadas a Moro na Lava Jato teriam silenciado diante de vazamentos de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ligados à família do presidente. "Onde deviam tomar uma providência, sorriam. Esse é o Sergio Moro", disse, prometendo voltar ao assunto em lives futuras.

Para especialistas, reação de Bolsonaro já sinaliza uma "luz amarela" no Planalto diante do crescimento de Moro em pesquisas de opinião. "A gente sabe que o Palácio do Planalto sempre tem pesquisas internas, e essas pesquisas certamente já evidenciam o crescimento do ex-ministro Sergio Moro, e um crescimento principalmente em cima do eleitorado do Bolsonaro", diz Cleyton Monte, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Bolsonaro sabe que Moro não avança sobre um eleitor progressista", diz. "É aquele eleitor que está, de certa forma, frustrado com o governo, que não vê a realização de reformas, que tem essa visão que o presidente é conivente com a corrupção. Tudo isso facilita essa migração desse eleitor bolsonarista, o que passa a ser visto como um problema para o presidente", diz, destacando ainda que, mesmo sem fazer campanha, Moro já parte nas primeiras pesquisas de um patamar de 11% das intenções de voto.

Um dos principais aliados de Bolsonaro no Ceará, o deputado estadual André Fernandes (PL) tem minimizado entrada de Moro na disputa e o impacto disso no eleitorado do presidente. "Desde o começo todos os conservadores sabiam que o Moro não era conservador. A gente gostava do Moro, o admirava, porque via que ele teve coragem de peitar o sistema e colocar o Lula na cadeia. Mas ele não tem nada de conservador, não teve nenhuma atitude conservadora no Ministério", afirma.

"O voto do Sergio Moro vai ter é aquele um pouco mais de centro, como o João Doria. Então é esse povo, que diz 'nem Lula nem Bolsonaro', que vota de repente no Sergio Moro. Mas nada que atrapalha no final, porque vai ser alguém do Lula ou o próprio Lula contra o Bolsonaro, e aí no segundo turno ninguém quer o Lula de volta", diz ainda Fernandes.

Com informações portal O Povo Online

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