O Pacto de Glasgow foi entendido por defensores do clima como pouco ambicioso (Foto: Yves Herma) |
A Conferência Climática das Nações Unidas (COP 26) termina com saldo positivo ou negativo? Depende de para quem se pergunta. O primeiro-ministro britânico e anfitrião, Boris Johnson, dirá que essa edição teve momentos importantes a favor da luta climática. Já ativistas como a sueca Greta Thunberg, usariam os adjetivos "fracasso" e "excludente" para sintetizar as medidas e questionar a falta de acesso de alguns grupos ao evento. Nem histórica, nem decepcionante; a COP 26 atingiu algumas expectativas e frustrou outras.
O evento chega ao fim com alguns acordos, mas repleta de interrogações sobre como alcançá-los e manter as metas do Acordo de Paris para conter o aumento da temperatura global. A ideia de Paris, estabilizar os níveis de aquecimento abaixo de 2ºC em relação à era pré-industrial e preferencialmente "limitar este aumento a 1,5ºC" até o fim do século, ainda parece uma realidade distante apesar das promessas vistas na COP 26.
A conferência registrou anúncios importantes com países como Argentina, Brasil e Índia revendo metas de redução de emissões; centenas de governos comprometendo-se a cessar o desmatamento até 2030 e a criar planos para emitir 30% menos metano e países dispostos a abolir o carvão na produção de energia. Mas, na prática, a COP 26 trouxe mais declarações de intenção do que formas de alcançar esses objetivos.
Elze Rodrigues, professora de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, avalia que a COP 26 fica marcada pelo "greenwashing" e pelo "descompasso entre governos e sociedade civil organizada". Em tradução literal, o termo em inglês significa "lavagem verde" e se refere às práticas de governos e empresas que se apropriam da pauta ambiental com discursos, mas sem práticas efetivas. A defesa desses temas serviria apenas para vender uma imagem sustentável visando outros tipos de lucro.
Rodrigues aponta que a ideia de que os problemas climáticos não afetam a nossa geração diretamente, prejudica a sensação de urgência em tomar medidas amplas. "A atitude que é tomada para empurrar com a barriga e protelar, é mais sofisticada do que há algumas décadas. Então podemos encarar o greenwashing como essa sofisticação", explica.
Para Elze, a COP também explanou a falta de convergência nos ritmos de governantes e sociedades. "Enquanto organizações intergovernamentais seguem passos vagarosos, com negociações truncadas e acordos superficiais, nos espaços da sociedade civil as medidas são visualizadas de forma mais ágil e com a urgência que o tema pede", aponta.
Fato é que a Conferência do Clima não pecará pela falta de avisos. Enquanto delegados de cerca de 200 países tentavam resolver divergências para firmar acordos em Glasgow, na Escócia, milhares de pessoas protestavam nas ruas contra a insuficiência das medidas.
De um dos extremos do planeta, veio um dos maiores e mais simbólicos exemplos dessa COP. O chanceler de Tuvalu, Simon Kofe, mostrou na prática a urgência da pauta ambiental e as consequências de postergá-la. Em um vídeo pré-gravado, discursou de terno e gravata em um púlpito onde aparecia com água do mar até os joelhos. Mais que simbólica, a iniciativa é um alerta.
A ilha de Tuvalu, no Pacífico, pode literalmente ser engolida pelo oceano e desaparecer na próxima década. O vídeo do ministro entra para a história como exemplo do quanto o aquecimento global prejudica sobretudo as menores economias.
Fabio
Gentile, cientista político com PhD pela Universidade L'Orientale de Nápoles,
aponta problemas em transformar as intenções em políticas ambientais globais
passíveis de fiscalização. "Os acordos envolvem países com diferentes
níveis de desenvolvimento e interesses; são complicados. Não tem como um
organismo supranacional fiscalizar políticas nacionais, seria uma
interferência; cada país precisaria fazer sua parte", comenta.
Nesse sentido, a professora Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, alerta que a margem de gases que ainda podemos emitir, sem aumentar a frequência de catástrofes climáticas e ambientais, é "muito pequena até o fim do século". Ela lembra que a responsabilidade é coletiva. "O princípio que rege a luta climática é o das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Todos são responsáveis, mas as responsabilidades se aplicam de maneiras distintas", pontua.
Np último sábado (13/11), os quase 200 países presentes na conferência aprovaram um texto que busca a aceleração de medidas contra as mudanças climáticas, mas que não garante o objetivo de limitar o aumento de temperatura mundial em 1.5º C.
O Pacto de Glasgow foi entendido por defensores do clima como pouco ambicioso, mas ainda representa avanços na agenda. O acordo estabelece a necessidade de redução global das emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, na comparação com 2010. Também é um dos objetivos neutralizar a liberação de CO2 até 2050, reduzindo ao máximo a emissão do gás e compensando o restante com reflorestamento e uso de tecnologias para captura de carbono na atmosfera.
Um dos trechos elogiados é o que demanda dos Estados membros a apresentação de novos compromissos nacionais de corte nas emissões de gases de efeito estufa até o fim de 2022. O prazo foi antecipado em três anos, mas deve levar em consideração diferentes circunstâncias enfrentadas por cada país.
O ponto que decidia sobre o abandono gradual do uso de carvão e subsídios a combustíveis fósseis foi esvaziado, principalmente por pressão da Índia e China. Em troca, o países se comprometeram a acelerar a transição energética para fontes limpas. O acordo pede ainda que países acelerem os esforços para reduzir subsídios ineficientes a combustíveis fósseis e do carvão, que não compensam emissões.
É a primeira vez que uma Convenção do Clima reconhece a necessidade de transição de combustíveis fósseis para renováveis, explicou à BBB News Brasil Natalie Unstertell, especialista em política climática e integrante do Grupe de Financiamento Climático para América Latina e Caribe.
Com
informações portal O Povo Online
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