Estudante foi carregada nos braços por professor para atravessar a tempo o portão do local de prova (Foto: Bárbara Moira) |
Carregada nos braços, uma candidata ao vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), na última segunda-feira (15/11) entrou no local de prova menos de um minuto antes do fechamento dos portões. Ela cruzou a “linha de chegada” junto com vários outros vestibulandos que corriam apressadamente para não deixar escapar o que poderia ser a grande oportunidade de suas vidas.
Contudo, diferente deles, a garota não estava em plenas condições de “competir” nessa maratona contra o tempo. Foi aí que surgiu um “atleta” de alto nível para desbancar o relógio e subir ao pódio dos vencedores. E, como numa modalidade olímpica, a cena emblemática da grande conquista tem “rodado o mundo” em velocidade viral.
Poderia até ser o roteiro de uma trajetória de campeões, mas o episódio que despertou empatia e sentimento de solidariedade em muitas pessoas não tem relação direta com o esporte. Os “competidores”, na verdade, estão longe dos holofotes, mas assim como qualquer vencedor, alimentam a obstinação e cultivam sonhos.
A estudante Leandra Araújo, de 17 anos, sempre quis ser enfermeira, uma profissão que, por natureza, traduz com literalidade o significado da expressão “ajudar o próximo”. E em meio à tensão que lhe separava dos minutos cruciais antes do tão esperado vestibular, um imprevisto que termina com um final feliz a deixa ainda mais convicta desse sonho.
O ônibus que levaria os alunos da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Salaberga Torquato Gomes de Matos, de Maranguape, onde ela cursa terceiro ano do ensino médio, para prestar o vestibular Uece, passou por problemas antes do embarque. O fato levou muita angústia ao coração de 55 jovens que esperavam há meses a chegada do grande dia. Para alívio deles, um outro veículo foi providenciado em cima da hora. A chegada ao local de prova foi a poucos segundo do fechamento do portão.
Quando o coletivo estacionou em frente ao prédio da Universidade, faltavam apenas alguns segundos para o fechamento dos portões. Sem pensar duas vezes, os estudantes aceleraram o passo e saíram em disparada em direção à entrada. Mas no caso de Leandra, aquilo seria praticamente impossível: com um dos pés imobilizados devido a uma lesão que sofrera dias antes, ela entrou em estado de agonia ao ver seus colegas em alta velocidade enquanto não podia sequer sair do lugar.
Mas além dos estudantes, naquele ônibus também estava o professor de língua portuguesa José Francisco do Nascimento, conhecido como Byzzé. Ao ver a angústia de Leandra, ela também não hesitou em tomar uma atitude na rapidez que o momento exigiu: colocou a jovem nos braços, acreditou na velocidade do seu passo e desafiou o relógio.
Com tanta coragem, o resultado não poderia ser outro. Nos segundos finais da “maratona”, o êxito havia sido alcançado. Não demorou muito para a imagem circular com força nas redes sociais e render comentários como “herói sem capa” ao professor.
“Naquele momento, o que me veio à cabeça foi que eu não poderia deixar nenhum deles para trás. Isso me motivou a ter uma atitude positiva e literalmente carregar a Leandra nos braços. Acredito que faço esse gesto diariamente com todos os alunos, sem que eles percebam. Acompanhei o crescimento de todos os que passaram pela escola e sei o quanto fiz parte da história deles. Vejo em cada um o retrato de sucesso e superação das dificuldades que eu passei quando estudante. Posso dizer que realizo meus sonhos ajudando a realização dos sonhos deles”, afirmou o educador.
Professor há 26 anos, José Francisco do Nascimento, o Byzzé, foi decisivo para Leandra chegar ao local de prova a tempo (Foto: Suzete Nocrato) |
Para a estudante, o gesto de solidariedade do professor tem um significado mais do que especial. “Quando o Byzzé me carregou nos braços, me senti importante. Consegui perceber, através dessa atitude extrema, como se preocupam comigo na escola e acreditam que sou capaz” Leandra, que prestou o exame para o curso superior de Enfermagem, mesma área na qual faz o curso técnico na escola profissional, revela já ter passado por momentos de incertezas e angústias no ensino médio.
Ainda assim, as chances de desistência que permeavam sua cabeça foram muito menores do que o tamanho de sua determinação. “Nesse momento, meu coração se enche de amor e agradecimento a toda a escola. Principalmente, à minha diretora de turma. Tive vontade de desistir, mas ela e a gestão da escola nunca desistiram de mim”, contou a vestibulanda.
Para Janaína Belo, gestora da escola onde Leandra cursa o ensino médio, o acontecimento passa uma mensagem importante àqueles que lutam contra obstáculos para cruzar a linha de chegada dos seus objetivos. “Não desistimos nenhum instante. O Byzzé representa muito bem os nossos professores, que fazem de tudo para apoiar os estudantes. Mantemos viva a prática de cuidar dos alunos. Não os vemos apenas como números, mas como pessoas que merecem a nossa atenção e carinho”, reflete.
Com
informações portal O Povo Online
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