Brasília voltou a se apresentar como palco maior da política nacional (Foto: Breno Fortes) |
Nesta semana que termina, Brasília voltou a se apresentar como palco maior da política nacional — e não se trata de elogio. Além de uma intensa movimentação partidária com os preparativos para a eleição presidencial, o país assiste a um mal-estar entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal em razão das misteriosas emendas do relator no Orçamento da União. Há, ainda, as controvérsias que se arrastam há um bom tempo: a interminável PEC dos Precatórios, que a cada dia se torna mais assombrosa do ponto de vista fiscal, e a modorrenta sabatina de André Mendonça no Senado para uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Esses assuntos terão desdobramentos nos próximos dias. Tudo indica, portanto, que, até o fim do ano, a capital federal continuará a ser o centro das atenções do país. Para quem acreditou na promessa, feita por Jair Bolsonaro, em 2018, de que haveria "mais Brasil e menos Brasília" na condução das políticas públicas, chegamos ao fim de 2021 com a sensação de que a máquina estatal do Planalto Central está emperrada no seu papel de servir como farol institucional do país.
Do ponto de vista eleitoral, o movimento de maior relevância tenha sido, talvez, a aparição de Sergio Moro como ator de projeção considerável na corrida para o Planalto, em 2022. Após filiar-se ao Podemos e atrair uma porção de admiradores, entre bolsonaristas arrependidos, lavajatistas e militares, o ex-juiz federal fez o que se espera de um candidato. Opinou sobre os assuntos da ordem do dia — defendeu um texto alternativo à PEC dos Precatórios —, conversou com possíveis aliados e atacou os possíveis adversários. Fez questão de dirigir a munição contra Lula, líder da corrida ao Planalto, segundo as pesquisas. Moro considerou "preocupante" quando o ex-presidente "flerta com o autoritarismo", em referência à absurda ideia do ex-petista de comparar a chanceler Angela Merkel com o ditador Daniel Ortega.
Outros atores que pretendem vencer a polarização Lula-Bolsonaro também se movimentaram. Merecem registro o anúncio da pré-candidatura de Simone Tebet como a única mulher, até o momento, a se lançar à corrida presidencial; o discurso apaziguador de Rodrigo Pacheco, a fim de reforçar o repúdio à polarização que tanto mal faz ao país; e o curto-circuito nas pretensões de Luiz Henrique Mandetta, escanteado pelo próprio partido da disputa para o Planalto, mas rapidamente reescalado para dizer que está à disposição do país e que "médico não abandona o paciente" Brasil.
Essa agitação toda no palco brasiliense ocorre dentro do esperado. Afinal, não há como pavimentar uma candidatura de magnitude presidencial sem construir acordos no centro do poder político. Esse, no entanto, não é o aspecto que mais chama a atenção em Brasília. Causa espécie observar que as tais instituições da República — frequentemente se diz que elas estão em pleno funcionamento — enfrentam dificuldades de cumprir até o que está escrito na lei. Ou não é uma afronta à lei romper o teto de gastos e anunciar um programa social permanente sem indicar uma receita para custeá-lo? E o que dizer da proposta de ignorar decisões judiciais e institucionalizar o calote em um acordo entre o Legislativo e o Executivo?
Alheio às conversas eleitorais da capital federal, o país enfrenta urgências muito maiores. O Brasil ainda não se recuperou do impacto brutal da pandemia nos últimos 18 meses — 614 mil mortos e uma crise econômica e social de profundas dimensões — e já terá de se precaver contra uma nova ameaça do novo coronavírus, batizada de omicron. E, mais uma vez, o governo emite sinais trocados. Pela manhã, Bolsonaro descarta impor restrições em aeroportos. À noite, o subordinado dele, ministro Ciro Nogueira, anuncia que o Brasil fechará fronteiras aéreas. Definitivamente, coerência não é o forte desta administração.
Em outra demonstração chocante do Brasil real, garimpeiros bandidos desafiam o poder público. Destroem impiedosamente o leito do Rio Madeira, em mais um sinal inequívoco de que a fiscalização ambiental no Brasil é um faz-de-conta.
O Brasil espera mais de Brasília. Tomara que as conversas para 2022 sirvam de resposta para tantas necessidades.
Publicado
originalmente no portal Correio Braziliense
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