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4 de outubro de 2021

Protestos expõem dificuldade de união na oposição

Apesar das dificuldades movimentos sociais e partidos de esquerda já
marcaram novo ato para o próximo dia 15 de novembro 
(Foto: Nelson Almeida)

Quase um mês após a baixa adesão em atos de 7 de setembro obrigar Jair Bolsonaro (sem partido) a abaixar o tom de ameaças contra o Judiciário, sindicatos e partidos de esquerda também tiveram dificuldades em levar multidões às ruas no último sábado (02/10) quando ocorreram manifestações contra o Governo Federal em diversas capitais do país.

Os protestos, que prometiam mostrar a força da esquerda contra Bolsonaro, acabaram gerando, salvo poucas exceções, imagens tão pouco expressivas ou menores que as dos atos antidemocráticos insuflados pelo presidente em setembro. Para especialistas, a ausência de multidões expõe sobretudo a dificuldade de união da oposição ao Planalto.

"Esses protestos mostram que o discurso de união pela democracia contra Bolsonaro é muito fácil do ponto de vista retórico, sendo encontrado na fala de todas as lideranças, mas ele não é colocado em prática, nem na articulação, nem entre militantes", diz o cientista político Cleyton Monte, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em entrevistas à imprensa, quase todas as lideranças políticas presentes nos atos de sábado, incluindo partidos como PT, PDT, PSB, PCdoB e Solidariedade, além de políticos como Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), destacaram o momento de "união geral" de todas as forças progressistas contra o bolsonarismo.

Apesar disso, exemplo simbólico da dificuldade prática dessa harmonia foi registrado com o próprio Ciro, crítico cada vez mais frequente do PT e do ex-presidente Lula, durante a manifestação da Avenida Paulista. Apesar de defensor do impeachment de Bolsonaro, o pedetista foi vaiado durante discurso, chegando a ser alvo de uma tentativa de agressão.

Ameaçado com garrafas por um pequeno grupo exaltado, Ciro acabou deixando o local das manifestações. Minutos antes, ele havia feito discurso duro contra Bolsonaro, mas com "alfinetadas" também contra petistas. "Bolsonaro, a sua hora está chegando, porque o povo brasileiro é muito maior do que fascismo de vermelho ou de verde e amarelo"

"Há essa falta de sintonia entre a oposição. A gente viu isso nas manifestações organizadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre, que puxou protestos contra Bolsonaro em 12 de setembro), que praticamente inviabilizou a presença dos petistas com um discurso 'nem Bolsonaro, nem Lula'. E você teve, nas manifestações de agora, um campo muito ligado ao ex-presidente Lula, que também dificulta uma abertura para outras lideranças. Isso tudo lembra de como essa união está cada vez mais longe", destaca Cleyton Monte.

Apesar da adesão aquém do esperado, protestos deste sábado atestam que o "Fora Bolsonaro" segue sendo, apesar das dificuldades em "furar a bolha", força determinante de mobilização política no Brasil, o que deve seguir até a eleição de 2022.

Nesse contexto, o cientista político destaca como protestos reforçaram ainda o protagonismo do PT no campo de oposição. "Outro ponto que ficou evidente, até na parte visual, é que o PT ainda monopoliza as ruas, do ponto de vista do campo progressista. Você vê presença marcante do PT, da CUT, dos sindicatos ligados ao partido. Se você tira esses grupos, você praticamente não tem ninguém nas ruas. Militantes de outros partidos são muito reduzidos".

Nesse sentido, resta ainda o fato de que as próprias manifestações pró-Bolsonaro, convocadas pelo próprio presidente, tiveram presença bem aquém da esperada. Diante de ruas mais esvaziadas que o planejado, o próprio presidente acabou recuando, em carta articulada por Michel Temer (MDB), de ameaças contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

Apesar das dificuldades do último sábado, movimentos que organizaram os atos prometem manter agenda de mobilizações pelo impeachment de Jair Bolsonaro em todo o país. O próximo protesto tocado pelos sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda está marcado para o próximo dia 15 de novembro.

Com informações portal O Povo Online

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