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12 de setembro de 2021

Um presidente isolado por Henrique Araújo

Para especialista a agenda bolsonarista teve adesão limitada aos setores mais radicalizados de sua militância (Foto: Marcos Corrêa)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) termina a semana com saldo inferior ao que pretendia obter com as manifestações do 7 de setembro, apontam especialistas ouvidos pelo O POVO.

Em menos de 48 horas, o chefe do Executivo recuou dos ataques que fez no feriado da Independência deste ano, acenando para o Supremo e a classe política (Câmara e Senado), mas se indispondo com sua base mais fiel, que ficou descontente com o tom da nota divulgada na última quinta-feira, 9.

Nela, Bolsonaro reconheceu que havia se expressado no "calor no momento" e se dirigiu em tom até elogioso ao ministro Alexandre de Moraes, objeto de gritos e cartazes nas ruas no 7/9.

Para Fabio Kerche, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, "os atos mostraram que Bolsonaro não tem apoio dos atores relevantes", exatamente aqueles que poderiam dar guarida a uma escalada autoritária. E que as instituições, mesmo pressionadas, conseguiram refrear seu ímpeto golpista.

"Bolsonaro não tem apoio nem do STF, nem do Congresso, nem das elites e nem da sociedade civil organizada", explica o docente, acrescentando que "nem os militares ou a polícia participaram ostensivamente" do protesto.

Isso é um indicativo, avalia Kerche, de que a agenda bolsonarista teve adesão limitada aos setores mais radicalizados de sua militância. "Foi uma demonstração de isolamento", atesta.

Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o cientista político Lucas Rezende concorda: Bolsonaro fica mais vulnerável no pós-7 de setembro. Mas pondera: "Isso não quer dizer que ele seja menos perigoso".

"Bolsonaro sai mais fraco porque ele viu que a base de sustentação dele é bem menor do que aquela que ele gostaria e imaginava", considera o pesquisador. "Esses que estão aderindo às pautas antidemocráticas são uma parcela reduzida dentro ainda do grupo que apoia o presidente."

Mesmo não sendo tão expressivo quanto Bolsonaro desejaria que fosse, esse segmento, contudo, segue coeso e "em linha com o presidente", com discurso e mobilização permanentemente prontos para o enfrentamento, sem sinal de que irá recuar.

"Ele vai seguir com Bolsonaro até o fim", avisa Rezende. "É um grupo que não necessariamente vai abraçar a violência, mas é radical no contexto político porque acaba se manifestando e apoiando elementos que corroem a democracia."

Na terça-feira, 7, aliados do capitão da reserva ocuparam as ruas e avenidas principalmente de Brasília e São Paulo, locais nos quais o chefe da nação marcou presença e fez discurso inflamado, de ataque ao ministro Moraes, a quem chamou de "canalha" antes de desafiar a Justiça e dizer que não cumpriria mais decisões do magistrado.

Dois dias depois, em nota redigida sob a supervisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), o mandatário recuou, aceitando que divergências em relação a entendimentos de Moraes sejam "resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais".

De acordo com analistas, o movimento é estudado, sinalizando que Bolsonaro caiu na própria armadilha - montou um esquema de mobilização e levou um contingente razoável de gente para as ruas sob a promessa de uma investida contra outros poderes, mas, ao cabo, frustrou-os.

"O 7 de setembro serviu para algumas coisas. Primeiro, para o presidente Bolsonaro saber que ele conta hoje estritamente com sua base de apoiadores", enfatiza Emanuel Freitas, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutor em Ciência Política.

Em segundo lugar, continua Freitas, o 7/9 "serviu para mostrar para parcela da opinião pública que, embora o bolsonarismo seja barulhento, ele está isolado e cada vez mais diminuto, o que não significa dizer que não seja perigoso".

"À medida que ele se radicaliza", conclui o professor, "também se sectariza, e os membros de uma seita estão prontos para matar ou morrer".

A frase se combina com outra, dita pelo próprio presidente e segundo a qual ele teria apenas três opções diante de si: a prisão, a morte ou a vitória em 2022. Delas, descartou a prisão.

O recuo de agora, sugerem fontes, é momentâneo, e logo Bolsonaro retomará a retórica beligerante e o roteiro de ataques às instituições, dos quais tem se servido desde que assumiu a Presidência, quase três anos atrás.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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