Brasília será um dos palcos das manifestações bolsonaristas (Foto: Marcello Casal) |
Hoje haverá uma multidão de pessoas nas ruas do Brasil. O presidente Jair Bolsonaro joga todo seu peso político para mobilizar manifestações. É um homem fraco, com popularidade derretendo. Mas, ainda tem muitos apoiadores, sem dúvida. Pesquisas apontam entre 20% e 30% do eleitorado. Não basta para ganhar eleição, mas é mais que suficiente para lotar as ruas. Mais que isso: ficam com Bolsonaro os mais radicalizados, aqueles dispostos a ir às últimas consequências. O presidente acena seguidamente para eles e fortalece os vínculos. Bolsonaro é fraco, perde popularidade e está acuado. Isso o torna perigoso.
Os propósitos de Bolsonaro são explícitos. Quer usar as manifestações para mostrar força. Faz isso por estar fraco. E quer usar essa demonstração de força para intimidar adversários políticos.
Não restam interrogações sobre a disposição dele de partir para a ruptura institucional. Observe o que o presidente disse sábado passado: "Se no STF alguém ousa continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele Poder tem que chamá-lo e enquadrá-lo, lembrando que ele fez um juramento. Se assim não ocorrer em qualquer um dos três Poderes, a tendência é ocorrer uma ruptura, ruptura essa que eu não quero e nem desejo, tenho certeza que nem o povo brasileiro assim o quer."
Ele diz que não quer, mas reconhece que pode levar a ela. Isso é inadmissível. Essa mera cogitação é motivo para destituição. A despeito de esdrúxulas e oportunistas interpretações golpistas do artigo 142, não há na Constituição base nenhuma, nenhuma, para intervenção militar em outros poderes. Isso é golpe. Isso já foi deixado claro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Câmara dos Deputados. Quem quiser defender, defenda. Mas não queira dar verniz de legitimidade.
Propósitos golpistas de Bolsonaro estão presentes em suas palavras, seus atos e sua história. Já escrevi que a história do presidente é de corporativismo militar e admiração por ditadores e torturadores. Observe-se também a família.
Em 2018, antes da eleição, Eduardo Bolsonaro disse: "Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo."
Em setembro de 2019, Carlos Bolsonaro postou: "Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos; e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes."
Fica dúvida? Não fica dúvida. Nunca propósitos antidemocráticos foram tão escancarados por autoridades constituídas. A maioria dos que vão à rua hoje estão dispostos a isso e apoiarão Bolsonaro em caso de golpe.
Mas, engraçados mesmos são a espécie que chamarei paradoxalmente de bolsonaristas moderados. Tentam ser razoáveis e construir argumentos dentro da ordem democrática para defender o presidente e seus atos. Até fazem críticas pontuais, mas apoiam o presidente em essência.
O momento atual não deixa dúvida. Os propósitos estão escancarados. O bolsonarismo é autoritário e não esconde. Está disposto à ruptura. Se consegue é outra história. Associar-se a ele significa isso, sem meias palavras. No passado, raramente havia registro de quem se aliava a determinadas posições políticas. Eram questões das rodas de conversa. Hoje, grupos de Whatsapp e redes sociais documentam fartamente quem apoia o quê. O bom da democracia é cada um ser livre para assumir suas posições. No dia de hoje, elas ficam inscritas para a história. Não me venham depois querer posar de defensores da democracia e da institucionalidade.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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