8 de agosto de 2021

Ofensas e ameaças de um presidente acuado, por Henrique Araújo

Um manifesto de empresários e de outros atores da sociedade civil reforça a posição de resistência ao golpismo escancarado (Foto: Pedro Ladeira)

Os xingamentos, as mentiras, as ameaças, tudo isso são sinais mais do que evidentes de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está acuado. Ora pela CPI, ora pela queda de popularidade, ora pela própria inépcia, o mandatário é pressionado a reagir. E o faz a seu modo, seguindo os desígnios delirantes do seu entorno. Ataca. Seja o STF, o TSE, a urna, os senadores. A cloroquina é passado.

O alvo inventado da vez tem muitas faces, mas embute uma necessidade já explicitada: o presidente quer tirar os holofotes da comissão que apura malfeitos na compra de vacinas e aponta, com farto acervo, a responsabilidade do governo por omissão na pandemia. Criando um circo no qual faz truques no meio do picadeiro, o chefe do Executivo atrai a atenção - e aqui estamos nós escrevendo e discutindo voto impresso já há mais de um mês.

As intrigas em torno desse assunto são regidas por um imperativo concorrencial com a CPI, principal fator de desgaste do Planalto hoje. A lógica de contratar uma crise com a Justiça, porém, tem seu preço, e o presidente já começou a pagá-lo. Duas faturas (ou "invoices", para usar palavra da moda) chegaram ao colo de Bolsonaro nos últimos dias. Uma são os inquéritos no Supremo e no TSE; outra é a rejeição à PEC do voto impresso, que precisou ser reanimada pelo "mui" amigo Arthur Lira.

A semana que passou, no entanto, é exemplar de um novo momento. Nele, o Judiciário, principal muro de contenção dos arreganhos bolsonaristas, se fechou (o presidente conseguiu unir Barroso e Gilmar Mendes). Num gesto enfático, os magistrados traçaram uma linha no chão e disseram: daqui o senhor não passa. Um manifesto de empresários e de outros atores da sociedade civil reforça essa posição de resistência ao golpismo escancarado.

O problema é que Bolsonaro não será Bolsonaro se simplesmente se aquietar e reconhecer que está comprando uma briga com adversários mais fortes. Minúsculo para o cargo que ocupa, ele tentará passar da linha, porque ultrapassá-la é sua derradeira arma e também uma maneira de tumultuar o ambiente democrático no qual, em condições normais, tende a perder as eleições. E Bolsonaro não quer entregar a faixa, disso já sabemos.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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