Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai investigar o caso (Foto: Ronaldo Silva) |
Um incêndio destruiu parte do acervo de um galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, na noite de ontem. Ao menos três salas do 1º andar - duas de filmes históricos e uma de material impresso e documentos - foram consumidas pelo fogo. Segundo o Corpo dos Bombeiros, as chamas começaram após manutenção de um ar-condicionado em uma sala da instituição, a mais antiga do tipo na área de cinema na América Latina. Não houve vítimas e as chamas foram controladas. O governo federal disse que pediu à Polícia Federal para apurar o caso.
Nos últimos anos, artistas e funcionários da Cinemateca têm alertado para a precariedade da estrutura, falta de investimentos, e risco de incêndio. Ainda não há confirmação se o acervo queimado era formado por cópias ou por originais.
As chamas atingiram três salas de área entre 300m² e 400m²,. O andar térreo não foi afetado. "Estamos apurando o que foi queimado e o que foi preservado nessas três salas, mas provavelmente não foi preservado nada", afirmou a capitão Karina Paula. A corporação ainda apurava ontem se o local tinha alvará de incêndio.
Conforme a Secretaria de Cultura do governo federal, o sistema de climatização havia passado por manutenção havia um mês. "Só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico", declarou, em nota, a pasta.
Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai indicar se o incêndio foi criminoso ou não "Tenho compromisso com o acervo ali guardado, por isso mesmo quero entender o que aconteceu", disse.
A Cinemateca tem a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro. É administrada pela Secretaria Nacional do Audiovisual, parte da Secretaria Especial de Cultura. Há dois anos, o contrato que a Associação Roquette Pinto (Acerp) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado.
O governo federal se comprometeu com novo edital para a função, mas a promessa não saiu do papel. Em maio de 2020, ao demitir Regina Duarte do comando Secretaria Especial da Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela iria para a instituição - ela não assumiu a função. Em agosto, Frias declarou que a Cinemateca estava "protegida", em visita ao local
A sede da Cinemateca fica na Vila Clementino, na zona sul. O prédio no número 290 da rua Othão, na Vila Leopoldina, foi doado à Cinemateca em 2009, pela União. Com área total de 8.400 m², dos quais 6.356 são de área construída, passou a abrigar dois anos mais tarde as reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital e demais instalações administrativas, de apoio e serviços da instituição
"Caso se confirme que o incêndio é fruto da falta de manutenção que nós e todo o setor audiovisual já tínhamos anunciado, vamos perceber que essa é mais uma ação de ataque à cultura e ao patrimônio cultural brasileiro por parte do governo federal, que tem linha ideológica completamente distanciada da cultura brasileira", disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Yousseff.
Cronologia da Cinemateca Brasileira
1940 - Origem da Cinemateca quando Paulo Emílio Sales Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido de Mello e Souza, entre outros, fundam o Primeiro Clube de Cinema de São Paulo, que se propõe a estudar o cinema como arte independente por meio de projeções, conferências, debates e publicações.
1941 - O Primeiro Clube é fechado pelos órgãos de repressão da ditadura do Estado Novo.
1946 - O Segundo Clube de Cinema de São Paulo é criado por Francisco Luiz de Almeida Salles, Rubem Biáfora, Múcio Porphyrio Ferreira, Benedito Junqueira Duarte, João de Araújo Nabuco, Lourival Gomes Machado e Tito Batini, buscando estimular o estudo, a defesa, a divulgação e o desenvolvimento da arte cinematográfica no Brasil
1949 - É aprovado um acordo entre o recém-criado Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP e o Clube, para a criação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
1951 - Paulo Emílio é nomeado vice-presidente da FIAF - Federação Internacional de Arquivos de Filmes.
1954 - Paulo Emílio assume a direção da Filmoteca, como conservador-chefe, contando com a ajuda de Rudá de Andrade e Caio Scheiby.
1956 - A Filmoteca se desliga do Museu de Arte Moderna, transformando-se em Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.
1957 - Em 28 de janeiro, um incêndio causado pela autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose destrói suas instalações na Rua Sete de Abril.
1961 - A Cinemateca torna-se uma fundação, personalidade jurídica que lhe permite estabelecer convênios com o poder público estadual.
1962 - Criação da Sociedade Amigos da Cinemateca - SAC, sociedade civil cuja finalidade é auxiliar financeiramente a Fundação Cinemateca Brasileira.
1969 - Em 18 de fevereiro, acontece o segundo incêndio, na instalação no portão 9 do Parque do Ibirapuera com perda de diversos materiais documentais em suporte de nitrato.
1976 - A Fundação Cinemateca Brasileira tem o reconhecimento de seu caráter de utilidade pública pelo município de São Paulo.
1982 - No dia 6 de novembro, ocorre o terceiro incêndio, que agrava as dificuldades financeiras da instituição e levam à defesa de sua incorporação ao poder público.
1984 - A Fundação Cinemateca Brasileira é extinta e incorporada, como órgão autônomo, à Fundação Nacional Pró-Memória.
1988 - O prefeito Jânio Quadros cede à instituição o espaço do antigo matadouro da cidade. Após nove anos de reformas, a sede da Cinemateca Brasileira é definitivamente instalada na Vila Clementino.
2003 - A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura incorpora a Cinemateca Brasileira.
2008 a 2013 - A Cinemateca Brasileira dá um grande impulso nas suas atividades de preservação e difusão de acervos, bem como na infraestrutura, graças a recursos investidos pelo antigo Ministério da Cultura, em parceria com a Sociedade Amigos da Cinemateca.
2013 - Sob gestão de Marta Suplicy, a Cinemateca passa por uma auditoria do Ministério, tem seu diretor exonerado e vê a suspensão no repasse de verbas do Ministério da Cultura para a entidade, causando a demissão de 43% do corpo de funcionários. É o início da crise que dura até os dias atuais.
2016 - Em 3 de fevereiro, ocorre o quarto incêndio, resultando na perda de 731 títulos, em mil rolos rolos de filmes em nitrato de celulose. Do total, 461 obras tinham cópias; o restante se perdeu
2016 a 2017 - O antigo Ministério da Cultura, através de sua Secretaria do Audiovisual, assina contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social qualificada pelo Ministério da Educação, para execução de um projeto de preservação e acesso de acervos audiovisuais, da Cinemateca Brasileira.
2018 - Em março é assinado Contrato de Gestão, parceria entre o antigo Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, em que a Cinemateca passa a ser administrada integralmente pela Acerp por um período de 3 anos.
Maio de 2020 - A Cinemateca divulga documento pedindo socorro
Com
informações portal O Povo Online
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