30 de julho de 2021

Incêndio destrói parte de acervo da Cinemateca

 

Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai investigar o caso (Foto: Ronaldo Silva)

Um incêndio destruiu parte do acervo de um galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, na noite de ontem. Ao menos três salas do 1º andar - duas de filmes históricos e uma de material impresso e documentos - foram consumidas pelo fogo. Segundo o Corpo dos Bombeiros, as chamas começaram após manutenção de um ar-condicionado em uma sala da instituição, a mais antiga do tipo na área de cinema na América Latina. Não houve vítimas e as chamas foram controladas. O governo federal disse que pediu à Polícia Federal para apurar o caso.

Nos últimos anos, artistas e funcionários da Cinemateca têm alertado para a precariedade da estrutura, falta de investimentos, e risco de incêndio. Ainda não há confirmação se o acervo queimado era formado por cópias ou por originais.

As chamas atingiram três salas de área entre 300m² e 400m²,. O andar térreo não foi afetado. "Estamos apurando o que foi queimado e o que foi preservado nessas três salas, mas provavelmente não foi preservado nada", afirmou a capitão Karina Paula. A corporação ainda apurava ontem se o local tinha alvará de incêndio.

Conforme a Secretaria de Cultura do governo federal, o sistema de climatização havia passado por manutenção havia um mês. "Só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico", declarou, em nota, a pasta. 

Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai indicar se o incêndio foi criminoso ou não "Tenho compromisso com o acervo ali guardado, por isso mesmo quero entender o que aconteceu", disse.

A Cinemateca tem a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro. É administrada pela Secretaria Nacional do Audiovisual, parte da Secretaria Especial de Cultura. Há dois anos, o contrato que a Associação Roquette Pinto (Acerp) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado.

O governo federal se comprometeu com novo edital para a função, mas a promessa não saiu do papel. Em maio de 2020, ao demitir Regina Duarte do comando Secretaria Especial da Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela iria para a instituição - ela não assumiu a função. Em agosto, Frias declarou que a Cinemateca estava "protegida", em visita ao local

A sede da Cinemateca fica na Vila Clementino, na zona sul. O prédio no número 290 da rua Othão, na Vila Leopoldina, foi doado à Cinemateca em 2009, pela União. Com área total de 8.400 m², dos quais 6.356 são de área construída, passou a abrigar dois anos mais tarde as reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital e demais instalações administrativas, de apoio e serviços da instituição

"Caso se confirme que o incêndio é fruto da falta de manutenção que nós e todo o setor audiovisual já tínhamos anunciado, vamos perceber que essa é mais uma ação de ataque à cultura e ao patrimônio cultural brasileiro por parte do governo federal, que tem linha ideológica completamente distanciada da cultura brasileira", disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Yousseff.

Cronologia da Cinemateca Brasileira

1940 - Origem da Cinemateca quando Paulo Emílio Sales Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido de Mello e Souza, entre outros, fundam o Primeiro Clube de Cinema de São Paulo, que se propõe a estudar o cinema como arte independente por meio de projeções, conferências, debates e publicações.

1941 - O Primeiro Clube é fechado pelos órgãos de repressão da ditadura do Estado Novo.

1946 - O Segundo Clube de Cinema de São Paulo é criado por Francisco Luiz de Almeida Salles, Rubem Biáfora, Múcio Porphyrio Ferreira, Benedito Junqueira Duarte, João de Araújo Nabuco, Lourival Gomes Machado e Tito Batini, buscando estimular o estudo, a defesa, a divulgação e o desenvolvimento da arte cinematográfica no Brasil

1949 - É aprovado um acordo entre o recém-criado Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP e o Clube, para a criação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

1951 - Paulo Emílio é nomeado vice-presidente da FIAF - Federação Internacional de Arquivos de Filmes.

1954 - Paulo Emílio assume a direção da Filmoteca, como conservador-chefe, contando com a ajuda de Rudá de Andrade e Caio Scheiby.

1956 - A Filmoteca se desliga do Museu de Arte Moderna, transformando-se em Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.

1957 - Em 28 de janeiro, um incêndio causado pela autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose destrói suas instalações na Rua Sete de Abril.

1961 - A Cinemateca torna-se uma fundação, personalidade jurídica que lhe permite estabelecer convênios com o poder público estadual.

1962 - Criação da Sociedade Amigos da Cinemateca - SAC, sociedade civil cuja finalidade é auxiliar financeiramente a Fundação Cinemateca Brasileira.

1969 - Em 18 de fevereiro, acontece o segundo incêndio, na instalação no portão 9 do Parque do Ibirapuera com perda de diversos materiais documentais em suporte de nitrato.

1976 - A Fundação Cinemateca Brasileira tem o reconhecimento de seu caráter de utilidade pública pelo município de São Paulo.

1982 - No dia 6 de novembro, ocorre o terceiro incêndio, que agrava as dificuldades financeiras da instituição e levam à defesa de sua incorporação ao poder público.

1984 - A Fundação Cinemateca Brasileira é extinta e incorporada, como órgão autônomo, à Fundação Nacional Pró-Memória.

1988 - O prefeito Jânio Quadros cede à instituição o espaço do antigo matadouro da cidade. Após nove anos de reformas, a sede da Cinemateca Brasileira é definitivamente instalada na Vila Clementino.

2003 - A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura incorpora a Cinemateca Brasileira.

2008 a 2013 - A Cinemateca Brasileira dá um grande impulso nas suas atividades de preservação e difusão de acervos, bem como na infraestrutura, graças a recursos investidos pelo antigo Ministério da Cultura, em parceria com a Sociedade Amigos da Cinemateca.

2013 - Sob gestão de Marta Suplicy, a Cinemateca passa por uma auditoria do Ministério, tem seu diretor exonerado e vê a suspensão no repasse de verbas do Ministério da Cultura para a entidade, causando a demissão de 43% do corpo de funcionários. É o início da crise que dura até os dias atuais.

2016 - Em 3 de fevereiro, ocorre o quarto incêndio, resultando na perda de 731 títulos, em mil rolos rolos de filmes em nitrato de celulose. Do total, 461 obras tinham cópias; o restante se perdeu

2016 a 2017 - O antigo Ministério da Cultura, através de sua Secretaria do Audiovisual, assina contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social qualificada pelo Ministério da Educação, para execução de um projeto de preservação e acesso de acervos audiovisuais, da Cinemateca Brasileira.

2018 - Em março é assinado Contrato de Gestão, parceria entre o antigo Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, em que a Cinemateca passa a ser administrada integralmente pela Acerp por um período de 3 anos.

Maio de 2020 - A Cinemateca divulga documento pedindo socorro

Com informações portal O Povo Online


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