O
plano foi parte de um conjunto de ações impactantes na relação entre o Estado e
a sociedade civil, como a reparação de famílias de vítimas do regime militar
(1995), a tipificação do crime de tortura com penas severas (1997), a
transferência para a Justiça comum dos crimes dolosos praticados por policiais
militares (1996), a proteção de testemunhas de crimes cometidos por policiais
(1999) e a criação do Ministério da Defesa sob comando civil (1999).
As
medidas tomadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso ajudaram a consolidar a
transição ao regime democrático e o poder civil na política. A criação da pasta
da Defesa, sem militar no comando, em 1999, viria na esteira das mudanças.
Agora, mais de duas décadas depois, sobram movimentos contrários.
Na
quinta-feira passada, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, atendeu
pedido de Bolsonaro para não punir o general Eduardo Pazuello pela presença em
ato político. O fantasma da indisciplina também ronda os quartéis das polícias
estaduais, com excesso de violência e ameaças de motins.
"Hoje,
os governadores da oposição têm que lidar com delicadeza com os PMs, porque já
houve motins, e o presidente os estimula. As Polícias Militares são forças de
oposição aos governadores. É a desmontagem do Estado Democrático de Direito que
surgiu com a Constituição de 1988", afirma o cientista político Paulo
Sérgio Pinheiro. "O coroamento do retrocesso das violações dos direitos
humanos é justamente esse risco de os militares da ativa se envolverem em
manifestações políticas. É um momento gravíssimo", complementa.
Um
dos responsáveis pela concepção do PNDH, Pinheiro aponta uma
"imaturidade" democrática. "Confesso que tudo o que estudei não
ajudou a prever que o Brasil seria tomado de assalto por um governo de
extrema-direita."
O cientista político experimentou mais recentemente um pouco do autoritarismo que vem ajudando a combater no Brasil e no mundo. Foi incluído em um dossiê elaborado pelo Ministério da Justiça para colocar na mira servidores e professores universitários antifascistas. Ele se orgulha do adjetivo, mas diz que a arapongagem poderia ter o trabalho poupado se buscasse na internet as pesquisas que desenvolve.
Ativista
dos direitos humanos, negra e feminista, a advogada Priscila Pamela dos Santos,
38 anos, avalia que momento é de retrocesso. "Subestimamos um pouco o
potencial lesivo dele (do presidente) e não estávamos preparados para lidar com
essas avalanches de retrocesso", afirma.
Na
presidência da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB de São
Paulo, ela observa que muitas das proteções ainda se dão em razão das
instituições não governamentais, que veem práticas ilegais e denunciam.
"Essas instituições fazem, às vezes, o trabalho do governo federal."
O PNDH foi o primeiro programa para proteção e promoção de direitos humanos da América Latina. No prefácio da primeira edição está expresso o objetivo de servir para resolução de problemas estruturais como os causados por desemprego, fome, dificuldades do acesso à terra, à saúde, à educação e concentração de renda.
"O País avançou razoavelmente na questão dos direitos políticos, mas a violência contra os mais pobres precisa ser contida sempre", diz Fernando Henrique ao jornal O Estado de S. Paulo. "As desigualdades são grandes entre nós e isso preocupa, chegando a limitar os efeitos positivos da democracia", ressalta. "Ainda que os efeitos das políticas que implementamos hajam sido positivos, na questão de direitos humanos convém estarmos sempre alertas."
Com
informações portal Correio Braziliense
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