A cearense Mayra Pinheiro comandou a desastrosa missão do Governo Federal em Manaus (Foto: Leopoldo Silva) |
Até pela convicção nas ideias e pelo inegável conhecimento do assunto, Mayra foi segura no depoimento. Defendeu as posições com mais ênfase do que o atual ministro e o ex. Houve outros momentos nos quais ela complicou o governo, expôs contradições. Não menos relevantes foram perguntas que não foram respondidas.
Estudos
considerados e desconsiderados
Mayra lá estava por ter se tornado a ponta de lança da cloroquina, e do chamado “tratamento precoce” dentro do ministério. Ela afirma defender a autonomia médica de prescrever. No discurso, vai além e diz ser a favor de se usar tudo que há disponível com algum grau de evidência. Qual grau é esse é que é a questão. Mayra aponta diversos estudos que referenciam o uso da cloroquina, ivermectina e outros menos cotados. Porém, também existem outros estudos que contrariam o uso desses medicamentos. Por que o ministério se baseia em uns e não em outros?
Mayra respondeu à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre o porquê de não ter considerado as posições de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Pediatria. A secretária explicou que o ministério não tem obrigação de acatar esses posicionamentos. É verdade. Mas, disse mais: “A gente considera quando esses pareceres são condizentes com a realidade e com a verdade. As sociedades falham também.”
Opa. Peralá. Então, os únicos posicionamentos condizentes com a realidade são aqueles que justificam o uso da cloroquina? Os estudos de maior prestígio no mundo são a favor do uso da cloroquina? Não, são contrários. Dizer que a questão é polêmica é uma gentileza com a postura do governo brasileiro. Mayra foi indagada se o ministério só acata aquilo que corrobora sua posição. Disse que não. Mas, não conseguiu demonstrar isso, ou justificar.
O
fator Manaus
Dias antes do colapso de Manaus, Mayra comandou missão do Governo Federal ao Município. Ela narrou que a situação encontrada lá era muito grave, com unidades de saúde fechadas. Mas, não identificou risco de falta de oxigênio, nem ninguém relatou a ela. Eliziane Gama, novamente, questionou, de quem era a culpa. Como vai uma delegação a uma cidade à beira do colapso e ninguém relata, ninguém percebe. Mayra disse esperar que a CPI identifique a responsabilidade.
Sim, essa questão é crucial. Como é possível uma delegação do Ministério da Saúde ir a uma cidade, fazer relatórios, e não identificar nem ser informada da crise que já estava desenhada? Se houvesse essa percepção precoce não há dúvida, diferentemente do tratamento, de que vidas teriam sido salvas. Se eu fosse Mayra, seria o primeiro a querer saber como se deu essa omissão.
Por
que ela?
Outra boa questão foi levantada pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Mayra é secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. De acordo com o site do ministério, o papel é “formular políticas públicas orientadoras da gestão, formação e qualificação dos trabalhadores e da regulação profissional na área da saúde no Brasil.” E ainda: “Cabe à SGTES promover a integração dos setores de saúde e educação no sentido de fortalecer as instituições formadoras de profissionais atuantes na área, bem como integrar e aperfeiçoar a relação entre as gestões federal, estaduais e municipais do SUS, no que se refere aos planos de formação, qualificação e distribuição das ofertas de educação e trabalho na área de saúde.”
Por
que é mesmo que Mayra se tornou a difusora do uso de medicamentos contra a
Covid-19? É para ensinar aos médicos o que devem receitar?
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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