Diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Covid, no Senado Federal (Foto: Jefferson Rudy) |
O primeiro gesto que parece destoante do que tem sido procedimento comum no governo atual foi sua confissão pública de arrependimento por ter acompanhado o presidente Bolsonaro numa manhã de março de 2020, com a pandemia já instalada no País, em ato público realizado diante do Palácio do Planalto. Com mais cinco minutos para pensar melhor, disse Barra Torres, teria desistido da ideia de participar daquele evento, que teve aglomeração, quase nenhuma máscara e desrespeito total a regras sanitárias já vigentes naquele momento. No mais, ele defendeu isolamento e vacinação, rejeitou enfaticamente cloroquina como alternativa de tratamento e confirmou ter recusado, admite que até com alguma rispidez, um movimento que começou a ganhar corpo no governo para que se mudasse a bula do medicamento a fim de adequá-lo ao combate à covid-19.
A conversa de Barra Torres com os senadores ainda se desenrolava quando começou a circular a informação de que perto dali, no Palácio do Planalto, o clima era de muita irritação com a performance dele. Esperava-se o quê, então? Talvez, algo parecido com o que fez o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fugindo dos questionamentos, sendo vazio nas respostas, omitindo-se de decisões de sua competência pelo papel que lhe cabe dentro da estrutura de governo à qual está ligado etc. Caminho que, de fato, ele não trilhou e, fazendo o certo, se contrapôs às ideias equivocadas que o presidente que o nomeou vive a defender.
O fato é que a passagem de Barra Torres ontem pelo Senado gerou mais estragos do que benefícios para o governo, imaginando-se que tenha deixado algo de bom. E, finalmente, vê-se um alto membro das Forças Armadas que consegue demonstrar um resultado melhor do processo de formação a que são submetidos ao longo da carreira, sem perder a capacidade de pensar por si e fugindo ao papel de um mero capacho de quem o indicou. De humilhação já basta aquela que tem sido oferecida ao País pelo general Eugênio Pazuello, mas esse é um problema do Exército e um capítulo ainda por ser vivido na CPI da Covid.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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