Levantamento mostra que passados 100 dias após o início da vacinação grupo de pessoas com 80 anos ou mais ainda não recebeu a injeção de reforço (Foto: Reprodução/Facebook) |
Metade
dos idosos com mais de 80 anos no Brasil ainda não recebeu a segunda dose da
vacina contra a covid-19. É o que mostra um estudo assinado por Mário Scheffer,
da Universidade de São Paulo (USP), e Guilherme Werneck e Ligia Bahia, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O levantamento aponta que, entre
a população brasileira com mais de 80 anos, que totaliza 4,44 milhões de
pessoas, 90% já receberam pelo menos a primeira dose de um imunizante. Mas 50%
desse público ainda não conseguiu a segunda dose.
Os dados vêm dos Registros de Vacinação Covid-19, do site OpenDataSus, que compila informações atualizadas até o dia 4 de maio, de acordo com o Ministério da Saúde. A região com menor índice de vacinação com a segunda dose entre maiores de 80 anos é a Sudeste, com apenas 48%. Logo depois está o Nordeste, com 49%; e, em terceiro lugar, a região Sul, com 51% de cobertura. A região melhor colocada no ranking é o Centro-Oeste, que já vacinou com as duas doses cerca de 63% de idosos nessa faixa etária.
O ritmo de vacinação continua lento mesmo mais de 100 dias após o início da imunização no país. O grupo de idosos acima de 80 anos foi o primeiro a ser chamado para receber a primeira dose, em janeiro. Já na população que tem entre 70 e 79 anos, que conta com 9 milhões de brasileiros, a cobertura vacinal é melhor: 62% já foram vacinados com a primeira e a segunda doses. Desta vez, o Sul se destaca, com 71% de vacinação da segunda dose.
Nesta faixa etária, os que tomaram pelo menos a primeira dose já somam 89%. Algumas regiões, como é o caso de Sul e Centro-Oeste, já vacinaram mais de 90% da população desse grupo. Entre os que têm 60 a 69 anos, faixa etária que passou a ser contemplada pela vacinação nas últimas semanas, o total de cobertura com duas doses é de apenas 12%. Isso porque o intervalo entre a primeira e segunda doses dura, pelo menos, duas semanas, a depender do fabricante da vacina.
Profissionais de saúde, que também são prioridade na distribuição de vacinas, apresentam baixo índice de retorno para o reforço do imunizante. Até agora, 45% deles receberam a segunda dose.
A vacinação entre idosos tem ajudado a diminuir o índice de mortes no país. É o que mostra um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) divulgado na última semana. Segundo o levantamento, a proporção de mortes por covid-19 entre idosos com 80 anos ou mais caiu pela metade após o início da vacinação.
Em janeiro, quando a vacinação começou, o percentual de mortes nesse grupo era de 28%; no fim de abril, esse índice passou a ser de 13%. No início do ano, a taxa de mortalidade entre pessoas desse grupo era 13,7 vezes maior do que pessoas de zero a 79 anos. A pesquisa mostra ainda que pelo menos 13,8 mil mortes foram evitadas em um intervalo de oito semanas.
O Brasil ultrapassou ontem a marca de 420 mil mortos por covid-19, ao registrar mais 2.202 mortes pela doença em 24 horas. Com isso, o total de óbitos no país chegou a 421.316, segundo o Ministério da Saúde. Foram registrados 63,4 mil novos casos, chegando ao acumulado de 15,1 milhões de pessoas infectadas no país. Enquanto isso, a vacinação caminha a passos lentos: até o momento, apenas 7% da população foi vacinada com duas doses dos imunizantes, com 14,9 milhões de pessoas vacinadas.
Mesmo diante da dificuldade de acelerar o ritmo de vacinação contra a covid-19, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prevê que, até o final deste ano, todos os brasileiros acima de 18 anos estarão vacinados. A projeção foi repetida durante toda a última semana por Queiroga, que reiterou que receberá doses suficientes até o fim de 2021 para concluir a imunização. A estimativa, no entanto, é contestada por especialistas, diante do atraso na compra de vacinas.
Segundo cálculo feito pelo Correio com auxílio do médico sanitarista pela Universidade do Paraná Adriano Massuda, professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), a média diária de vacinas aplicadas em abril, considerando tanto primeira quanto segunda doses, foi de 770.666. Com isso, o país precisaria, ao menos, triplicar a velocidade para alcançar a meta proposta por Queiroga. “Nesse ritmo, precisaríamos de 462 dias úteis para imunizar toda população maior de 18 anos”, pondera Massuda.
O principal problema, segundo os especialistas, é a incerteza sobre o cronograma de entrega de vacinas. “A gente poderia imunizar a população brasileira em tempo muito menor se o governo tivesse contratado as vacinas no tempo certo. Agora, há uma incerteza muito grande. E o ritmo ainda pode diminuir pela falta de produção brasileira, que é condicionada à importação do IFA (ingrediente farmacêutico ativo)”, pontua Massuda.
O Instituto Butantan enfrenta problemas no recebimento da matéria-prima da CoronaVac. O Butantan processou todo o último lote de 3 mil litros, recebido da China em 19 de abril, para produzir 5 milhões de doses e, por isso, o envase das novas vacinas foi paralisado. Na sexta-feira, o diretor do instituto, Dimas Covas, informou que espera receber mais 4 mil litros do insumo até o próximo dia 8.
O epidemiologista e coordenador da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant, acredita que a previsão do ministro pode se concretizar caso se observe apenas a imunização dos grupos prioritários — estimado em 80,5 milhões de pessoas — , mas não de toda a população brasileira: “De certa maneira, é muito difícil que a gente consiga vacinar toda a população do país até o final do ano porque há um desafio logístico para que isso aconteça”, afirma.
Com informações portal Correio Braziliense
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