O ministro aposentado também rechaçou os ataques feitos por Bolsonaro ao seu ex-colega de Corte (Foto: Michel Filho) |
Na
avaliação de Celso, a determinação, por Barroso, de abertura da CPI da Covid no
Senado foi uma decisão "corretíssima" e ancorada em uma série de
precedentes firmados pelo próprio Supremo. O ministro aposentado também
rechaçou os ataques feitos por Bolsonaro ao seu ex-colega de Corte.
"Um presidente da República que não tem o pudor de ocultar suas desprezíveis manifestações de desapreço pela Constituição da República e pelo princípio fundamental da separação de poderes, que atribui aos seus adversários a condição estigmatizante de inimigos e que se mostra disposto a atingir, levianamente, o patrimônio moral de um dos mais notáveis juízes do Supremo Tribunal Federal que proferiu corretíssima decisão, em tema de CPI, inteiramente legitimada pelo texto constitucional e amplamente sustentada em diversos precedentes firmados pelo plenário de nossa Corte Suprema, revela, em seu comportamento, a face sombria própria de um dirigente político que não admite nem tolera limitações ao seu poder, que não é absoluto, comportando-se como se fosse um paradoxal 'monarca presidencial'!", escreveu o ministro aposentado à reportagem.
"Mais
do que nunca, torna-se necessário que o Supremo Tribunal Federal, agindo, como
sempre agiu, nos estritos limites de sua competência institucional, atue com o
legítimo objetivo de repudiar comportamentos presidenciais quando estes se
revelarem transgressores do princípio da separação de poderes ou se mostrarem
lesivos à supremacia da ordem constitucional!", acrescentou Celso.
Ainda de acordo com o ex-decano do Supremo, um verdadeiro líder político, que ostente o perfil de estadista, "há de preocupar-se em respeitar a institucionalidade legitimamente estabelecida, em submeter-se à autoridade da Constituição e das leis da República, em cumprir fielmente e sem tergiversações os comandos judiciais a ele dirigidos e em exaltar a liberdade dos cidadãos, o primado dos valores democráticos e a dignidade essencial do ser humano".
Em
2007, o então ministro Celso de Mello deu decisão similar à de Barroso,
dirigida ao então presidente Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT), que
tentava contornar a instalação da CPI do Apagão Aéreo com uma votação em
plenário, embora a oposição já tivesse levantando as assinaturas necessárias
para abrir a investigação sobre a crise do sistema de tráfego aéreo do País.
Na
época, Bolsonaro era deputado, atuava em oposição ao governo do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defendeu uma atuação do Supremo no caso.
"Eu espero que o Supremo tenha, apesar do que eu falei aqui, é o
Supremo... Espero que tenha uma decisão lá voltada para a razoabilidade e deixe
instalar a CPI", disse Bolsonaro durante uma entrevista à TV Câmara,
veiculada em 2007.
Hoje, Bolsonaro comanda o Palácio do Planalto, Lula está na oposição e a CPI da Covid conta com o apoio de mais de um terço dos senadores, mas sofre resistência do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), aliado do governo que chegou ao cargo com apoio do chefe do Executivo.
Na
sexta-feira, Bolsonaro afirmou, em suas redes sociais, que falta "coragem
moral" a Barroso por se omitir de também ordenar a abertura de processos
de impeachment contra integrantes da Corte. Após os ataques, o Supremo divulgou
uma nota institucional em que afirma que seus integrantes tomam decisões
conforme a Constituição e ressalta que, dentro do estado democrático de
direito, questionamentos sobre essas decisões devem ser feitos no âmbito dos
processos, "contribuindo para que o espírito republicano prevaleça"
no País.
Barroso,
por sua vez, afirmou que, ao ordenar a abertura da CPI da Covid, se limitou a
"aplicar o que está previsto na Constituição, na linha de pacífica
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e após consultar todos os
ministros".
Celso de Mello se despediu do Supremo em outubro do ano passado, ao completar 75 anos. Entre seus últimos atos no tribunal, cuidou do inquérito que investiga acusações de interferência política indevida de Bolsonaro na Polícia Federal e determinou que o presidente prestasse depoimento presencial. Até hoje, o plenário da Corte não resolveu a controvérsia.
Com
informações portal Correio Braziliense
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