Márcio Melo Gomes, prefeito de Mongaguá, fez um desabafo sobre a pandemia (Foto: Reprodução/Twitter) |
Chorando, o prefeito de Mongaguá (no litoral de São Paulo), Márcio Melo Gomes, fez um desabafo que viralizou nas redes sociais ontem (30/03). O prefeito também ganhou destaque na mídia por criticar a antecipação de feriados na capital paulista. Na última semana, o pai e o irmão do prefeito, ambos comerciantes, morrerem de covid-19.
"Como
eu queria sair dessa live e poder ouvir do meu irmão e do meu pai: 'Eu quebrei.
O meu comércio quebrou'. Porque nós já quebramos e com a vida nós conseguimos
dar a volta por cima", afirmou no vídeo que já tinha sido visto mais de
660 mil vezes em apenas uma publicação no Twitter.
Em
entrevista à BBC News Brasil, Gomes afirmou que o desabafo foi uma resposta a
comentários "maldosos" que fizeram durante a transmissão ao vivo que
ele fazia e espera que a mensagem seja importante para que outras pessoas não
passem pelo mesmo que ele. O prefeito, que defende restrições mais rigorosas do
comércio para evitar o contágio por covid-19, se disse atacado.
"A
gente viu nos comentários (pessoas falando) 'está falando isso porque tem o
salário garantido', 'está falando isso porque vamos quebrar de uma vez' (..) O
que eu quis transmitir para aquela pessoa, não como uma resposta ofensiva, mas
que, por ser comerciante, várias vezes a gente passou por dificuldade sem
existir covid. A gente quebrou sem existir covid, mas, com a nossa saúde, a
vida possibilitou a gente ter uma retomada. Você quebra, mas você se
reergue", afirmou.
O pai do prefeito morreu, depois de sete dias internado, na noite de segunda-feira (22). Ele deixou quatro filhas, a mais nova de 12 anos. Já o irmão de Márcio Gomes morreu cinco dias depois, no sábado (27). Aos 33 anos, ele deixou uma filha de 4 meses e outra de 14 anos.
Nesse
período, o prefeito conta que ainda tentou esconder a morte do pai porque o
irmão estava internado numa UTI, mas tinha acesso ao celular. A intenção era
evitar que ele recebesse a notícia por temer que isso o deixasse abalado
psicologicamente.
O
irmão do prefeito de Mongaguá tinha um restaurante. O pai tinha uma pousada e
um açougue, onde Márcio Gomes começou a trabalhar com 9 anos, segundo ele.
O
prefeito disse que a intenção dele ao responder comentários foi fazer um alerta
para que as pessoas priorizem a vida em relação às questões financeiras e
entendam as restrições mais rigorosas impostas na cidade como algo necessário
para preservar vidas. Ele citou a superlotação nos hospitais e falta de
estrutura para atender quem já está internado como mais um alerta.
"Eu
trocava três vezes os cilindros de oxigênio dos hospitais e agora eu troco 49,
com risco de acabar o fornecimento. Ontem me perguntaram qual seria o plano B se
acabar o oxigênio. Eu queria ter um plano B. Medicamento para pessoas intubadas
você não acha mais para comprar. Nosso estoque está no limite do limite e vai
dando um desespero", afirmou.
A Prefeitura de São Paulo e o governo paulista anteciparam diversos feriados para que algumas cidades, incluindo a capital, não tivessem dias úteis nesta semana. A intenção era evitar que as pessoas circulassem nas ruas e comércios para evitar a transmissão do vírus.
Mas muitos entenderam o feriado de uma semana como um período de lazer e viajaram para cidades turísticas e litorâneas, como Mongaguá. O prefeito disse que isso causou uma superlotação dos supermercados e padarias, além de pessoas insistindo em permanecer na praia mesmo com a proibição.
"Eu acho isso (antecipar feriados) uma atitude muito irresponsável. Claro que as pessoas entendem como férias e não um ato para ficar em casa. O feriado veio para piorar. Se o cara sai daí para vir para cá você está aliviando a cidade de São Paulo e levando problema para outra cidade. Ou ele vai trazer o vírus para cá ou levar o vírus que está aqui", disse o prefeito à BBC.
Ele
disse que medidas mais duras de restrição, como fechamento de mercados no fim
de semana, foram impostas para inibir o deslocamento de turistas para a cidade.
Ele disse que funcionou, pois menos pessoas viajaram para a cidade em relação a
feriados convencionais.
"Todos
os comerciantes pressionam, mas alguns perdem a linha. Eu respeito você
pressionar. O cara está querendo sobreviver. Tem uns que chegam nesse limite e
querem apoiar. Mas tem outros que são radicais e só querem criar o tumulto, a
bagunça. O cara fala que vai quebrar, mas ele não paga imposto desde 2019
quando nem covid existia", afirmou.
Para
o prefeito, o mais importante neste momento é que cada pessoa reflita o impacto
que seus atos têm na vida de outras pessoas.
"É
amor ao próximo, é respeito e entender o momento que estamos vivendo. É pensar
que a pessoa está na casa dela (se preparando) para ir à praia, para ir à
festa, para encher o mercado. Antes de sair da sua casa, lembre-se que tem
pessoas exaustas trabalhando dentro de um pronto-socorro para cuidar da vida de
todos. Pessoas morrendo por não conseguir respirar", afirmou.
Márcio
Gomes disse que a intenção dele não é fazer com que as pessoas se coloquem no
lugar dele, mas sim que elas o usem como exemplo das consequências do que pode
ocorrer.
"Em
vez de se colocar no meu lugar, tente pensar o que você pode fazer para não ser
você a passar por essa dor. O que você pode fazer hoje? Ficar em casa, parar de
circular, fazer seu máximo em 15 dias para a gente tentar quebrar o colapso no
sistema de saúde", afirmou à BBC.
Ele
disse que um dos familiares dele estava internado num hospital do SUS e o outro
em uma unidade particular, como exemplo de que o dinheiro não importa no tratamento
da covid-19. E finalizou a entrevista com um apelo para que a população não
saia de casa.
"Espero
que você possa usar isso ao seu favor para que possa seguir a vida em frente e
estar ao lado dos seus sorrindo. Porque isso uma hora vai passar e você vai
poder ir à festa, poder ter um Natal e um Ano Novo com todo mundo junto. Eu
infelizmente não poderei ter meu pai e meu irmão."
Com informações portal Correio Braziliense
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