9 de fevereiro de 2021

Variante de Manaus tem circulação identificada no Ceará

Nova variante do coronavírus aponta transmissão de maneira mais rápida

A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) confirmou ontem a circulação da nova variante do coronavírus vinda de Manaus. Das 30 amostras enviadas para análise na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a mutação foi detectada em três amostras, por meio de sequenciamento do DNA do vírus e comparação com a primeira versão. Dois casos confirmados são de pessoas que viajaram para algum dos locais com circulação da nova linhagem e outro é de uma pessoa residente no Ceará, o que indica uma transmissão comunitária (quando já não é mais possível mapear a cadeia de transmissão).

Os três pacientes que tiveram amostras analisadas são homens, com mais de 60 anos e internados em hospitais particulares de Fortaleza. A Sesa e a Fiocruz estão aguardando os resultados de outras 90 amostras de casos suspeitos, sendo que destes, 68,8% são de viajantes e 31,2% de residentes no Ceará. Em comunicado, a secretaria ressaltou que não há uma cronologia nas amostras confirmadas, ou seja, os três pacientes não são necessariamente os primeiros a se infectar com a nova variante do vírus.

"Estamos diante de uma realidade epidemiológica bem diferente. Há um recrudescimento de novos casos de Covid. É uma onda maior, ainda não tão intensa quanto a primeira onda no Ceará, mas algumas coisas são particularmente diferentes, dentre elas, a presença de mutações", destacou o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o dr. Cabeto, em vídeo gravado após o anúncio.

"Não sabemos ainda se essa mutação faz com que os casos sejam mais graves, mas parece que tem influência na apresentação clínica, na população acometida e até na interferência na eficácia da vacina, como aconteceu na África do Sul", complementou.

O epidemiologista, pesquisador e gerente da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Fortaleza, Antônio Silva Lima Neto, destaca que a variante possui algumas características preocupantes, como a maior transmissibilidade.

"Essa nova cepa tem uma capacidade maior de 'escapar' do sistema imunológico do indivíduo, e essa é uma mudança em relação ao primeiro vírus, que chamamos de vírus ancestral. Requer uma vigilância genômica, que é o que as secretarias do município e do estado têm se proposto a construir, ainda que essa vigilância seja um desafio no mundo inteiro. Há, no Brasil, laboratórios de referência em sequenciamento genético, como a Fiocruz, o Adolpho Lutz e o Evandro Chagas. O Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) também está se preparando para fazer esse tipo de análise, algo que devemos conseguir a médio prazo. Em tempos normais, esse procedimento estaria centralizado no Ministério da Saúde", pondera.

"Importante ressaltar que o que estamos vendo em Manaus não é resultado apenas da variante e sim, de vários fatores, dentre eles, a queda da imunidade da população que já adoeceu (o que facilita novas infecções) e a fragilidade histórica do sistema de saúde local, evidenciado com o episódio da escassez do oxigênio", acrescenta.

Diante do espalhamento da nova variante em outros estados brasileiros e mesmo em outros países, especialistas apontavam que havia a possibilidade de que a nova linhagem fosse encontrada também no Ceará. O POVO publicou matéria no dia 30 de janeiro sobre os indícios de que havia a circulação local do vírus, dada a mudança no perfil dos pacientes e na gravidade dos casos encontrados nos hospitais da capital. Na semana passada, o secretário da saúde havia dito que o crescimento do número de casos em crianças poderia estar relacionado à nova cepa e, na mesma semana, a pasta confirmou que 61 casos suspeitos eram monitorados pela secretaria.

Variantes e cepas

A variante de um vírus pode ser caracterizada por uma mutação onde ocorreu variação de poucos aminoácidos [compostos que constituem os vírus], cepas já apresentam uma diferença maior no tipo de comportamento do vírus em relação ao vírus original, segundo explica o professor Gabriel Maisonnave Arisi.

“As variantes surgem aleatórias e selecionadas e depois podem dar origem à cepa. Acho que está criando até uma certa ansiedade nas pessoas de acharem que é outro vírus, mas na verdade não é outro vírus. É uma variante, mas esses critérios são mais complexos. É realmente um detalhe de biologia molecular”, pondera.

O infectologista Ivo Castelo Branco, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), acrescenta que o que diferencia essa cepa é a sequência de aminoácidos que formam o vírus, o que pode ser verificado pelo sequenciamento genético.

“O coronavírus têm uma sequência de aminoácidos, mas ela sofreu algumas mutações. A sequência do vírus de Wuhan [China, epicentro da pandemia] difere da sequência que está infectando a Inglaterra”, detalha.

Linhagens

O professor Gabriel Maisonnave Aris define linhagem como “uma genealogia do vírus”. Com a evolução da pandemia, foi desenvolvido um sistema de classificação em linhagens para o Sars-CoV-2, tendo como base dois grandes ramos que receberam a denominação de A e B, segundo nota técnica divulgada pelo Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde na terça-feira, 2.

À medida que foram surgindo diferenciações genéticas dentro de cada grande ramo, foram sendo designadas linhagens A.1, A.2, B.1, B.1.1, e assim sucessivamente. As linhagens também podem ser conhecidas como “grupo genético” em algumas referências científicas.

“Desde a caracterização genômica inicial do Sars-CoV-2, este foi dividido em diferentes grupos genéticos ou clados. Quando ocorrem algumas mutações específicas, estas podem estabelecer uma nova linhagem do vírus em circulação”, diz o documento.

Necessidade de vacinação

O aparecimento de variantes do Sars-CoV-2 acendeu o alerta no mundo. Embora a variante de Manaus não tenha se mostrado mais letal até o momento, a maior transmissibilidade preocupa pelo risco de atingir grupos mais vulneráveis à Covid-19, conforme alerta o infectologista Ivo Castelo Branco, da UFC. Por isso a urgência em providenciar a vacinação para barrar a transmissão.

“Se não tivermos vacina até o final do ano [para a maior parte da população], vamos começar a ter esses surtos. Ou a gente barra esse espalhamento ou não vamos controlar nunca. Vamos continuar espalhando o vírus e podem aparecer variantes novas”, adverte.

O professor Gabriel Maisonnave Arisi, da Unifesp, também concorda que é preciso ter pressa para a vacinação para precaver eventuais novos surtos, principalmente dada a incerteza sobre o tempo de imunidade que as pessoas infectadas têm.

“Ao longo de alguns meses, algumas variantes já se mostraram mais eficientes e a chance de que isso aconteça de novo no futuro é muito grande, por isso temos que correr com as vacinas enquanto é tempo”, atenta.

Saiba quais são as variantes do coronavírus que colocam o mundo em alerta

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 26 de janeiro de 2021, foram realizados mais de 414 mil sequenciamentos genéticos completos que têm sido compartilhados em bases públicas de dados.

No planeta, existem pelo menos três variantes do Sars-CoV-2 que despertam a atenção das autoridades sanitárias atualmente. Elas são oriundas do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil.

A VOC 202012/01 (Variante 01, ano 2020, mês 12), pertencente à linhagem B.1.1.7, foi notificada em 14 de dezembro de 2020 pelas autoridades do Reino Unido à Organização Mundial de Saúde (OMS).

A disseminação desta variante também já foi identificada em outros 62 países. De acordo com a OMS, a variante foi responsável por um aumento significativo da transmissibilidade, que contribuiu para aumentos na incidência, hospitalizações e pressão sobre o sistema de saúde desde a segunda metade de dezembro de 2020.

Para a ocorrência de óbitos, estudos preliminares indicam que ainda não há evidências suficientes de que a variante esteja associada ao aumento de óbitos comparado com outras variantes.

A 501Y.V2 (Variante 02, ano 2020, mês 12), pertencente à linhagem B.1.351, foi notificada em 18 de dezembro de 2020 pelas autoridades da África do Sul à OMS.

Os resultados preliminares indicam que esta variante também pode sugerir um maior potencial de transmissibilidade. No entanto, ainda é necessária uma investigação mais aprofundada sobre este e outros fatores que influenciam na transmissibilidade, severidade, imunidade, reinfecção, vacinação e diagnóstico.

A variante P.1 (Variante 03, ano 2021, mês 1), pertencente à linhagem B.1.1.28, que também pode ser redigida como B.1.1.28.1, foi notificada em 9 de janeiro de 2021, pela autoridade do Japão à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Ponto Focal do Regulamento Sanitário Internacional (PFRSI) do Brasil.

A notificação descreveu a identificação de uma nova variante em quatro viajantes provenientes de Manaus (AM). Esta nova variante apresenta mutações na proteína Spike, na região de ligação ao receptor, que geraram alterações de importância biológica e são semelhantes àquelas detectadas no Reino Unido e na África do Sul.

Tendo em vista o aumento rápido e expressivo do número de casos e óbitos pela doença em Manaus, a partir de dezembro de 2020, há uma hipótese de que isso esteja relacionado com uma maior infectividade dessa variante.

Com informações portal O Povo Online

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