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14 de fevereiro de 2021

Ritmo lento de vacinação no país abre brecha para multiplicação e mutações do vírus

 

Sem controle da transmissão e com um ritmo de vacinação lento, o Sars-CoV-2 encontra um ambiente perfeito para se multiplicar e desenvolver mutações que desafiam a eficácia das vacinas já produzidas no mundo. Enquanto um imunizante de vírus inativado pode se revelar mais eficaz contra as novas variantes — por conter a totalidade do patógeno, o que prepara o sistema imunológico para uma defesa mais abrangente —, o que utiliza o RNA pode ser redesenhado mais facilmente dentro dos laboratórios para se adaptar às novas cepas. Na dúvida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas indicam que a vacinação contra a covid-19 deve continuar com a maior velocidade possível.

A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, explica que a vacinação rápida é necessária justamente para conter a transmissão do vírus e essa proliferação de novas variantes. “O vírus sobrevive fazendo cópias dele mesmo, fazendo multiplicações. Vai se multiplicando no nosso organismo, fazendo cópias, sendo transmitido, fazendo cópias no organismo de outra pessoa e assim vai sobrevivendo. Então, quanto mais ele circular, mais chances a gente dá a ele de fazer essas cópias e, consequentemente, alguma mutação, que pode ser vantajosa para ele”, ressalta.

Ethel compara o momento com uma competição, em que o novo coronavírus está na frente. “Nesse momento, o vírus está em vantagem porque é mais veloz que nós. Consegue fazer adaptações muito mais rápidas para ter vantagem, ser mais transmissível, conseguir infectar mais pessoas. Teríamos que vacinar muito mais rápido do que ele tem a capacidade de infectar e não estamos conseguindo isso”, avalia.

Assim como Ethel, o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Julio Croda, ressalta a necessidade de dar celeridade à vacinação para conseguir romper as circulações das variantes já conhecidas. “Quanto mais transmissão tem um vírus, maior a chance de mutação e, consequentemente, o surgimento de uma evolução que seja benéfica para ele. Esse acúmulo de mutações, em algum momento, pode levar à perda parcial ou total da eficácia da vacina”, indica Croda. 

O especialista ainda acredita que, pelo que se vê até o momento, será necessário fazer um monitoramento constante para adaptar as vacinas às novas cepas que estão surgindo, como é feito com a vacina da gripe. “Teremos que monitorar para o resto dos tempos esta questão e adaptar os imunizantes às novas variantes, a exemplo da vacina contra gripe”, acredita. Todo ano, a vacina contra a gripe é adaptada para se adequar aos vírus que estão em circulação naquele determinado ano.

Para ele, a única forma de romper esse ambiente de transmissão favorável à replicação do vírus se faz por meio da vacina. Por isso, na última semana, a OMS recomendou que a vacinação continue em países que possuem variantes do vírus. A orientação foi feita depois da África do Sul suspender o uso da Covishield, conhecida como a vacina de Oxford/AstraZeneca — após estudos recentes sugerirem que o imunizante teve uma eficácia baixa em proteger contra casos leves e moderados da doença em pessoas contaminadas com a variante que surgiu no país. A organização reforçou que o imunizante pode ser utilizado mesmo contra as mutações, pois “oferece proteção contra doenças graves, hospitalização e morte”.

Segundo ressaltou o médico epidemiologista e consultor sênior do diretor-geral da OMS, Bruce Aylward, na última coletiva de imprensa da organização, realizada na sexta-feira passada, as vacinas são ótimas ferramentas e devem ser utilizadas. “Estamos confiantes que essas ferramentas irão nos ajudar a controlar melhor a pandemia. [...] Tudo que sabemos agora sugere que nós conseguiremos atingir o objetivo de reduzir a forma mais grave da doença (com as vacinas). Se isso mudar mais para frente, nós ajustamos. Precisamos ser muito cautelosos para não ficarmos confusos, do contrário podemos paralisar as nossas respostas em um momento crucial.”

No Brasil, o Amazonas é foco de preocupação de especialistas e autoridade, porque uma variante foi detectada lá em janeiro. Representantes do Amazonas reivindicaram mais vacinas de maneira prioritária. O Amazonas recebeu 940 mil doses a mais do que outros estados. Ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que o governo enviará vacinas suficientes para acelerar o Plano Nacional de Imunização em Manaus. A perspectiva é alcançar o público de 50 anos.

O Brasil registrou ontem mais 1.043 mortes e 44.299 infecções pelo novo coronavírus. Com os registros, o país soma 9.809.754 infectados e 238.532 óbitos pela covid-19. O Brasil fechou a sexta semana epidemiológica do ano com alta de mortes, mas queda de casos em comparação com a penúltima, a quinta. De uma semana para outra, foram confirmadas 453 mortes a mais e 8.861 casos a menos. O mesmo pode ser observado com a média móvel de casos e mortes medida pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que apontou redução dos casos e aumento das mortes. De acordo com o Conass, o Brasil confirma, em média, 44.566 infecções e 1.047 óbitos por dia. A média móvel de mortes é a segunda maior desde o início da pandemia.

Ainda não há uma tecnologia favorita contra as variantes do novo coronavírus, porém, os especialistas defendem que diferentes vacinas ajudam no combate à covid-19. Isso porque enquanto algumas são mais estáveis e atacam as novas cepas sem precisar de mudanças, outras são facilmente adaptadas diante das mutações.

É o caso do imunizante de RNA, que pode ser redesenhado. “A vacina de RNA consegue fazer mudanças muito mais rápido, porque depende de uma reprogramação por computador do sequenciamento do vírus”, indica a epidemiologista Ethel Maciel. Julio Croda, infectologista da Fiocruz, explica que isso ocorre porque todo o processo é sintético. “O Brasil precisa dessa tecnologia como estratégia científica no desenvolvimento de novas vacinas”, pontua.

Segundo ele, vacinas de diferentes tecnologias também podem ser modificadas diante de novas cepas. Porém, o tempo para realizar a adaptação dos fármacos pode ser maior. A AstraZeneca, responsável pela Covishield, de Oxford, informou que pode levar de seis a nove meses para produzir imunizantes que sejam eficazes contra as novas variantes do novo coronavírus.

Apesar de precisarem de mais tempo, essas vacinas, que utilizam o vírus inativo, são mais estáveis e podem combater as novas cepas sem mudanças. “Não temos garantias ainda. Mas a CoronaVac usa o vírus inteiro inativado para fazer a apresentação ao sistema imunológico, que pode treinar para combater o vírus”, diz Ethel.

Com informações portal Correio Braziliense

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