Na Praia de Iracema, pequenos focos de aglomeração, apesar das grades e barreiras (Foto: |
Amuado, mas sem perder a graça, o ambulante lembra que, num dia como aquele, no ano passado, o logradouro estava coalhado de gente e ele, "mais pra lá do que pra cá", tentando se equilibrar entre o trabalho e a brincadeira.
Ontem, à exceção de uma aglomeração de pombos, o cearense estava sozinho numa praça da Gentilândia vazia. Antes de ir embora, pediu uma cerveja numa banca de revistas. E prometeu criar um "Bloco dos Sem Carnaval", para compensar a síndrome de abstinência momina.
Mas não foi só no Benfica que o batuque se calou, a fantasia se perdeu e a algaravia sonora cedeu lugar à respiração de uma cidade quase toda quietude. Num giro rápido por Fortaleza, O POVO visitou os principais polos do Carnaval da Capital em anos anteriores: além da Gentilândia, a avenida Domingos Olímpio, por onde desfilam escolas de samba e maracatus, e o aterrinho da Praia de Iracema, tradicional ponto de encontro de cortejos e palco de apresentações artísticas.
Habituada a se vestir de festa a cada fevereiro ou março, fazendo passar a alegoria e o canto profundo dos blocos, a Domingos Olímpio era só um estirão de asfalto nesse domingo abafado. Por determinação do decreto estadual, o comércio tinha cerrado as portas mais cedo, de modo a evitar a ação da fiscalização, que fechou temporariamente 358 estabelecimentos, interditou dois e autuou 11 nos dois primeiros dias de vigência da lei. Ao todo, 1.122 estabelecimentos foram fiscalizados por equipes da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), por meio da Vigilância Sanitária e da Polícia Militar.
Em nenhuma esquina um brincante desavisado. Nenhuma baiana à vista. Ninguém a se escorar no muro depois de umas e outras. E onde antes se erguiam as arquibancadas, interrompendo provisoriamente o fluxo de veículos, agora restava apenas a aridez do canteiro.
Na Praia de Iracema, contudo, o panorama era diferente. Mesmo com parte da orla bloqueada com gradis e equipes da Polícia Militar dispostas na avenida, o fortalezense atreveu-se a burlar a norma. Agrupados em torno de caixinhas de som na areia tocando sucessos de axé e bregafunk, insistiam na farra desautorizada.
"A polícia já fez uma dispersão hoje, mas o pessoal sempre volta", conta André Costa, um dos fiscais da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis). "A gente até aconselha, orienta, mas o pessoal não entende", reclama.
Os vendedores também não entendiam. Irritado com esse Carnaval cancelado, José Maria, 38, pôs-se a reclamar quando viu equipes de TV e de jornal no calçadão. Disse que era tudo armação da política, acusou injustiça e repetiu que "precisava apurar pra garantir comida".
"Quero ver proibirem lá na parte rica da praia", desafiou - lá, da mesma maneira, o comércio havia fechado, e nenhum ajuntamento de pessoas, fantasiadas ou não, era permitido, ao menos nos termos do decreto.
Taxista, Fernando Alves também se queixava. Não do veto à festa, mas porque o decreto só valeria para 2021. Antifolião assumido, admitiu que, fosse prefeito ou governador, não teria Carnaval nem neste ano, nem nos próximos. "Todo ano é um inferno, agora estamos no céu", desabafou, feito um Grinch tupiniquim. E rogou: "Ainda vou viver para ver o Carnaval acabar".
Que os deuses da felicidade não o ouçam.
Com
informações portal O Povo Online
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