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23 de janeiro de 2021

Vida sobre duas rodas: histórias de quem redescobriu o prazer de andar de bicicleta

 

Fabiano Cunha lidera o grupo de passeios Pedal Benfica em Fortaleza (Foto: Aurélio Alves)

Desde que a pandemia se configurou, o mundo vem reaprendendo de diversas formas. As rotinas, que antes eram atropeladas por um cotidiano frenético, tiveram de ser readaptadas. Passou-se, dentro de casa, a olhar a cidade com outros olhos. A si também. Algumas paixões, antes adormecidas, foram recuperadas, como a de andar de bicicleta por aí. Foi o que fez Letícia Gabriela, de 29 anos, auxiliar contábil. Assim que foi possível o retorno às ruas, logo após o lockdown, tratou de pôr em prática uma das suas primeiras metas "da nova vida": exercitar-se ao ar livre. "E foi assim que resolvi ir sozinha ao primeiro grupo de pedal que fui".

Mesmo vinda em momento adverso, com o enfrentamento de uma crise sanitária que, infelizmente, não cessou, a decisão de começar a pedalar permitiu que Letícia explorasse caminhos até então distantes para ela, mas, possíveis. "Eu sempre via grupos de ciclistas passando nos passeios e tinha muita curiosidade em começar a ir também". Iniciou sozinha, ficando sem motivação depois. O impulso que faltava ela o encontrou ao entrar em um grupo, como os que via cruzando as avenidas. Além da saúde física, melhoria de condicionamento e disposição, "a prática do esporte de forma coletiva, e a rede de apoio que eu encontrei no grupo, me ajudou muito a controlar, inclusive, crises de ansiedade", diz.

Hoje, Letícia é considerada um exemplo pelo líder do Pedal Benfica, uma iniciativa criada há quase seis anos pelo administrador Fabiano Cunha, 38, declarado apaixonado por bicicletas. "Hoje elas são ciclistas e começaram com a gente na pandemia", referiu-se também a Ivi Rocha, 34, correspondente bancária em uma imobiliária e integrante do movimento Pedal. Segundo Fabiano, "após a pandemia o número de novos ciclistas aumentou consideravelmente". "Acredito que o fechamento das academias possa ter influenciado, mas mesmo antes da pandemia a prática ciclística já vinha crescendo" como um estilo de vida buscado pelas pessoas.

Um estudo antes da pandemia, já alinhava um reflexo importante nesse sentido. Divulgado pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) e pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (Lamob) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsáveis pelo levantamento, o segmento no Brasil chega a movimentar mais de R$ 902,8 milhões por ano. Não só mais áreas destinadas têm a ver, como, por exemplo, o cenário caótico dos grandes centros urbanos. Por que não ir de bike e ainda sendo menos poluente? É o que pretende Letícia, agora e no futuro, priorizando também a saúde, mental, além de física. "Tenho feito o máximo de trajetos possíveis no meu dia a dia de bicicleta", ensaia como um transporte.

Ivi, do mesmo grupo de "bicis" que Letícia, seguindo o exemplo da auxiliar contábil, adotou a prática logo que foi liberada. "Passei por momentos difíceis na pandemia. Descobri uma gravidez, logo em seguida por conta do Covid-19 eu a perdi. Precisava ocupar minha cabeça, o pedal me abriu um novo mundo", transformando-a cada dia mais. "Eu era uma pessoa totalmente sedentária, hoje em apenas três meses de pedal, já participo de desafio online", orgulha-se das conquistas. "O pedal é a minha terapia, melhorei o emocional por ter um momento de qualidade para mim, fiz novos amigos e de quebra emagreci 5 Kg", revela feliz.

O novo hábito, adquirido pela Ivi, além de contribuir para as mudanças que ela cita, é uma reflexão da urgência hoje. "As pessoas sentiram necessidade de fazer algumas coisas que estavam adiando a algum tempo, e essa pandemia acordou para isso", percebe o empresário Tarcísio Lima, tão amante de bike que fundou, na mesma época do Pedal do Fabiano, em 2015, a sua Bike Viva, uma loja especializada mantida em nova sociedade, ao lado da esposa, com quem compartilha, destaca, "o mesmo entusiasmo e objetivo de incentivar o uso da bicicleta como estilo de vida".

"Começou devido à experiência sensacional de se deslocar de bike elétrica pela cidade, tanto eu quanto meu sócio na época éramos apaixonados por bicicletas e usávamos no nosso dia a dia, então aplicamos o conceito na criação da Bike Viva", relembra. Para Tarcísio, que não descarta a necessidade do distanciamento social como um dos motivos pela alta procura, pedalar, além de gostar, é uma soma de fatores. É mais seguro, sem proximidade, é mais rápido e muito mais barato. "É possível além de se cuidar, também capitalizar através de economia", conclui.

"A paixão é inevitável", fala Fabiano Cunha, do Pedal Benfica, sobre andar de bicicleta. "Brincadeiras à parte, começar pedalando em grupo faz toda diferença", indica. "Você consegue se divertir, fazer amigos e praticar exercícios, tudo ao mesmo tempo, além de ser bem mais seguro. E se não tiver bicicleta, pode alugar no passeio", avisa. Para o gestor da iniciativa local, "a cidade melhorou muito a questão da infraestrutura nos últimos anos.

Mais ciclofaixas e mais conscientização, mas ainda há muito perigo". "Pedalar sozinho é um risco mesmo com uma boa sinalização. As dicas são usar capacete, roupas apropriadas, boa sinalização nas bicicletas e evitar andar sozinho", ele reforça. Para participar do Pedal, é cobrada uma taxa de R$ 5 por passeio para cobrir custos com carro de apoio, sinalização, mecânico e outras necessidades. "É um grupo bastante inclusivo e tem passeios leves que se ajustam para quem está iniciando, mas de fato é para quem já sabe pedalar", deixa claro.

Com informações portal O Povo Online

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