18 de janeiro de 2021

"Temos vacina": Anvisa decide por unanimidade

Antonio Barra Torres defendeu o uso de máscaras mesmo após o início da vacinação (Foto: Divulgação/ANVISA)

"Temos vacina", afirmou o diretor-presidente da Anvisa, médico e contra-almirante Antonio Barra Torres, ao proferir o último voto favorável ao uso emergencial das vacinas Coronavac e a farmacêutica AstraZeneca. Após mais de cinco horas da reunião que começou pouco mais das 10h10 da manhã e terminou às 15h20min, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, por unanimidade ontem (17/01) o uso emergencial da Coronavac e da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.

Ao encerrar a reunião, Torres disse que é preciso confiar na Anvisa e nas vacinas que forem certificadas pela agência. Afirmou também que mesmo após o início da vacinação, "a imunidade leva algum tempo" e que é necessário manter o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene das mãos. Reiterou ainda a urgência da vacinação: "Quando ela estiver ao seu alcance, vá e se vacine."

Todos os diretores reconheceram a importância da aprovação das vacinas em caráter emergencial uma vez que o país se encontra num quatro epidêmico grave causado pela Covid-19. Enfatizaram o caráter "técnico e científico" das análises feitas nos documentos exigidos às empresas responsáveis pela produção das vacinas. Quase todos os diretores lamentaram a perda de mais de 200 mil vidas para a doença no Brasil e nenhum deles citou o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro.

A única menção ao presidente - sem citar o nome - foi feita pelo diretor Alex Campos, ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, responsável por sua indicação para a diretoria da Anvisa. Campos creditou à "imperícia do Estado brasileiro" o agravamento da situação de Covid no País, que causou mais de 200 mil mortes.

Em seu relatório, que foi acompanhado por todos os diretores, a relatora e diretora da Anvisa Meiruze Freitas incluiu que a decisão, com relação a Coronavac, deve passar a valer após a publicação do termo de compromisso e "subsequente publicação de seu extrato" em Diário Oficial da União.

Com relação à vacina de Oxford, o voto da diretora vale apenas para o uso das 2 milhões de doses que o governo ainda tenta importar da Índia. A decisão valeria após a publicação de extrato ou "ciência oficial" via ofício.

Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, a Coronavac será fabricada e distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan. A Coronavac é o único imunizante contra a covid-19 com estoque no Brasil. A ideia é que 6 milhões de doses sejam disponibilizadas ainda em janeiro. A eficácia da vacina para evitar a manifestação da doença é de 50,39%, segundo atestou neste domingo a Anvisa.

O imunizante tornou-se alvo de briga política entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro. O mandatário forçou, em outubro, o Ministério da Saúde a cancelar uma promessa de compra da Coronavac. Bolsonaro disse ainda que não compraria a vacina para o plano nacional por sua "origem"

"Da China nós não compraremos É decisão minha. Não acredito que ela transmita segurança suficiente à população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso", disse ele em 21 de outubro à Rádio Jovem Pan.

A vacina, porém, foi comprada pelo governo federal em 8 de janeiro de 2021. Sem garantias sobre a data em que a Índia irá liberar a importação da vacina de Oxford/AstraZeneca, apenas a Coronavac tornou-se opção viável para começar imediatamente a vacinação no País. O ministério, então, pede para o Butantan entregar imediatamente todas as 6 milhões de doses da Coronavac que estão prontas para uso. O governo de São Paulo respondeu que enviará esta carga, mas pede para que as doses que serão aplicadas na população paulista sigam no Estado. O impasse pode parar na Justiça, reconhecem autoridades dos dois lados da disputa.

Também com uso emergencial aprovado por unanimidade, a eficácia geral da vacina de Oxford/AstraZeneca é de 70,42%, segundo calculou a Anvisa. O dado considera mais de uma forma de aplicação e intervalo entre doses. No Brasil, com duas doses, a eficácia ficou em 62%.

A importação das doses prontas, porém, foi adiada pelo governo da Índia. O presidente Bolsonaro disse na sexta-feira, 15, que a entrega deve levar mais dois ou três dias, mas o governo não confirma nem sequer em que data o voo que em direção à Índia deixará o Brasil para receber esta vacina. O governo indiano aponta "problemas logísticos" para a entrega da vacina, pois simultaneamente está começando a sua própria campanha de imunização.

Além das duas milhões de doses prontas, a Fiocruz deve receber ingrediente para fabricar cerca de 100,4 milhões de doses neste primeiro semestre, mas a entrega está atrasada. No segundo semestre, o laboratório brasileiro quer produzir 110 milhões de doses de ponta a ponta. A ideia é que estas doses sejam liberadas só em meados de fevereiro, mas o uso das doses fabricadas no País não foram objeto do pedido à Anvisa avaliado neste domingo, 17. Ou seja, seria preciso nova avaliação da agência.

Sem a vacina de Oxford em mãos, a campanha de imunização deve começar com a Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica Sinovac e distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan.

O Ministério da Saúde planeja começar a campanha nacional na quarta-feira, 20, às 10h. O Palácio do Planalto pode receber uma cerimônia, na terça-feira, 19, para marcar o começo da campanha. Não está descartado aplicar a primeira dose durante este evento, mas a pressão pela crise em Manaus (AM) pode levar o governo a desistir da cerimônia em Brasília.

Com informações portal O Povo Online

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