Especialistas apontam alternativas ao presidente (Foto: Evaristo Sá) |
Depois de assistirem à derrota da maioria de seus candidatos no primeiro turno das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro e aliados avaliam as lições que esse resultado deixa para o projeto de reeleição em 2022. A construção de uma base de sustentação política e a filiação do presidente a um partido estão entre as opções consideradas.
O baixo desempenho do bolsonarismo nas disputas municipais tem sido atribuído por analistas, em grande parte, ao fato de o chefe do Executivo não ser filiado a um partido. A diluição dessa bandeira em várias legendas, durante as campanhas, acabou prejudicando a comunicação com os eleitores, avaliam.
Sem perspectiva de que saia do papel o Aliança pelo Brasil, partido que tenta fundar — já que foram alcançados apenas 8% das 492 mil assinaturas necessárias —, Bolsonaro deve se abrigar em outra legenda já existente.
O presidente iniciou conversas com lideranças do Centrão, bloco partidário que saiu vitorioso nas votações do domingo, emplacando mais de dois mil prefeitos. O PTB, liderado por Roberto Jefferson, aliado do chefe do Executivo, é uma das siglas cogitadas.
Além disso, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, afirmou ter convidado Bolsonaro para retornar ao partido, que cresceu nos municípios e se tornou, no domingo, o segundo com mais prefeitos (682) e vereadores (6.353) eleitos do país, atrás apenas do MDB, que fez 774 e 7.335, respectivamente.
A partir do próximo ano, o Centrão assumirá o controle de muitas cidades que se tornarão palanques cobiçados na eleição presidencial de 2022. Com a derrota de candidatos de Bolsonaro em grandes municípios, como São Paulo, o presidente poderia tentar recompor a força política ingressando em algum partido do bloco.
Caciques do PP ouvidos pelo Correio afirmam que o resultado das eleições municipais poderá influenciar a decisão do presidente. “Com o número grande de prefeituras, o PP vai poder garantir palanque para Bolsonaro em diversas cidades. Talvez, isso pese na decisão dele”, afirmou um integrante da sigla, sob a condição de anonimato. “O bom filho à casa torna. Bolsonaro já foi do PP. Concorrer à reeleição com essa estrutura, talvez, torne o jogo mais fácil”, disse outro representante.
Além de uma base partidária de sustentação, a falta de definição do governo sobre o que fazer depois do fim do auxílio emergencial, previsto para dezembro, pode comprometer o projeto de reeleição do presidente, cujos índices de aprovação aumentaram após o início do pagamento do benefício.
Entre as propostas ventiladas, o Renda Cidadã — repaginada no programa Bolsa Família, marca dos governos petistas — seria a solução. No entanto, o Palácio do Planalto esbarrou nos limites orçamentários para ampliar o programa.
O governo tenta encontrar uma fonte capaz de financiar o programa de distribuição de renda. O relator da proposta, senador Márcio Bittar (MDB-AC), vai se reunir com líderes, amanhã, para apresentar sua proposta. O parlamentar estuda medidas de austeridade com o objetivo de garantir o custeio do projeto e não descumprir o teto de gastos.
Para Daniel Duque, pesquisador da área de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), hoje, não haveria brechas no orçamento para financiamento do programa. Na visão dele, qualquer proposta seria com furo do teto de gastos. “Para 2021, na minha avaliação, não há nenhum espaço no orçamento, já que qualquer mudança de orçamento dependeria do aval do Congresso, e nada foi votado. A não ser que o governo pedale ou dê algum jeitinho, para abrir um espaço que não deveria existir”, explicou.
Segundo o pesquisador, com o fim do auxílio emergencial haverá um aumento da pobreza no Brasil e isso poderá resultar em perda de popularidade de Bolsonaro. “A gente tem é uma expectativa de pobreza e uma piora do bem-estar social do país. A relação que se estuda, nesse caso, é bem direta, quando se tem uma perda abrupta de renda, principalmente entre os mais pobres, é na perda de popularidade do governo”, emendou.
Assessor especial para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins fez um mea-culpa, em suas redes sociais, após os resultados do primeiro turno das eleições municipais. “Enquanto batíamos cabeça para fazer o básico e tentar nos organizar, a esquerda se renovou, assimilou as lições de 2018 e soube usar a internet e a nova realidade política a seu favor. Ou fazemos a devida autocrítica, ou nossos erros cobrarão um preço ainda maior no futuro”, escreveu ele, um dos integrantes da chamada ala ideológica do Planalto.
Para o assessor, a falta de uma estrutura partidária de direita nos municípios contribuiu para o resultado das urnas. “Não adianta chegar às vésperas da eleição e dar carteirada nem tentar levar no grito”, avisou.
Com
informações portal Correio Braziliense
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