Especialistas apontam que a metade das mortes seriam evitadas se adotadas as medidas corretas (Foto: Fábio Lima) |
Pouco
mais de cinco meses após o início do contágio da Covid-19 no Brasil, quase 100
mil vidas foram perdidas. Até a noite de ontem, eram 99.572 óbitos, segundo o
Ministério da Saúde. Especialistas que acompanham a evolução da infecção põem
luz sobre uma questão determinante para as perspectivas do País: quantas mortes
poderiam ter sido evitadas? Como impedir essa proporção trágica? Pesquisadores
estimam que se Governo Federal tivesse agido de forma efetiva contra a
transmissão do novo coronavírus, entre 40% e 50% das vidas teriam sido salvas.
Além da letalidade do vírus, para pesquisadores, o número de mortes foi ampliado pela falta de assistência de saúde e pelas desigualdades sociais. O Governo negou a gravidade da situação e não coordenou o enfrentamento à pandemia junto a estados e municípios. A experiência do Brasil em saúde pública foi subutilizada e a estrutura de atenção básica não foi fortalecida tampouco teve apoio logístico.
"Não havia necessidade da doença chegar nesse ponto. Com um bom planejamento, metade dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Além de não fazer o que precisava ser feito, com ausência de planejamento, o Governo Federal atrapalhou o trabalho dos estados e municípios que queriam fazer um trabalho sério", defende Natália Pasternak, microbiologista e criadora do Instituto Questão de Ciência (IQS).
A pesquisadora frisa que o endosso a tratamentos mesmo contra a evidência científica vigente, como a cloroquina e a ivermectina, causa desperdício de recursos que poderiam ser empregados com insumos, respiradores, anestésicos, equipamentos de proteção individual além de gerar falsa sensação de segurança na população.
Atualmente, um relativo platô mascara o crescimento acentuado da doença, principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. A aparente estabilização decorre do "balanço" entre áreas com aumento e áreas com queda de novos casos e óbitos.
"A progressão varia muito. Quando olhamos o Brasil todo deixamos de ver situações muito diferentes. Se a gente olha como um todo, há uma relativa estabilização. Esse equilíbrio esconde uma dinâmica muito grande. Um compensa o outro", aponta Guilherme Werneck, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ).
Para Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Covid-19 Brasil, se medidas de controle tivessem sido tomadas a partir do dia 1º de junho, quando o País iniciou processo de reabertura em diversos locais, no mínimo, 36 mil vidas teriam sido salvas. "Quase 40% dos mortos", calcula o físico, que pesquisa modelagem computacional e sistemas de informação.
Conforme
Guilherme Werneck, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem potencialidades que
deveriam ter sido melhor empregadas no enfrentamento. "Tem um sistema de
atenção básica, experiência em saúde pública e uma capacidade científica já
comprovada. Temos os recursos para enfrentar de uma forma melhor do que foi
feita. Estamos em uma posição que poderíamos não estar", corrobora. Para o
médico, que é docente no Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ),
"o papel da ciência é mostrar as mortes que poderiam ser evitadas até em
homenagem a essas pessoas".
No mesmo ritmo, número dobra em poucos meses
Se a tendência de disseminação da Covid-19 e, sobretudo, as ações de enfrentamento continuarem no mesmo patamar, o número de óbitos pode chegar a 200 mil nos próximos meses, apontam pesquisadores. "Se continuar do jeito que está, vamos atingir no começo de outubro. Fomos um dos únicos países que começou o processo de abertura com o número de casos crescendo", projeta Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Covid-19 Brasil. Ele avalia que se as atividades em escolas na maioria dos estados voltarem, o número pode ser antecipado até em um mês.
O epidemiologista Bruno Pereira Nunes, pesquisador e professor do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), afirma que é tempo de tomar medidas para "evitar que epidemia avance mais ainda, principalmente agora nas regiões Sul, Centro-Oeste e alguns do Sudeste", considera.
As oportunidades que o País ainda tem são fortalecer as estratégias de controle não farmacológico, como afastamento social, uso de máscara e a atenção para uma abertura de forma paulatina. "Precisa de um plano bem estruturado com base em informações epidemiológicas boas e com participação da população. A gente pode frear um pouco. Muito importante nesse momento aumentar a vigilância de casos e contatos, a capacidade de diagnóstico para que as pessoas sejam identificadas e isoladas", explica Guilherme Werneck, vice-presidente da Abrasco.
O jornal POVO entrou em contato por email com o Ministério da Saúde sobre o acúmulo de
quase 100 mil mortes pela Covid-19 no Brasil e as críticas de especialistas com
relação a com relação à atuação da pasta. Não houve retorno até o fechamento
desta edição.
Com
informações portal O Povo Online
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