Os pesquisadores da Universidade College Londres consideraram as crianças e os adolescentes tão infecciosos quanto um adulto (Foto: Divulgação/UCL) |
Publicado na revista The Lancet Child & Adolescent Health, um dos artigos, da Universidade College Londres e da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres, fez a primeira estimativa sobre os níveis de cobertura de testes necessários para que as escolas, fechadas desde março, reabram em setembro sem o risco de uma nova epidemia. Para o estudo, os autores usaram dados demográficos e epidemiológicos e modelaram diferentes cenários de volta às aulas presenciais, incluindo tempo integral, meio período e rodízio de alunos em semanas alternadas. Para cada situação dessas, os pesquisadores estimaram três cenários de testes.
Segundo os autores, para evitar a segunda onda de covid-19 no Reino Unido, de 59% a 87% das pessoas com sintomas, dependendo do cenário, devem fazer o teste de PCR, que detecta o vírus ativo, e o rastreamento e o isolamento de contatos precisam ser monitorados. O modelo mostra que, no cenário de aulas integrais, o retorno poderá ser seguro caso 75% dos indivíduos infectados sejam diagnosticados e isolados, e 68% daqueles que tiveram contato com esses doentes sejam identificados, ou 65%, na hipótese de meio período. Se apenas 40% dos contatos pudessem ser rastreados, 87% (integral) e 78% (meio período) de pessoas sintomáticas teriam de ser diagnosticadas e ficar em quarentena.
“No entanto, se os níveis de testes diagnósticos e de rastreamento de contatos caírem abaixo disso (40%) na população do Reino Unido, a reabertura de escolas com o relaxamento gradual das medidas de bloqueio provavelmente resultarão em uma onda secundária, que atingiria o pico em dezembro de 2020 se as escolas abrirem em período integral, e em setembro e em fevereiro de 2021 se um sistema de meio período fosse adotado em setembro”, alerta o artigo. A nova epidemia poderá voltar mais forte, com taxa de reprodução (quantas pessoas um infectado pode contaminar) até 2,3 vezes maior da verificada nessa primeira onda.
Os autores esclarecem que consideraram as crianças e os adolescentes tão infecciosos quanto um adulto. Como ainda não se sabe definitivamente se isso é verdade, os pesquisadores refizeram os cálculos considerando que esse potencial era de 50% em relação ao de pessoas com mais de 20 anos. Os resultados foram os mesmos.
“É importante observar que nosso modelo analisou os efeitos da reabertura escolar com o afrouxamento das restrições em toda a sociedade, pois é provável que a reabertura ande de mãos dadas com mais adultos voltando ao trabalho e com outras medidas. Portanto, nossos resultados refletem um afrouxamento mais amplo do bloqueio, em vez dos efeitos da transmissão exclusivamente nas escolas”, diz Jasmina Panovska-Griffiths, epidemiologista da Universidade College Londres, que liderou o estudo.
Para Jose David Urbaez, infectologista e diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, discutir a reabertura das escolas em países onde a covid-19 está em queda, como a Inglaterra, é oportuno, ao contrário do Brasil. “Com a curva em alta, é uma discussão totalmente sem sentido. E a queda tem de ser consistente: duas semanas, sendo que todos os dias os casos são menores”, observa. “O problema não são as crianças, que não pegam a doença de forma tão intensa, com exceção de casos raríssimos. O problema são os pais, professores, os funcionários, a quantidade de deslocamentos. Esse vírus está à procura de pessoas”, diz.
Urbaez lembra que, até recentemente, havia dúvidas se o fechamento das escolas colabora para a contenção da pandemia, já que esses estabelecimentos foram suspensos ao mesmo tempo em que se impediu a abertura do comércio, e muitos trabalhadores entraram em regime de teletrabalho. Contudo, o infectologista cita um estudo publicado em 29 de julho na revista da Associação Médica dos Estados Unidos, a Jama, que concluiu que essa medida foi essencial para que a epidemia não fosse pior nos EUA.
O artigo observacional utilizou dados nacionais de casos e óbitos entre 9 de março e 7 de maio. Os autores ajustaram os resultados para considerar apenas a influência das escolas. Eles constataram que o fechamento desses estabelecimentos foi associado a 62% menos casos e 58% menos óbitos do que ocorreriam caso o ensino presencial tivesse sido mantido.
O oftalmologista pediátrico Tiago Ribeiro, do Visão Hospital de Olhos, destaca que, mesmo que as medidas de distanciamento sejam tomadas nas escolas, crianças pequenas terão dificuldade de manter o uso da máscara adequadamente e, dificilmente, conseguirão ficar distantes umas das outras. “Fico na dúvida se vai ser possível voltar tomando as medidas de segurança”, diz. Jose David Urbaez preocupa-se também com as escolas públicas e de regiões mais pobres: “Será que terão sabão, álcool, máscaras e protetores faciais suficientes? Fora o teste de PCR, que nunca foi feito em massa no Brasil.”
Aluna do terceiro ano do ensino médio de uma escola particular da Asa Sul, Isadora Rivadavia Barbosa de Oliveira, 17 anos, está há cinco meses sem aulas presenciais e, mesmo perto de tentar uma vaga em uma universidade, prefere não voltar agora.
“Os números estão aumentando a cada dia que passa. Se a gente voltar, vão aumentar mais. Alguns alunos pegam ônibus, outros vão de Uber, pegam metrô… Tem uma série de fatores que, no momento, não colaboram para a volta às aulas, fora que algumas escolas não têm estrutura nenhuma para reabrir”, observa.
A mãe da jovem, a advogada Eliana Márcia Barbosa de Oliveira, 54 anos, conta que o colégio da filha consultou os pais sobre as aulas presenciais. “No meu caso, falei que não concordaria. Minha mãe tem 87 anos, tem pressão alta, diabetes, então, prefiro que as aulas continuem on-line.”
Com
informações portal Correio Braziliense
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