23 de julho de 2020

Derrota do governo no Fundeb mostra que apoio do "centrão" não é irrestrito

Apesar de ser uma sessão virtual vários Deputados compareceram ao Plenário (Foto: Maryanna Oliveira)


A derrota do governo na proposta de emenda à Constituição (PEC) do Fundo de Desenvolvimento e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) na Câmara dos Deputados foi uma amostra de que a tão sonhada base governista com partidos do chamado ‘centrão’ no Congresso não será irrestrita, como é o caso do apoio que o presidente Jair Bolsonaro tem de parlamentares bolsonaristas.

O governo ensaiou um teste desta base: mandou uma proposta que foi duramente rechaçada e acabou sendo derrotado. Mas não foi para o embate. Buscou um acordo, e ainda tenta vender que a derrota do governo, que não conseguiu emplacar pontos enviados no fim de semana, tratou-se de uma vitória - o que não foi. 

No Congresso, já se fala que o ‘centrão’ está dividido entre os chamados ‘puro sangue’, que aceitam as propostas do governo de forma mais receptiva e atuam conforme os interesses do Planalto (seriam o PP, PSD, PL e Republicanos), e os mais ‘moderados’, que dialogam, mas não recuam em pautas consideradas importantes (que seriam, por exemplo, o Solidariedade, Patriota e Avante).

E é claro que a pauta da Educação tem um apelo muito grande entre parlamentares, que recebem cobranças da população e de entidades representativas. Deputados afirmam que não dá para votar contra a Educação. Para o líder de um partido consultado pelo Correio, o governo percebeu que se fosse ao enfrentamento, iria sofrer uma derrota mais sonora. De acordo com este parlamentar, é notório que o ‘centrão’ é uma base com instabilidade, que segue ao lado do governo “até certo ponto”.

O ‘centrão’, que ganhou espaço no governo nos últimos tempos, com cargos em ministérios, foi chamado para ajudar o Planalto. Na segunda e terça-feira, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), interlocutor do governo, se reuniu com lideranças de diversos partidos, incluindo PP, Republicanos e Solidariedade.

Na conversa, Ramos pediu mais tempo para conseguir articular a proposta enviada pelo governo no fim de semana. Pediu também apoio na ideia de um Fundeb só a partir de 2022, uma fatia de 5% para o Renda Brasil (que deve substituir o Bolsa Família) e um teto de 70% para pagamento de profissionais da educação. O projeto aprovado acabou sem nenhuma delas. 

Um parlamentar de um partido do centrão disse à reportagem encarar que, no fim, o governo acabou sendo prudente. “Não podia correr o risco de testar a sua base em um tema como este”, disse. Segundo ele, o governo tem percebido que ações assistencialistas - como o auxílio emergencial - dão resultado, e por isso o ministro Paulo Guedes (Economia) resolveu enviar, ainda que de última hora, a proposta dos 5% para o Renda Brasil, sem pensar bem no “reflexo político”.

“Nunca foi fácil manter o centrão, fazer essa negociação. O governo sabe disso, e tem procurado se alinhar”, disse este mesmo deputado de um partido que integra o centrão. A redução das falas polêmicas, dos embates com os outros poderes, são todos reflexos desse alinhamento de um governo que percebeu não ter governabilidade, e que busca passar a ter.

“Não dá para governar só com as pessoas ligadas com as ideias deles. Não dá para governar só com ala ideológica e militares. Mas não vai ter votação fechada. Tem que ter discussão”, disse o deputado.

Com informações portal Correio Braziliense

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