Deputados da Frente Parlamentar Evangélica em visita ao presidente Bolsonaro (Foto: Divulgação/Facebook) |
A Frente Parlamentar Evangélica iniciou uma ofensiva para barrar a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) punir o abuso de poder religioso. O grupo pressiona os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Os deputados também apostam na mobilização de fiéis para evitar o avanço da medida, que retornará ao centro do debate do TSE em agosto.
Na última quarta-feira (22/07) deputados da frente evangélica tiveram audiências com Maia e
Alcolumbre. Nos dois encontros, os evangélicos pediram apoio com o argumento de
que a punição ao abuso de poder religioso pode colocar em risco a liberdade de
culto. "É mais uma vez o TSE tentando usurpar competência (do Congresso) e
inventar o que não existe", disse ao Estadão o deputado Sóstenes
Cavalcante (DEM-RJ), um dos mais atuantes da frente. "Temos, na
legislatura, limites claros para ambientes públicos e inclusive para ambientes
religiosos", afirmou.
O
assunto também foi discutido em jantar que reuniu cerca de 30 parlamentares em
um restaurante no centro de Brasília.
O
TSE iniciou no fim de junho a discussão sobre incluir o abuso de poder
religioso como motivo para a cassação de políticos. Atualmente, o tribunal
entende que apenas o abuso de poder político e econômico pode resultar na perda
do mandato. O debate, levantado pelo ministro Edson Fachin, ainda está em fase
inicial, mas já provocou forte reação nas redes sociais e mobilizou aliados de
Bolsonaro que veem uma "caça às bruxas".
Três
ministros do TSE ouvidos reservadamente pela reportagem avaliam que o desfecho
da discussão é imprevisível. O principal ponto é o estabelecimento de um novo
tipo de abuso que seja punível eleitoralmente - um debate considerado
"muito delicado" e "disputado" pelos magistrados. Para um
ministro, que pediu para não ser identificado, trata-se de um tema novo, ainda
sem jurisprudência firmada.
Na
avaliação do deputado e líder religioso Marco Feliciano (Republicanos-SP), a
legislatura atual já abarca regras para punir abuso de poder religioso durante
as eleições. "São claras e estão em lei: não pode fazer campanha dentro
das igrejas e tampouco usar do aparato da organização religiosa em favor de um
determinado candidato. O TSE não pode e não deve legislar, pois isso é
competência do Congresso", disse ele.
Para
o deputado, o que não pode haver é uso das organizações religiosas para
subverter a igualdade entre os competidores nas eleições. "Mas esperar que
um evangélico não possa votar em um pastor que defende seus valores é tornar o
brasileiro que professa essa fé um cidadão pela metade, um incapaz que deve ser
tutelado pelo Estado."
Limites
O
processo em análise no TSE gira em torno da vereadora de Luziânia (GO)
Valdirene Tavares (Republicanos). Pastora da Assembleia de Deus, ela é acusada
de usar a posição na igreja para promover a sua candidatura, influenciando o
voto de fiéis. Valdirene foi reeleita em 2016.
Relator
do caso, Fachin votou contra a cassação da vereadora, por concluir que não
foram reunidas provas suficientes no caso concreto para confirmar o "abuso
de poder religioso". No entanto, fez uma série de observações em seu voto
sobre a necessidade de Estado e religião serem mantidos separados para garantir
a livre escolha dos eleitores. Ainda propôs a inclusão do abuso de poder de autoridade
religiosa em ações que podem, eventualmente, levar à cassação de mandato de
políticos - de vereadores a presidente da República.
"A
imposição de limites às atividades eclesiásticas representa uma medida
necessária à proteção da liberdade de voto e da própria legitimidade do
processo eleitoral, dada a ascendência incorporada pelos expoentes das igrejas
em setores específicos da comunidade", destacou Fachin no julgamento.
A
bancada evangélica agendou uma audiência com Fachin no dia 5 de agosto. A
intenção dos parlamentares é tentar barrar o avanço da proposta pelo diálogo e
com o apoio dos chefes de Poderes, como Bolsonaro, Alcolumbre e Maia. E falam
em eventual mobilização popular para pressionar os sete ministros da Corte
Eleitoral. "Se o TSE e os TREs (tribunais regionais eleitorais) cumprirem
e fiscalizarem o que já está legislado sobre templos religiosos, já é
suficiente para coibir qualquer abuso", afirmou Sóstenes.
Além
da audiência com Fachin, a bancada evangélica pretende pedir uma reunião com o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, assim que ele assumir o
comando da Corte, em setembro.
Em
outra investida, o presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos
(Anajure), Uziel Santana, vai elaborar uma manifestação escrita para convencer
os ministros do TSE a não incluírem o abuso de poder religioso como motivo para
cassar mandatos de políticos.
"Criar,
via Poder Judiciário, uma tese que, no próprio nome, já estigmatiza e cria um
preconceito velado contra os religiosos, é um atentado ao princípio democrático
que fundamenta nossa Constituição", afirmou.
Com
informações portal O Povo Online
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