O Brasil já se aproxima da marca de dez mil mortos antes de completar sessenta dias da primeira confirmação de óbito (Foto: Camila Lima) |
Faz um mês e meio que o empresário Junior Dursk disse que a economia não pode parar por causa de cinco mil ou sete mil mortes. Ontem o Brasil ultrapassou a marca de nove mil mortos, 53 dias após a primeira confirmação de óbito. O dono da rede de hambúrgueres Madero não disse quantos mortos, na opinião dele, justificam parar o País, na tentativa de prevenir essas mortes. Para você, com quantas mortes vale a pena arcar para reabrir a economia? Qual seu número?
A não ser que alguém imagine que o vírus não vai se espalhar ainda mais com maior quantidade de pessoas circulando. Isso se confirma nos lugares em que as restrições foram flexibilizadas. Em Blumenau, desde a reabertura os casos triplicaram. O município catarinense, que não tinha nenhum óbito até então, registrou a primeira morte nesta semana. Em Goiás, cerca de dez dias após a flexibilização, o número de casos duplicou. Entre segunda e quarta-feira desta semana, houve aumento de 46% no número de mortes contabilizadas.
Não só no Brasil. Na Alemanha, referência no enfrentamento à pandemia na Europa, também teve aumento dos casos após iniciar a reabertura. No País se teme a segunda onda da doença. A abertura prossegue repleta de cuidados e não se descarta novas restrições caso haja aumento expressivo. O País, de todo modo, está em outro momento do enfrentamento. A distância entre Brasil e Alemanha no enfrentamento à Covid-19 tem a disparidade de um 7 a 1.
Daí eu insisto: quantas mortes valem o esforço para reabrir a economia brasileira agora? Com quantas você topa arcar? Pensar no Brasil é uma dimensão muito ampla, perde-se a ideia de proporção. Então, a morte de quantas pessoas próximas a você vale reabrir a economia? De quantos familiares e amigos você estaria disposto a abrir mão para ver a retomada do comércio, dos serviços? Porque não creio que alguém imagine que, com a retomada das atividades hoje suspensas, os outros funcionários do seu trabalho poderão ficar doentes, os clientes poderão adoecer, ou os funcionários e clientes dos concorrentes, mas você e os seus passarão incólumes.
Essa é a escolha que se quer fazer hoje. E com uma falsa promessa. O aceno de retomada da economia. Meus caros leitores, minhas caras leitoras, mesmo sem decreto a atividade econômica não voltará nem perto do normal em meio a uma pandemia. As pessoas precisam comprovar isso na pele? Precisam pagar para ver?
Sucesso
e fracasso
Aqueles que se opõem à estratégia global de enfrentamento à pandemia, primeiro, falam como se existissem respostas prontas e simples. Há muitos erros cometidos, sim. Está-se aprendendo com o vírus ainda. Não se sugere nada alternativo. Falou-se de usar a cloroquina - que já é usada, conforme prescrição dos médicos. Mas, isso é alternativa terapêutica para quem já está doente. Uma das primeiras pessoas do Ceará foi tratada com o medicamento e morreu. Entre outras. Como há as que se curaram. Não há milagre. Falou-se do excêntrico isolamento vertical, só dos grupos de risco. Ninguém explicou como isolar idosos, diabéticos e outros tantos que moram em favelas, em casas com famílias enormes. Como confinar só essa pessoa?
Para os críticos, qualquer resultado é argumento. Se, com o isolamento, os casos são poucos, aponta-se que o remédio foi muito amargo, Que não precisava daquilo tudo. Não se cogita o sucesso da medida. Se, por outro lado, os casos sobem muito com isolamento, aponta-se que não deu certo. Que foi um fiasco mesmo assim. Então, melhor deixar as pessoas circularem, adoecerem e morrerem, parece ser o argumento. Esse ponto não leva em conta o tão recorrente desrespeito ao isolamento. Também não considera como seria sem o isolamento.
Afinal, só tem um jeito de saber qual a dimensão a doença teria sem as ações de enfrentamento a ela: se nada tivesse sido feito. Parece ter muita gente que defende exatamente isso.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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