Tornou-se
lugar comum afirmar que, ao fim da crise do coronavírus, encontraremos uma
sociedade transformada. O virologista Atila Iamarino, cruzando ciência e
filosofia, tornou-se umas das vozes mais ouvidas sobre o assunto. Para ele, as
pessoas que pedem o fim do isolamento querem voltar a "um mundo que não
existe mais".
Em
recente entrevista, o jornalista americano Thomas Friedman disse ter aprendido
uma coisa na profissão: nunca começar uma notícia ou artigo com a frase "o
mundo nunca mais será o mesmo". No entanto - em aparente contradição - ele
diz que passaremos a separar as eras como AC (antes do coronavírus) e DC
(depois do coronavírus).
Filósofos
do mundo inteiro abordam o assunto em artigos e palestras, muitas vezes com
posições antagônicas. É o caso do esloveno Slavoj Zizek (o "filósofo
pop") e do sul-coreano Byung-Chul Han. O site chileno
"lapeste.org" montou um quadro, a partir de textos de ambos,
mostrando como eles veem a situação.
Enquanto
Zizek afirma que a pandemia "deu um golpe mortal no capitalismo",
Byung-Chun anota que "depois da pandemia o capitalismo continuará com mais
força".
O
esloveno preconiza uma nova era de solidariedade planetária, uma espécie de
novo "comunismo". Que surgirá, diz ele, não por idealismo, mas por um
ato racional, pois a cooperação é o único modelo que "poderá nos
salvar". Porém, Byung é pessimista. Ele afirma que a crise não vai gerar
nenhum sentimento de coletividade forte, pois cada um tem como preocupação a
própria sobrevivência. E continua: seguirá uma era de regimes autoritários,
pois a pandemia fez com que os cidadãos passassem a concordar com maior
vigilância digital, permitindo o controle policial por parte do Estado. Por
fim, Byung expõe que o capitalismo não entrará em colapso por um vírus e sim
por uma "revolução humana".
Nesse
aspecto, talvez o esloveno concorde com o colega sul-coreano, pois todas as
mudanças no mundo são feitas pelos homens. O que o vírus fez foi trazer à luz
do sol todas as contradições de um regime que produz cada vez mais desigualdade
e milhões de seres humanos considerados descartáveis.
O
que surgirá a partir daí é uma equação aberta.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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