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8 de abril de 2020

Mandetta prega união, mas avalia que só fica no governo até fim da pandemia

Em entrevista com Braga Netto, Mandetta diz que precisa da participação de todos  (Foto: José Dias)
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, saiu da reunião com o presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, com a certeza de que seu mandato à frente da pasta dura até o fim da crise de coronavírus, que não tem prazo para terminar. O desgaste entre os dois chegou ao limite, mas a reação nos Três Poderes em razão da possibilidade de demissão do médico surpreendeu até mesmo o chefe do Executivo. A popularidade do ministro cresceu bastante nas últimas semanas, em razão das decisões que tomou e que foram enaltecidas também por governadores e entidades da sociedade civil. Os elogios fizeram com que ele conquistasse a confiança dos brasileiros em meio às incertezas sobre o futuro.

Ao longo da conversa com o presidente, Mandetta foi persuadido a mudar seu comportamento, para se alinhar ao do chefe, que defende um relaxamento do isolamento e o uso da cloroquina como tratamento do coronavírus, mesmo sem estudos científicos suficientes para atestar a eficácia do medicamento, usado contra malária, no combate à Covid-19. No entanto, o ministro ressaltou que iria se opor a qualquer declaração que não fosse baseada em estudos sólidos e chancelada por especialistas do setor de saúde.

Diante do posicionamento, Mandetta saiu do encontro convencido de que a saída dele do governo é uma questão de tempo, mas que o próprio presidente percebeu que a manutenção dele no cargo é necessária para evitar acirramento político em meio à crise sanitária.

Mandetta concordou que é necessário unir integrantes do governo para combater a epidemia e que tensões políticas só agravam o problema. Ele deixou claro que não pediria demissão, sob hipótese alguma, mas que, se fosse exonerado, sairia sem apresentar resistência e contribuiria com a transição do cargo.

O general Braga Netto, ministro da Casa Civil, minimizou a situação. “A reunião de ontem (segunda) foi rotineira de ministros. O presidente tem o direito de convocar uma reunião, e o assunto que foi tratado lá vai ficar somente na reunião interna dos ministros”, frisou.

O militar afirmou que o encontro não tratou da demissão do ministro da Saúde, embora o próprio Mandetta tenha convocado uma coletiva de imprensa, logo após o encontro, para afirmar que fica no cargo, e destacar que seu trabalho e de sua equipe continuaria.

Ontem, Mandetta destacou as opiniões divergentes no governo, mas disse que a intenção é de pacificar as relações. “Tudo o que estamos precisando agora é de união. Tudo que estamos precisando agora é de participação de todos, de foco. É normal, ninguém consegue, numa situação dessas, ter um olhar só de um ângulo”, minimizou, durante coletiva.

“No Ministério da Saúde, a gente tem dúvidas. Eu sei que nada sei, que vamos fazer o nosso melhor. Às vezes, as pessoas têm opiniões divergentes, é normal que tenham. Acho que é um conjunto de cabeças muito qualificado que pensam juntas e, ontem (segunda), fez um exercício coletivo.” O ministro destacou que o foco é nas próximas ações, e que os problemas passados serão deixado de lado, ao menos por um tempo.

O professor Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou que toda a tensão deixa Bolsonaro ainda mais apático no governo. “O presidente Bolsonaro não apenas sai com menos força no episódio, ele entrou com pouca força no episódio. É uma situação bastante peculiar que um ministro se sobressaia em relação à liderança de um presidente e coloque o chefe do Executivo em uma situação constrangedora dentro do próprio governo”, destacou.

China
Preocupado com insumos hospitalares, máscaras e respiradores para atender equipes médicas e pacientes durante a pandemia, Mandetta ligou para o embaixador chinês Yang Wanming e garantiu apoio do país asiático. A China se revoltou com declarações do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que falou em “vírus chinês” e criou uma crise diplomática, e com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, outro que culpou o país asiático pela pandemia. Na ligação, o ministro ressaltou a história de amizade entre as duas nações e que o Brasil precisa da experiência da China, que está conseguindo combater a Covid-19.

Ele já havia sido comunicado por interlocutores que os chineses aceitariam ouvi-lo e colaborar, mesmo sem contato direto com o presidente da República e sua família.

“Para fazer a aquisição na China, o mercado estava extremamente aquecido e difícil. Hoje à tarde (ontem), fiz um diálogo por telefone com o embaixador da China, e nós iniciaremos um trabalho conjunto, com o ministro adjunto, encarregado de negócios, para, em cada compra, cada contrato, garantirmos o máximo de transparência, solidez e informações a respeito”, afirmou.

Pela internet, Wanming destacou o teor amistoso da conversa e amenizou as divergências. “Nesta tarde (ontem), na conversa telefônica com o ministro Luiz Henrique Mandetta, coincidimos em reforçar a cooperação bilateral, especialmente entre os dois ministérios da Saúde, para compartilhar experiências do combate à Covid-19 em prol do enfrentamento conjunto deste desafio global”, publicou.

Ataques ao ministro
Ao anunciar, na segunda-feira, que seguia como ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta pediu “paz” para trabalhar no enfrentamento ao coronavírus, mas ele não terá a tranquilidade que espera.

Embora tenha conquistado uma parcela dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, grupos considerados mais radicais e ligados ao guru Olavo de Carvalho intensificaram a ofensiva nas redes sociais contra ele. Na manhã de ontem, a claque que aguardava o presidente na saída do Alvorada entoou coro de “Fora, Mandetta”.

Durante a tarde, a hashtag #MandettaGenocida ficou entre as mais citadas do Twitter. Os bolsonaristas tentam emplacar a narrativa de que o ministro coloca vidas em risco por não editar um protocolo de hidroxicloroquina para tratamento do novo coronavírus no Brasil por meio de decreto. A estratégia da ala ideológica é desgastar a imagem do ministro. Para olavistas, o momento não é de trégua, mas de manter acesa a chama da fritura do chefe da Saúde, que passou a ser considerado uma “ameaça política”.

Com informações portal Correio Braziliense


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