Em entrevista com Braga Netto, Mandetta diz que precisa da participação de todos (Foto: José Dias) |
O
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, saiu da reunião com o presidente
Jair Bolsonaro, na segunda-feira, com a certeza de que seu mandato à frente da
pasta dura até o fim da crise de coronavírus, que não tem prazo para terminar.
O desgaste entre os dois chegou ao limite, mas a reação nos Três Poderes em razão
da possibilidade de demissão do médico surpreendeu até mesmo o chefe do
Executivo. A popularidade do ministro cresceu bastante nas últimas semanas, em
razão das decisões que tomou e que foram enaltecidas também por governadores e
entidades da sociedade civil. Os elogios fizeram com que ele conquistasse a
confiança dos brasileiros em meio às incertezas sobre o futuro.
Ao
longo da conversa com o presidente, Mandetta foi persuadido a mudar seu
comportamento, para se alinhar ao do chefe, que defende um relaxamento do
isolamento e o uso da cloroquina como tratamento do coronavírus, mesmo sem
estudos científicos suficientes para atestar a eficácia do medicamento, usado
contra malária, no combate à Covid-19. No entanto, o ministro ressaltou que
iria se opor a qualquer declaração que não fosse baseada em estudos sólidos e
chancelada por especialistas do setor de saúde.
Diante
do posicionamento, Mandetta saiu do encontro convencido de que a saída dele do
governo é uma questão de tempo, mas que o próprio presidente percebeu que a
manutenção dele no cargo é necessária para evitar acirramento político em meio
à crise sanitária.
Mandetta
concordou que é necessário unir integrantes do governo para combater a epidemia
e que tensões políticas só agravam o problema. Ele deixou claro que não pediria
demissão, sob hipótese alguma, mas que, se fosse exonerado, sairia sem
apresentar resistência e contribuiria com a transição do cargo.
O
general Braga Netto, ministro da Casa Civil, minimizou a situação. “A reunião
de ontem (segunda) foi rotineira de ministros. O presidente tem o direito de
convocar uma reunião, e o assunto que foi tratado lá vai ficar somente na
reunião interna dos ministros”, frisou.
O
militar afirmou que o encontro não tratou da demissão do ministro da Saúde,
embora o próprio Mandetta tenha convocado uma coletiva de imprensa, logo após o
encontro, para afirmar que fica no cargo, e destacar que seu trabalho e de sua
equipe continuaria.
Ontem,
Mandetta destacou as opiniões divergentes no governo, mas disse que a intenção
é de pacificar as relações. “Tudo o que estamos precisando agora é de união.
Tudo que estamos precisando agora é de participação de todos, de foco. É
normal, ninguém consegue, numa situação dessas, ter um olhar só de um ângulo”,
minimizou, durante coletiva.
“No
Ministério da Saúde, a gente tem dúvidas. Eu sei que nada sei, que vamos fazer
o nosso melhor. Às vezes, as pessoas têm opiniões divergentes, é normal que
tenham. Acho que é um conjunto de cabeças muito qualificado que pensam juntas
e, ontem (segunda), fez um exercício coletivo.” O ministro destacou que o foco
é nas próximas ações, e que os problemas passados serão deixado de lado, ao
menos por um tempo.
O
professor Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, afirmou que toda a tensão deixa Bolsonaro ainda mais apático no
governo. “O presidente Bolsonaro não apenas sai com menos força no episódio,
ele entrou com pouca força no episódio. É uma situação bastante peculiar que um
ministro se sobressaia em relação à liderança de um presidente e coloque o
chefe do Executivo em uma situação constrangedora dentro do próprio governo”,
destacou.
China
Preocupado
com insumos hospitalares, máscaras e respiradores para atender equipes médicas
e pacientes durante a pandemia, Mandetta ligou para o embaixador chinês Yang
Wanming e garantiu apoio do país asiático. A China se revoltou com declarações
do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que falou em “vírus chinês”
e criou uma crise diplomática, e com o ministro da Educação, Abraham Weintraub,
outro que culpou o país asiático pela pandemia. Na ligação, o ministro
ressaltou a história de amizade entre as duas nações e que o Brasil precisa da
experiência da China, que está conseguindo combater a Covid-19.
Ele
já havia sido comunicado por interlocutores que os chineses aceitariam ouvi-lo
e colaborar, mesmo sem contato direto com o presidente da República e sua
família.
“Para
fazer a aquisição na China, o mercado estava extremamente aquecido e difícil.
Hoje à tarde (ontem), fiz um diálogo por telefone com o embaixador da China, e
nós iniciaremos um trabalho conjunto, com o ministro adjunto, encarregado de
negócios, para, em cada compra, cada contrato, garantirmos o máximo de
transparência, solidez e informações a respeito”, afirmou.
Pela
internet, Wanming destacou o teor amistoso da conversa e amenizou as
divergências. “Nesta tarde (ontem), na conversa telefônica com o ministro Luiz
Henrique Mandetta, coincidimos em reforçar a cooperação bilateral,
especialmente entre os dois ministérios da Saúde, para compartilhar
experiências do combate à Covid-19 em prol do enfrentamento conjunto deste
desafio global”, publicou.
Ataques
ao ministro
Ao
anunciar, na segunda-feira, que seguia como ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta pediu “paz” para trabalhar no enfrentamento ao coronavírus, mas ele
não terá a tranquilidade que espera.
Embora
tenha conquistado uma parcela dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro,
grupos considerados mais radicais e ligados ao guru Olavo de Carvalho
intensificaram a ofensiva nas redes sociais contra ele. Na manhã de ontem, a
claque que aguardava o presidente na saída do Alvorada entoou coro de “Fora,
Mandetta”.
Durante
a tarde, a hashtag #MandettaGenocida ficou entre as mais citadas do Twitter. Os
bolsonaristas tentam emplacar a narrativa de que o ministro coloca vidas em
risco por não editar um protocolo de hidroxicloroquina para tratamento do novo
coronavírus no Brasil por meio de decreto. A estratégia da ala ideológica é
desgastar a imagem do ministro. Para olavistas, o momento não é de trégua, mas
de manter acesa a chama da fritura do chefe da Saúde, que passou a ser
considerado uma “ameaça política”.
Com
informações portal Correio Braziliense
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