Nunca
me enganei sobre o caráter do governo de Bolsonaro, nem dele próprio, um dos
mais baixos a encarnar em um ser humano.
Falei bastante sobre o abismo no qual
o País despencaria com um presidente, cujos atributos - em seus 30 anos de
Parlamento - foram ofender mulheres, fazer declarações racistas e homofóbicas e
defender a ditadura: seu principal gozo sempre foi exaltar um dos mais abjetos
torturadores, Brilhante Ustra, que levava crianças às masmorras para verem os
pais sendo torturados.
Quem
achou que um sujeito dessa qualidade poderia elevar-se a um patamar minimamente
civilizado ou foi muito ingênuo (raro em política) ou agiu de má-fé, em defesa
de seus mesquinhos interesses. Da mesma forma que fez o "sr.
Mercado", cuja religião é o lucro a qualquer preço, a ser pago pelos
explorados de sempre.
Quando
fazia esses comentários nos Debates do Povo (rádio O POVO/CBN), a pergunta de
meus interlocutores era: "Então você já está defendendo o
impeachment?". Minha resposta, com uma dose de ironia: "Não, agora é
preciso tomar o copo de veneno até o fim, como forma de aprendizado".
Mas
chegou a hora de considerar o impedimento. Bolsonaro já deu dezenas de motivos
que justificam um pedido de impeachment, e reforçou essa necessidade ao
participar do ato no domingo, pedindo um golpe militar, fechamento do Congresso
Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sob
um acesso de tosse seca, o homúnculo moral avisou que não vai "negociar
nada" (reafirmando seu desprezo ao Congresso), pois "agora é o povo
no poder". Por óbvio, o representante da suposta vontade popular seria,
ele, o candidato a ditador.
Muita
gente fala em "prudência", pois Bolsonaro seria uma espécie de
cachorro que late, mas não pode morder, pois o Parlamento e o STF estariam
cuidando de serrar-lhe os dentes. Engana-se quem pensa assim. Quanto mais
espaço ele tem para agir, mais se fortalece, ganhando tempo para que os fanáticos
se organizem em milícias, tipo uma SS tupiniquim.
Os
recuos e juras à Constituição são movimentos táticos. Bolsonaro só não golpeia
a democracia porque não tem, até agora, força suficiente. Mas o risco é grande.
É preciso frear logo a alternativa autoritária.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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