Uma grande interrogação paira sobre a
República: quem está no comando do governo Jair Bolsonaro? O presidente, dá
para perceber, não é. Ontem foi mais um dia de desencontros e batidas de
cabeça.
Bolsonaro nomeou ontem André Luiz de Almeida
Mendonça como ministro da Justiça e Segurança Pública. Ele deixou a Advocacia
Geral da União (AGU). Para o lugar dele foi José Levi Mello do Amaral Júnior.
Levi já chega com problemão para administrar.
Ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu decisão monocrática suspendendo a
posse de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. A escolha
dele já havia sido estranha, pois o diretor-geral foi escolhido antes do
ministro da Justiça e Segurança Pública, sendo que o diretor é subordinado ao
ministro.
Bem, depois da suspensão, a AGU divulgou nota
informando que não iria entrar com recurso. Edição extra do Diário Oficial da
União trouxe decreto do presidente tornando sem efeito a nomeação de Ramagem.
Traz a assinatura de Bolsonaro.
Bom, não sei se está entre os decretos que
Bolsonaro admitiu que assina sem ler. O fato é que, durante a posse de Mendonça
e Levi, o presidente afirmou que sonha que em breve poderá dar posse a Ramagem
na Polícia Federal. Mais tarde, Bolsonaro disse que a AGU vai recorrer sim. Que
é obrigação recorrer. E quem manda é ele.
Mas, vai recorrer como, se o ato foi tornado
sem efeito por decreto dele próprio? Recorrer para manter um ato que não existe
mais? A matéria perde o objeto juridicamente.
E espera aí que a coisa ainda fica melhor.
Depois da fala de Bolsonaro, jornalistas abordaram o novo advogado-geral da
União, que parecia não saber da fala de Bolsonaro. Ele reforçou que já havia
sido dito que a AGU não recorreria. Informado da fala do presidente segundo a
qual vai haver recurso sim, Levi Mello afirmou que o presidente não havia dito
isso. Mas, disse sim.
O que raios aconteceu dentro do governo?
Será que a AGU decidiu que não ia recorrer sem
avisar ao presidente? Terá decidido desistir da nomeação de Ramagem sem
consultar o autor da nomeação? Não me parece provável, mas vai saber. Lembrando
que teve o decreto do presidente tornando seu ato anterior sem efeito.
Ou será que o presidente acertou uma coisa, foi
convencido deste caminho, e depois mudou de ideia? Ou não tinha entendido o que
acertaram com ele e o que assinou? Não descarto. Seja como for, é uma zorra.
Saúde muda para não mudar
Mas senta aí que tem mais. Tem a outra crise do
governo. Existe uma pandemia no planeta. O ministro da Saúde, Nelson Teich,
participou de reunião com senadores e afirmou que o ministério nunca orientou o
fim do distanciamento social.
"O Ministério da Saúde nunca mudou a
orientação original de manter o distanciamento. Essa orientação vem sendo
mantida e onde a gente está vendo uma alteração em relação a isso é uma decisão
dos governadores. Isso não é uma decisão nossa. Nossa orientação desde o começo
é o distanciamento", disse Teich.
Já o presidente defende dia a noite o fim do
isolamento, disse ontem que quem decide sobre as restrições são prefeitos e
governadores, que não joguem as mortes no colo dele. Sendo que o ministério
dele orienta a manter o isolamento.
O presidente trocou o ministro da Saúde no meio
da pandemia por discordar da orientação. O novo ministro afirma enfaticamente
que a orientação não mudou. Então, por que Luiz Henrique Mandetta foi demitido?
Você pode achar que o governo está certo ou
está errado, mas há de convir que é bagunçado.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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