O
presidente Jair Bolsonaro foi eleito com o discurso da “nova política”. Entre
outras, disse que não faria o “toma lá, dá cá”, tradicional negociação de
cargos entre governo e Congresso, criticada pela população. Há quase um ano e
meio no cargo, não se acertou com os parlamentares e, atualmente, trabalha sem base
sólida e depende dos presidentes da Câmara e do Senado para aprovar pautas do
Executivo, sobretudo em meio à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus.
Agora, se deu conta de que precisa de suporte no parlamento para manter a
governabilidade. Dessa forma, decidiu ir contra uma das bandeiras que o levou
ao Palácio do Planalto e se aproximou de lideranças do Centrão para oferecer
cargos.
Apesar de ter dito a manifestantes no último domingo (10/04) que "não negocia nada", desde
o início do mês, Bolsonaro tem conversado com políticos como o senador e
presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), e o deputado federal e
presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP). O chefe do Executivo
ainda recebeu no seu gabinete os deputados Arthur Lira (PP-AL), Diego Andrade
(PSD-MG), Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) e Wellington Roberto (PL-PB), que
ocupam cargos de liderança dos seus respectivos partidos na Câmara, legendas
constantemente envolvidas em corrupção.
Pela
primeira vez desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro se vê
contra a parede. A popularidade baixou em meio à pandemia da Covid-19, visto
que boa parte dos brasileiros tem reprovado as ações dele para o combate à
doença, e o país já enxerga no horizonte uma crise socioeconômica sem
precedentes, que acabará caindo no colo do presidente. Diante da realidade, o
chefe do Planalto precisa de um “kit de sobrevivência”, caso queira proteger o
seu mandato de maiores complicações políticas, e pode ter encontrado no
presidencialismo de coalizão a saída tanto para tentar garantir o mínimo de
diálogo com o Congresso quanto para se resguardar de um impeachment, visto que
há 23 pedidos na Câmara para o seu afastamento. As solicitações aguardam
análise.
Por
mais que o presidente tenha dito nas manifestações antidemocráticas do domingo
que não queria “negociar nada” e que “acabou a época da patifaria” no Brasil,
as reuniões com os políticos centristas tiveram como foco o oferecimento de
cargos em estatais e instituições de âmbito federal. Abriu-se a possibilidade,
por exemplo, para que o PP assuma o comando do Fundo Nacional de
Desenvolvimento para Educação (FNDE) e do Departamento Nacional de Obras Contra
as Secas (Dnocs).
O
governo ainda estaria disposto a entregar a Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
ao PSD; a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf) e a Secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento
Regional, ao Republicanos; e o Banco do Nordeste e a Secretaria de Vigilância
em Saúde, ao PL.
Contudo,
para a estratégia funcionar e Bolsonaro receber o tão importante apoio do
Congresso, terá de garantir muito mais do que postos de liderança. Os partidos
querem estar convictos de que o presidente não vai mais tumultuar o ambiente
político, como tem feito. Para as legendas, é mais importante o comandante do
Planalto mostrar, de fato, o empenho em fazer com que a parceria dê certo e
garantir que, lá na frente, não vai retirar os poderes entregues às siglas.
“É
fundamental, neste momento, que ele (Bolsonaro) queira se aproximar do
Congresso. Não existe nada que queira fazer hoje que não precise passar pela
aprovação do parlamento. Então, ele precisa de uma base mínima no Congresso
para poder governar. Está corretíssimo (em conversar com os partidos)”,
comentou o senador Ciro Nogueira. “Muito do que ele defende são bandeiras
históricas do nosso partido. Portanto, temos uma identificação grande de
projetos para o país e precisamos estar alinhados politicamente ao governo.”
Apesar
de condenar o que chama de “velha política”, ao se submeter a essa forma de
negociação, Bolsonaro se cola à imagem de antigos caciques partidários. No PSD,
ele encontra a figura de Gilberto Kassab, presidente nacional da sigla e
atualmente licenciado do posto de secretário-chefe da Casa Civil de São Paulo —
os dois, inclusive, se encontraram no Planalto, na última quarta-feira. Já no
PL, encontra o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, presidente nacional do
partido.
Mesmo
não tendo negociado nenhum posto diretamente com o PTB, legenda presidida por
Roberto Jefferson, que detonou o mensalão, Bolsonaro se agarrou ao partido por
seguir a tese formulada pelo ex-deputado federal de que há um plano formulado
pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o auxílio do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; do governador de São Paulo, João Doria
(PSDB); do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC); e do presidente
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, para retirá-lo do
poder. Há dois dias, Bolsonaro fez questão de compartilhar uma live em que
Jefferson explica o “golpe” que estaria sendo arquitetado por Maia.
Por
mais que esteja indo na contramão do que defendia nas eleições de 2018 e vendo
a sua reputação ligada à de políticos condenados por crimes como corrupção e
improbidade administrativa, Bolsonaro parece disposto a correr esse risco,
principalmente por ter percebido aí um mecanismo de proteção, no qual é
possível colocar no primeiro plano das atenções a “estratégia” do seu
afastamento que estaria sendo orquestrada por outros agentes públicos.
“O
Ciro Nogueira tem uma boa articulação no Congresso, e o Valdemar Costa Neto é
presidente de um dos maiores partidos do centro. O Roberto Jefferson, por sua
vez, monta um cenário favorável ao presidente quando fala sobre o Maia, pois
mantém a base aliada de Bolsonaro com o olhar em outro lugar, enquanto ele
partilha a sua gestão”, analisou o cientista político Enrico Ribeiro,
coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e
Governamentais.
Segundo
o especialista, Bolsonaro sabia que, em algum momento, seria cobrado e
pressionado pelo Centrão. “A hora, agora, chegou, e ele vai precisar desse
pessoal. É uma questão de sobrevivência. Ele vai precisar pelo menos tentar
iniciar uma conversa para evitar que sofra impeachment ou que fique, pelos
próximos dois anos e meio, sem capacidade nenhuma de governar e com
popularidade muito baixa”, explicou.
Com
informações portal Correio Braziliense
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.