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18 de abril de 2020

A única certeza é a incerteza por Érico Firmo


A Covid-19 é uma doença nova e muita coisa sobre ela ainda não se sabe. Estudos seguem em curso e prosseguirão por muitos anos. O comportamento que terá no Brasil, com as condições sociais e climáticas, ainda é incerto. O agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta repetia que o vírus estava escrevendo a história dele no Brasil. 

Muitas projeções são feitas, cenários são traçados por técnicos extremamente qualificados. Tentativas de se antecipar e amenizar os impactos. Mas, a verdade é que ninguém sabe o que irá acontecer. Muito grave ela já é. Quão grave poderá ser é impossível ter certeza.

O presidente Jair Bolsonaro tomou uma das decisões mais arriscadas nesta pandemia entre os grandes países do mundo. Trocou aquele que estava conduzindo o combate ao novo coronavírus no momento em que o número de casos dispara. Bolsonaro não tinha certeza. E é justo com ele dizer que é impossível ter certeza neste momento. 

A consciência da dúvida é um bom sinal. Porque muitas vezes as pessoas estão convictas - e erram convencidas de que estavam certas. Mas, consciente de que pode estar errado, ele tomou uma decisão que pode ser muito custosa.

A expressão de nervosismo no dia do anúncio da troca de ministro deixou explícito que Bolsonaro não tinha convicção. Suas palavras também mostraram isso. "Pior que uma decisão mal tomada é a indecisão. Jamais pecarei por omissão. Essa será minha linha de atuação", falou na quinta-feira. A frase é de quem tem ciência de que pode estar errado. A lógica é estranha. Parece-me, sim, preferível hesitar a entrar de cabeça no equívoco.

Ontem, o presidente foi mais longe e mais explícito quanto à consciência do possível equívoco. "Abrir o comércio é um risco que eu corro. Se agravar, vai cair no meu colo".

Bolsonaro está repleto de dúvidas quanto ao caminho que escolhe. Qualquer caminho embutiria interrogações. Nenhum daria certeza. Mas, se você tivesse de fazer uma escolha tão extrema, não qual milhares de vidas estão envolvidas, o que você faria? Se tivesse pela frente um caminho em grande parte desconhecido, repleto de interrogações, você decidiria pela cautela ou pelo perigo? Seguiria o que dizem os especialistas ou tentaria inovar? Você faria a opção que poderá representar a morte de mais pessoas?

Porque não é verdade quando Bolsonaro afirma que é um risco que ele corre. O perigo não é para ele. Ele está colocando em jogo a popularidade, que já não anda esses balaios. No máximo arrisca o mandato. Mas, ele está adotando um caminho cuja ameaça será para a população brasileira. Ela que pode pagar a fatura mais pesada. O presidente corre risco com a vida alheia.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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