Nunca
tive dúvida da incapacidade de Jair Bolsonaro para comandar o país. Nunca. Um
político que passa mais de duas décadas exercendo o mandato de um legislador
sem nada de importante ter apresentado que beneficie a população,
principalmente aquelas a margem, não poderia e nem pode ser um bom presidente.
Mas
a ausência de projeto de importância e que mexa na estrutura da sociedade
durante seus 27 anos como deputado federal não era o único fator que me impedia
de creditar a ele a confiança de exercer o cargo de presidente da república.
Não. Isso era irrisório, visto que todo e qualquer político partidário pode
apresentar ideias e projetos de impactos sociais e ainda assim não terem o aval
da Câmara para serem aprovados. O que não é, nem de longe, o caso de Bolsonaro.
O caso dele foi de improdutividade mesmo.
A
minha rejeição a Bolsonaro foi e vai muito além. É questão humanitária. “Mas
você só fala isso porque é de esquerda”, dizem alguns. Não. Mil vezes não.
Embora ideologicamente – mesmo sem ser vinculado a nenhum partido político – me
considere de esquerda. Mas defender que todxs sejam tratatxs igualmente e
tenham as mesmas oportunidades não é uma exclusividade da esquerda. Ao menos
não deveria ser. Toda e qualquer pessoa que possua o mínimo de gosto pelo seu
semelhante deveria o ter recusado. Bolsonaro é o típico de político partidário
que pensa que ainda pode governar na base do grito, do silenciamento da
imprensa como em tempos não tão distantes assim.
Não
tinha nenhuma dúvida de que se ele chegasse ao poder (como de fato chegou,
mesmo tendo enorme dificuldade em entender como isso aconteceu) iria procurar
governar para a elite econômica e que iria na primeira oportunidade destruir
tudo aquilo – mesmo sendo pouco e paliativo -, que contribuiu para dar um pouco
de dignidade aos mais necessitados desse país. Não tinha nenhuma dúvida que era
despreparado e, não falo aqui de grau de estudo. Sabia que era contrário as
políticas afirmativas; sabia que era machista; sabia que era racista; sabia que
era homofóbico e, portanto, intolerante. E essas são razões suficientes para
não ter votado nele e deveria ser também para as 57,7 milhões de pessoas que
foram as urnas digitar o 17.
Não
me convenceu e ainda tenho sérias dificuldades de acreditar que todas essas
pessoas votaram nele por um ódio delirante e em muitos casos irracional do PT,
do Lula que, já fiz questão de dizer tenho grandes críticas aos 13 anos que o
partido esteve no comando do país. Cito aqui o fato de não terem taxado as
grandes fortunas; não terem promovido a regulação da mídia; não terem tido
outros projetos de geração de renda além do Bolsa Família e terem se aliado com
o que tem de pior no quadro político para chegar e se manter no poder. Quando
rejeitou esse último item nos últimos anos o resultado foi o que já se conhece,
o impeachment. Mas isso é para que o texto não fique muito longo. Tem mais.
Mas
voltando ao que iniciei no parágrafo anterior. Grande parte das pessoas que
votaram no Bolsonaro não tinha como razão única o ódio ao PT, o ódio ao Lula.
De forma alguma. Muitas é porque se viram nele. Basta ver o que disseram e
escreveram durante a campanha eleitoral e muitos ainda continuam a dizer e
escrever. Nossa sociedade foi construída sob o alicerce do racismo, do
machismo, da homofobia, da misoginia, da falsa meritocracia e do elitismo
escroto. E isso explica muita coisa, a começar pela vitória do Bolsonaro.
Com
a sua vitória e logo na sequência com sua posse a bandeira do impeachment
começou a ser sondada. Mas o que ele teria cometido para sofrer impeachment?
Perguntam alguns. Há razões jurídicas para isso? Indagam outros. Sim.
A
começar pela declaração de que ele teria provas de que houve fraudes no
processo eleitoral de 2018. Isso é muito grave, principalmente vindo do
presidente. Se comprovado, ou tinha que anular as eleições ou fazer o seu
impeachment. Mas há ainda o fato de que no exercício do mandato ele incita as
pessoas a irem contra os outros dois poderes constituídos (legislativo e
judiciário). Isso é um atentado à democracia. É uma ação autoritária. Se
configura, portanto, como crime de responsabilidade.
Por
fim, para não cansar vocês, cito o caso estarrecedor de que ele a todo momento
pede o fim do isolamento social. Única medida eficiente (até agora) no combate
a Covid -19 recomendada pelas principais autoridades da saúde, inclusive pelo
seu ministro. A atitude dele como a que foi mostrada no último dia 15 em que se
aproximou de manifestantes nos protestos e uma atitude irresponsável. Some-se a
isso o discurso genocida dado em rede nacional no dia 24 do mês em curso em que
atacou governadores e imprensa. Foi um discurso orientador de suicídio
coletivo. Uma lástima.
Mas
há quem diga que se está politizando os fatos e que esse não é o momento para
pedir o Fora Bolsonaro. Em primeiro lugar tudo, absolutamente tudo é política e
regido por ela. Não se pode separar o caso do Coronavirus, por exemplo, da
política, visto que se está falando de saúde pública. E é função do governante
e da governante fazer tudo para melhorá-la. O momento exige muita
responsabilidade e é tudo nesse momento que está faltando ao presidente quando
prefere a economia, os empresários (inclusive religiosos) a vida humana.
Por
tanto, toda hora é hora de ficar ao lado da saúde, da educação, da cultura....
Toda hora é hora. Se não pode nesse momento votar a saída do presidente em
virtude da concentração de forças para derrotar a Covid -19, é no mínimo
decente pauta-la.
Publicado
originalmente no Blog Negro Nicolau
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