O presidente defendeu a reabertura de escolas, o fim do confinamento e criticou governadores (Foto: Reprodução/YouTube) |
Em
rede nacional, ontem (24/03) o
presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento que vai contra as medidas
determinadas pelo Ministério da Saúde, semelhantes, inclusive, às adotadas em
diversos países, no combate à Covid-19. Ele defendeu a reabertura de escolas e
o fim do confinamento, criticou governadores e ainda acusou a mídia de causar
“histeria” com a doença.
“O
vírus chegou. Está sendo enfrentado por nós, e brevemente passará. Nossa vida
tem de continuar. Empregos devem ser mantidos, o sustento da família deve ser
preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade”, afirmou.
“Algumas poucas
autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra
arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento
em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que um grupo de risco é o das
pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?”
O
chefe do Executivo disse que são “raros” os casos fatais de pessoas saudáveis
com menos de 40 anos. “Noventa por cento de nós não teremos qualquer
manifestação caso se contamine. Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não
transmitir o vírus para os outros. Em especial, aos nossos queridos pais e
avós, respeitando as orientações do Ministério da Saúde”, disse.
Bolsonaro
voltou a minimizar o coronavírus ao falar de si mesmo. “Pelo meu histórico de
atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada
sentiria ou teria. Quando muito, seria acometido por uma gripezinha ou um resfriadinho,
como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão”, emendou,
numa referência a Drauzio Varella.
O
comandante do Planalto atacou novamente a mídia por, segundo ele, causar
histeria ao noticiar a situação da epidemia na Itália. “Grande parte dos meios
de comunicação foram na contramão e espalharam exatamente a sensação de pavor,
tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália, um país
com grande número de idosos e com o clima totalmente diferente do nosso. O
cenário perfeito potencializado pela mídia para que uma verdadeira histeria se
espalhasse no país”, acusou.
“Contudo,
percebe-se que, de ontem para hoje, parte da imprensa mudou seu editorial, pede
calma e tranquilidade. Isso é muito bom. Parabéns, imprensa brasileira. É
essencial que o equilíbrio e a verdade prevaleçam entre nós”, disparou.
Repercussão
Pouco
depois do discurso de Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), divulgou nota criticando o posicionamento do chefe da nação.
“Neste
momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e
comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a
posição externada pelo presidente da República hoje (ontem), em cadeia
nacional, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19. Posição que está na
contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria
Organização Mundial da Saúde (OMS)”, diz o comunicado.
“Reafirmamos
e insistimos: não é momento de ataque à imprensa e a outros gestores públicos.
É momento de união, de serenidade e equilíbrio, de ouvir os técnicos e
profissionais da área para que sejam adotadas as precauções e cautelas
necessárias para o controle da situação, antes que seja tarde demais.”
Alcolumbre
destacou que “a nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca,
transparência, seriedade e responsabilidade”. “O Congresso continuará atuante e
atento para colaborar no que for necessário para a superação desta crise”,
emendou o presidente do Senado, que cumpre quarentena após ter testado positivo
para a doença.
Em
redes sociais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), escreveu: “Desde
o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O
pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os
governadores e especialistas em saúde pública. Cabe aos brasileiros seguirem as
normas determinadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde em respeito aos idosos
e a todos que estão em grupo de risco”.
O
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, usou o
Twitter para condenar o discurso. “Entre a ignorância e a ciência, não hesite.
Não quebre a quarentena por conta deste que será reconhecido como um dos
pronunciamentos políticos mais desonestos da história.”
Também
num tuíte, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, afirmou: “A
pandemia do #covid19 exige solidariedade e co-responsabilidade. A experiência
internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser
rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam,
não sustentam o luxo da insensatez. #FiqueEmCasa”.
Com
informações portal Correio Braziliense
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