A
urgência por ações que possam fazer frente à proliferação do novo coronavírus
pelo país agravou o desentendimento político entre o presidente Jair Bolsonaro
e governadores.
Insatisfeitos com a atuação do Palácio do Planalto diante da
crise, e ante à iminência de um colapso, principalmente na rede pública de
saúde, por conta da Covid-19, estados têm se antecipado ao Executivo federal e
agido por conta própria para tentar combater a expansão da doença. Mas não só
isso. Governadores cobram mais celeridade do presidente da República, que, por
sua vez, reclama dos chefes estaduais por adotarem “medidas extremas que não
competem a eles”.
Ontem (21/03),
ao menos três governadores subiram o tom contra Bolsonaro. No Distrito Federal,
Ibaneis Rocha (MDB), que decretou a suspensão das aulas e restringiu o
funcionamento de parte do comércio como medida de precaução contra a
disseminação do vírus, defendeu a atuação dos estados. “O que está em risco é a
saúde da coletividade, e os exemplos mundiais, infelizmente, demonstraram que
qualquer lapso de ação pode levar ao desastre”, respondeu.
O
governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também se manifestou. Após decretar
situação de calamidade pública no estado, frisou que “estamos fazendo o que
deveria ser feito pelo líder do país, o que o presidente Jair Bolsonaro, lamentavelmente,
não faz, e quando faz, faz errado”. “Estamos fazendo o que ele (Bolsonaro) não
faz, que é liderar processos, liderar a luta contra o coronavírus, não
minimizar processos. Compreender a importância do respaldo da informação
científica e da área da medicina e estabelecer diálogo e entendimento com
prefeitos e governadores”, atacou.
Mas
é o governador Wilson Witzel (RJ) o principal responsável pelo embate com
Bolsonaro. Em uma das decisões mais extremas já tomadas no país desde a
explosão de casos de Covid-19, ele publicou um decreto que pede o isolamento da
cidade do Rio de Janeiro para transportes de passageiros, tanto por meios
terrestres quanto aéreos. A medida, que depende de aval de agências reguladoras
para entrar em vigor, também quer suspender voos internacionais e voos
nacionais que saiam de estados com ocorrências de pessoas infectadas pelo
coronavírus.
“São
os nossos hospitais que serão impactados, e o governo federal ainda em passo de
tartaruga. Só fiz o decreto para que o governo tome ciência das medidas e, de
uma vez por todas, acorde. É preciso olhar para o Brasil como um todo e parar
com essa atitude antidemocrática, conversar com os governadores. Porque o que
vai acontecer daqui pra frente, definitivamente, depende muito do que o governo
federal precisa fazer”, afirmou o governador do Rio de Janeiro.
No
fogo cruzado de críticas, Bolsonaro defendeu a soberania do Executivo federal.
Ele não concordou com as medidas que restringem a circulação de pessoas dentro
dos estados e, principalmente, com o fechamento de divisas entre unidades da
Federação. “Estão tomando medidas, no meu entender, exageradas. O pânico piora
a situação do Brasil. Tenho que falar a verdade e transmitir tranquilidade ao
povo brasileiro. Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas.
Não compete a eles fechar aeroporto, fechar rodovias. O comércio para, e o
pessoal não tem o que comer. O vírus, em alguns casos, mata. O vírus mata,
sim”, ponderou.
Conflito
O
presidente ainda direcionou-se especificamente para Witzel, e disse que “só
falta ele declarar independência” do Rio de Janeiro. “Temos que tomar medidas
equilibradas. E cada vez mais levam pânico. Fecharam o aeroporto do Rio de
Janeiro. Não compete a ele, meu Deus do céu! Confesso, fiquei preocupado.
Parece que o Rio de Janeiro é um outro país. Não é outro país. Você tem uma
federação”, alertou Bolsonaro.
O
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reforçou o argumento do presidente.
Comentou que as “decisões de interromper ou fechar fronteira são muito fáceis
de serem feitas”, mas lembrou que “elas precisam ser muito precisas, muito
pensadas e muito organizadas”. “Ainda há tempo de as pessoas pensarem nas
consequências desses atos. No nível federal, nós estamos pensando e tomando com
todo cuidado”, garantiu.
Mandetta
ainda declarou que é hora de “os brasileiros entenderem o seguinte: nós estamos
dentro do mesmo barco”. “A fronteira interestadual foi uma mera convenção que
nós fizemos. Nós vamos ter que nos atender mutuamente. A regionalidade, para nós,
é um mero desenho administrativo para que a gente possa conduzir esse país
dentro de uma lógica, agora, de unidade nacional, e não dentro de uma lógica
fragmentada que pode interromper cadeias de abastecimento que nos são muito
preciosas”, destacou o ministro.
Com
informações portal Correio Braziliense
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