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29 de março de 2020

O presidente precisa ser controlado por Gualter George

Impressiona que, até hoje, tenha partido do presidente Bolsonaro o esforço maior de desviar a discussão sobre a crise do Coronavírus para o seu pior viés, que é o político e, com especialidade, o ideológico.

Um governo normal, de gente normal, optaria, pelo seu próprio interesse, por manter qualquer tipo de desvio à distância máxima de uma crise real que mal administrada pode matar em massa, como tem acontecido em vários países, independente da capacidade que tem cada um de dar as melhores respostas econômicas ao desafio.

Infelizmente, no caso brasileiro, cada declaração, cada entrevista, cada manifestação pública do Presidente sobre o tema termina, invariavelmente, com críticas e ataques a governadores, prefeitos e outros agentes públicos mobilizados no trabalho estressante que há sido desenvolvido para deixar o País mais preparado para o pior diante da crise, que ainda está por vir.

É constrangedor, por exemplo, o exercício diário a que se entregam técnicos do próprio governo para absorverem calados a contradição que o chefe da turma cria com suas atrapalhadas falas sobre o assunto, em conflito absoluto com as orientações feitas à população pelo seu Ministério da Saúde.

Bolsonaro tem-se demonstrado um incapaz, não há outro termo que consiga resumir melhor o que ele tem feito como ocupante do cargo político mais importante do País.

Entendo que a democracia, com suas maravilhas e imperfeições, exige de nós que o aceitemos no papel em que está hoje e encontremos uma forma de convivência, porque venceu uma disputa legítima da qual participou, mas ela também permite que esperemos de outras instituições uma maior eficiência no controle dos limites que ele precisa respeitar.

Ao presidente da República está dado um poder expressivo, o que não inclui o direito de colocar sempre à frente os seus interesses políticos menores, ideológicos não raro, muito mais quando sua ação resulta no risco às vidas de pessoas pelas quais deveria zelar.

Há ações pontuais do Congresso e Judiciário no sentido de conter os excessos de Bolsonaro, mesmo que o nosso sistema de freios e contrapesos, na atual estrutura institucional e legal que o forma, já permita que se faça muito mais. Bolsonaro pode muito, mas não pode tudo.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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