Bolsonaro e filhos gravando vídeo para as redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook) |
Interessado
em montar uma barreira sanitária contra o novo coronavírus no aeroporto de
Fortaleza, o governo Camilo Santana (PT) foi obrigado a levar o caso à Justiça
Federal no último fim de semana. Isso porque, embora não esteja tomando
providências necessárias neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) tentava impedir que o governo cearense fizesse o
monitoramento e inspeção de passageiros que desembarcam no Estado. Ou seja:
mesmo com a pandemia escalando todo dia, o órgão federal não fazia e nem queria
deixar que os outros fizessem.
O
episódio apenas ilustra o que vem sendo a postura do governo Jair Bolsonaro
durante toda crise da Covid-19 até agora. Desde o surgimento dos primeiros
casos confirmados no Brasil, o presidente e seu núcleo mais próximo têm agido
com atenção máxima apenas aos possíveis efeitos políticos da doença,
minimizando vidas em risco - como quando diz que a Covid-19, que já matou mais
de 5,5 mil na rica Itália, de "gripezinha" - e beirando a
irresponsabilidade em vários momentos - como quando convocou manifestantes para
atos em meio à pandemia.
A
necessidade de transformar absolutamente tudo em fla-flu político é tanta que
até a nova doença acabou entrando no espectro político, como se admitir a
gravidade da situação e pregar reações enérgicas contra um vírus potencialmente
letal fosse "coisa de esquerda". Diante disso, se destacam episódios
como o da entrevista onde o presidente criticou medidas de quarentena tomadas
por governadores - citando por nome, é claro, João Doria (SP) e Wilson Witzel
(RJ), dois de seus principais adversários políticos -, mais uma vez não só
deixando de auxiliar os gestores preocupados, como efetivamente agindo para
impedir o trabalho deles.
O
mais curioso nessa estratégia de Bolsonaro é tentar entender onde o presidente
quer chegar com tamanho negacionismo. Conforme o próprio Ministério da Saúde
afirma, as perspectivas para o País diante da pandemia não são nada boas e o
cenário mais provável é de um colapso total do sistema de saúde ainda no
próximo mês. Não parece muito inteligente, portanto, apostar fichas contra um
cenário posto que é real, vai matar muita gente e não pode ser "varrido
para debaixo do tapete" com discussões fúteis sobre "esquerda e
direita".
A
impressão é que, assim como em quase todas as decisões tomadas por Bolsonaro, o
que é prioridade é manter o clima de campanha, minimizar estragos à imagem
pessoal do presidente e conseguir arrumar linhas discursivas que empurrem a
culpa para os seus adversários. Difícil vai ser convencer muita gente de que é
tudo uma "histeria" no momento em que os hospitais estiverem
totalmente caóticos e o número de mortos em crescimento.
Afinal
de contas, que tipo de lógica maluca tem que ter alguém para imaginar que uma
doença que derrubou a Itália de joelhos (e agora está derrubando a Espanha
também) vai chegar ao Brasil como um problema pequeno?
Ao
longo da última semana, muito se falou sobre a condução séria e totalmente
técnica do ministro Henrique Mandetta (Saúde) sobre a crise do coronavírus no
País. Por isso, chamou a atenção postura do ministro em coletiva de imprensa
tocada pelo governo na última sexta-feira, 20, onde Mandetta fez uma série de
elogios a Bolsonaro e chegou a chamá-lo de "timoneiro do nosso
barco".
Soou
forçado, como se o próprio presidente tivesse pressionado o ministro a levantar
sua bola durante a crise. Ainda mais quando a maior parte das falas do Planalto
vêm no sentido oposto ao que prega o Ministério da Saúde. Pois veja a situação:
diante de uma pandemia com potencial de afetar milhões e arrasar economicamente
o País, a preocupação do presidente segue sendo a de evitar sair mal na fita.
Diante
disso tudo, uma coisa parece óbvia: é melhor que Bolsonaro ou comece a levar a
crise a sério, ou que deixe o caminho livre para aqueles que a enxergam de tal
forma. É como diz o chavão: Muito ajuda quem não atrapalha.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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