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11 de março de 2020

Bolsonaro está errado mesmo que tenha prova por Érico Firmo


Vamos supor que seja verdade que houve fraude na eleição do presidente Jair Bolsonaro e que ele tem provas disso. Bolsonaro não mostrou uma parca evidência que seja e, quando foi questionado sobre o assunto, nesta terça-feira, irritou-se e encerrou a entrevista. Mas, vá lá que ele tenha provas e tenha como comprovar a fraude. Ainda assim, Bolsonaro agiu errado e muito errado.

Caso o presidente tenha comprovação de fraude na eleição presidencial de 2018, ele deveria ir à Justiça, ao Ministério Público, apresentar o que tem, depois ir a público e apresentar as provas com riqueza de detalhes. Quando Bolsonaro diz que a eleição presidencial foi fraudada, ele aponta a fragilidade de um pilar da democracia brasileira. Não é coisa que se lance ao vento. 

Jamais ele poderia dizer isso sem, no mesmo instante, apresentar comprovação cabal. Precisaria provar imediatamente, e muito bem provado. Não é coisa que se faça em território estrangeiro, inclusive. A acusação cria instabilidade no País que o presidente tenta governar.

"Eu acredito que, pelas provas que tenho e que vou mostrar brevemente, fui eleito em primeiro turno. No meu entender, houve fraude", foi a fala de Bolsonaro. Ora, "eu acredito" e "no meu entender" é uma pinoia. Não se pode tratar assunto tão sério com base no "eu acredito".

Para tirar de Bolsonaro a vitória no 1º turno de 2018, teriam de ser retirados dele 4.248.347 votos. Seria algo sem precedentes na história do Brasil. Provavelmente a maior fraude da história da democracia no mundo.

Nem vou me deter a essa altura na discussão sobre se é verdade ou não o que diz Bolsonaro. Ele agiu de forma leviana e irresponsável ao tratar as eventuais provas que tenha sobre crime tão descomunal. Não se deu conta da responsabilidade que envolve o cargo que ocupa.

Como Bolsonaro reagirá se perder?
Após quase um ano e meio, Bolsonaro diz que foi alvo de fraude na eleição que venceu. É de se indagar como reagiria se perdesse. Aceitaria o resultado?

Aliás, mais importante: ele aceitará uma eventual derrota na tentativa de reeleição em 2022? Sim, porque um dos fundamentos da democracia é os participantes do processo reconhecerem a legitimidade dos mecanismos de escolha. Por isso o rito, tantas vezes descumprido, de o derrotado cumprimentar o vencedor é tão importante. Não é uma deferência ao eleito. É sinal de respeito ao eleitor a quem pediu o voto e que acabou escolhendo outra pessoa. É sinal de respeito à própria democracia.

Na eleição de 2022, haverá uma crise se houver qualquer resultado que não for a reeleição de Bolsonaro?

Se a denúncia fosse um pouco diferente?
A você que eventualmente esteja me lendo indignado e discordando de cada linha, faço a pergunta: como você reagiria se fosse Fernando Haddad (PT) dizendo que a eleição foi fraudada para dar vitória a Bolsonaro? E dissesse isso sem apresentar prova alguma? Que tipo de crédito você acha que semelhante frase mereceria?

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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