Vamos
supor que seja verdade que houve fraude na eleição do presidente Jair Bolsonaro
e que ele tem provas disso. Bolsonaro não mostrou uma parca evidência que seja
e, quando foi questionado sobre o assunto, nesta terça-feira, irritou-se e
encerrou a entrevista. Mas, vá lá que ele tenha provas e tenha como comprovar a
fraude. Ainda assim, Bolsonaro agiu errado e muito errado.
Caso
o presidente tenha comprovação de fraude na eleição presidencial de 2018, ele
deveria ir à Justiça, ao Ministério Público, apresentar o que tem, depois ir a
público e apresentar as provas com riqueza de detalhes. Quando Bolsonaro diz
que a eleição presidencial foi fraudada, ele aponta a fragilidade de um pilar
da democracia brasileira. Não é coisa que se lance ao vento.
Jamais ele poderia
dizer isso sem, no mesmo instante, apresentar comprovação cabal. Precisaria
provar imediatamente, e muito bem provado. Não é coisa que se faça em
território estrangeiro, inclusive. A acusação cria instabilidade no País que o
presidente tenta governar.
"Eu
acredito que, pelas provas que tenho e que vou mostrar brevemente, fui eleito
em primeiro turno. No meu entender, houve fraude", foi a fala de
Bolsonaro. Ora, "eu acredito" e "no meu entender" é uma
pinoia. Não se pode tratar assunto tão sério com base no "eu
acredito".
Para
tirar de Bolsonaro a vitória no 1º turno de 2018, teriam de ser retirados dele
4.248.347 votos. Seria algo sem precedentes na história do Brasil.
Provavelmente a maior fraude da história da democracia no mundo.
Nem
vou me deter a essa altura na discussão sobre se é verdade ou não o que diz
Bolsonaro. Ele agiu de forma leviana e irresponsável ao tratar as eventuais
provas que tenha sobre crime tão descomunal. Não se deu conta da
responsabilidade que envolve o cargo que ocupa.
Como
Bolsonaro reagirá se perder?
Após
quase um ano e meio, Bolsonaro diz que foi alvo de fraude na eleição que
venceu. É de se indagar como reagiria se perdesse. Aceitaria o resultado?
Aliás,
mais importante: ele aceitará uma eventual derrota na tentativa de reeleição em
2022? Sim, porque um dos fundamentos da democracia é os participantes do
processo reconhecerem a legitimidade dos mecanismos de escolha. Por isso o
rito, tantas vezes descumprido, de o derrotado cumprimentar o vencedor é tão
importante. Não é uma deferência ao eleito. É sinal de respeito ao eleitor a
quem pediu o voto e que acabou escolhendo outra pessoa. É sinal de respeito à
própria democracia.
Na
eleição de 2022, haverá uma crise se houver qualquer resultado que não for a
reeleição de Bolsonaro?
Se
a denúncia fosse um
pouco diferente?
A
você que eventualmente esteja me lendo indignado e discordando de cada linha,
faço a pergunta: como você reagiria se fosse Fernando Haddad (PT) dizendo que a
eleição foi fraudada para dar vitória a Bolsonaro? E dissesse isso sem
apresentar prova alguma? Que tipo de crédito você acha que semelhante frase
mereceria?
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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